Basta percorrer algumas das ruas onde Alessandra Dellatorre, 29 anos, desapareceu para perceber a comoção que o sumiço vem causando entre os moradores de São Leopoldo. Ao longo do caminho, foram espalhados cartazes com foto e informações da advogada, assim como nas quadras perto da casa onde a jovem mora.
Nos últimos dias, tanto forças de segurança quanto familiares de Alessandra filtram mensagens que chegam, indicando possíveis locais onde ela estaria. Desde o último sábado (16), no entanto, não há pistas sobre o que aconteceu com a advogada e seu paradeiro. Conforme pessoas próximas, a caminhada é atividade frequente para Alessandra. Naquela tarde, ela vestiu um moletom preto e calça da mesma cor, deixou celular e documentos em casa, e saiu.
Familiares acreditam que a jovem esteja viva, andando desorientada por ruas de municípios do Vale do Sinos. Segundo a mãe, Ivete Dellatorre, a advogada é acostumada a percorrer distâncias a pé, e a família teme que ela, ainda que seja vista, possa seguir caminhando e "se afastar rapidamente" de testemunhas que a encontrem. Em um vídeo divulgado nesta sexta-feira (22), a família agradeceu autoridades e pessoas que estão compartilhando o caso e pediu ajuda para localizar a filha.
Também nesta sexta, GZH percorreu parte do caminho feito pela jovem antes de desaparecer naquele sábado (16). Câmeras de segurança registraram parte do trajeto (assista acima). Alessandra saiu de casa no começo da tarde, por volta das 14h30min. Logo no início da caminhada, fez um contorno na quadra em frente a sua residência e passou pela Rua Padre Pedro Schneider, onde foi flagrada por uma câmera.
Algumas quadras depois, entrou na Avenida Unisinos, onde caminhou pelo gramado do canteiro central. Ao passar em frente a uma pizzaria, foi novamente gravada por câmeras. À direita, entrou na Avenida Theodomiro Porto da Fonseca, em uma área conhecida como Matão, no limite entre São Leopoldo e Sapucaia do Sul. O espaço, entre árvores altas, costuma ser usado para caminhadas, corridas e trilhas de bicicleta.
Um morador, que vive desde 2019 em uma cabana montada pouco depois da entrada desse local, afirmou ter visto Alessandra naquela tarde.
— Ela me olhou, disse: "Oi". Estava calma. Aí passou mais para cima, dentro da mata. Achei estranho. Dei uns minutos e fui ver se estava por ali, mas não a vi mais — contou o homem, que teve o depoimento colhido por equipes da polícia.
Do outro lado, na saída do Matão, há um crematório, mas as câmeras desse trecho não registraram Alessandra deixando o local. À direita no mapa, perto dos bairros Santa Tereza e Duque de Caxias, moradores afirmaram à polícia não ter visto a jovem. Existe a possibilidade de que Alessandra tenha saído da região pela mata, sem ser flagrada por câmeras ou ser vista por vizinhos.
Equipes fizeram buscas na região de mata da manhã de domingo (17) até a noite de terça-feira (19), mas nada foi encontrado. Atuaram na ação agentes da Brigada Militar, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil, inclusive com cães farejadores. O trabalho foi suspenso e será retomado caso apareçam novas pistas.
No vídeo divulgado nesta sexta, a família pede a ajuda das pessoas para obter informações sobre a advogada.
— Imploro, de coração, que passem a observar os locais perto das residências de vocês, as construções abandonadas, terrenos baldios. Sejam os nossos olhos onde a gente não consegue estar. Se alguém a enxergar, tire uma foto, envie para a polícia. Nós não sabemos o que pensar, mas acreditamos que ela está com os pensamentos desorganizados e por isso não consegue voltar para casa — pede a mãe.
No mesmo vídeo, Ivete fala também sobre a personalidade da filha:
— Nossa Alessandra é uma pessoa muito simples, que faz amizade fácil. É super estudiosa, amorosa e de opiniões firmes e decididas.
O pai da jovem também aparece no vídeo. Segurando uma foto de Alessandra entre as mãos, Eduardo Dellatorre conta sobre o impacto do sumiço da jovem na família nos últimos dias.
— Minha filhinha está desaparecida há mais de seis dias. Eu lhes peço encarecida e humildemente, um pai e uma mãe que estão em desespero, que se souberem de qualquer fato ou situação relacionada à Alessandra que entre em contato. Deste lado, existe um pai e uma mãe que estão sem ar, sem chão, sem vida — diz Eduardo.
Eu lhes peço encarecida e humildemente, um pai e uma mãe que estão em desespero, que se souberem de qualquer fato ou situação relacionada à Alessandra que entre em contato. Deste lado, existe um pai e uma mãe que estão sem ar, sem chão, sem vida.
EDUARDO DELLATORRE
Pai de Alessandra
Nesta semana, o namorado da jovem, Guilherme Zagonel, também divulgou áudio em que pede que Alessandra retorne para casa:
— Por favor, volta. Estou sentindo muito a tua falta. Tu sabe que é o amor da minha vida. Estamos todos reunidos aqui em casa.
Após informações recebidas em redes sociais, a família se deslocou até Canoas, onde três pessoas afirmaram ter visto Alessandra. Ao rodar pela região na quarta-feira (20), nenhum vestígio foi encontrado.
Investigação
Nesta sexta-feira (22), a principal hipótese da polícia é a mesma da família: de que a jovem pode, por alguma razão, ter perdido a consciência e estar desorientada em algum local.
Conforme o delegado a frente do caso, André Serrão, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Leopoldo, cerca de 20 pessoas já foram ouvidas nos últimos dias. A polícia também pediu à Justiça a quebra do sigilo do celular da jovem, para checar se conversas recentes poderiam indicar o paradeiro, mas nada foi encontrado.
Segundo informações, a jovem tratava transtornos psicológicos. Ela também teria começado a trabalhar em um escritório de advocacia há pouco tempo, em São Leopoldo. Para Serrão, a possibilidade de Alessandra ter sofrido algum crime violento, como assalto, é remota.
As equipes seguem interrogando pessoas próximas à jovem, possíveis testemunhas e buscando mais câmeras de segurança que ajudem a localizá-la.
— É excepcional a participação que estamos vendo, tão proativa, de familiares, amigos e pessoas próximas, na tentativa de encontrar Alessandra. Seguimos focados nas buscas que possam levar ao paradeiro da jovem — diz Serrão.
Quem tiver informações que possam contribuir para a resolução do caso deve entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121.