O caso envolvendo o desaparecimento de um casal ocorrido em 27 de fevereiro de 2022, em Cachoeirinha, teve novo episódio nesta quarta-feira (17), após audiência no Fórum do município. A ré Cláudia de Almeida Heger, acusada de matar o pai Rubem Afonso Heger e sua companheira Marlene Heger, foi encaminhada novamente a um estabelecimento prisional. Ela cumpria prisão domiciliar desde agosto do ano passado e era monitorada por tornozeleira eletrônica. Os corpos de Rubem e Marlene jamais foram localizados.
Cláudia alega sofrer de paraplegia decorrente de um quadro infeccioso grave. Segundo o Ministério Público, no entanto, a ré foi flagrada caminhando dentro do Hospital Vila Nova, em Porto Alegre, quando lá esteve internada durante o curso das apurações. Além disso, em 15 de março deste ano, Cláudia compareceu a uma audiência no próprio Fórum de Cachoeirinha dirigindo veículo não adaptado para pessoa com deficiência. A ré foi filmada e a gravação teve certificação feita por oficial de Justiça.
— Jamais tive a dúvida de que a ré simulava a doença. Durante o curso do processo, o Ministério Público teve diversos indicativos de seu comportamento dissimulado. Além disso, durante o tramitar do processo, Cláudia teve contra si registradas diversas ocorrências policiais, responde a processos criminais, possui sentença condenatória e, inclusive, já simulou o próprio sequestro para obter dinheiro de familiares — relata o promotor de Justiça Thomaz de La Rosa.
O promotor afirma que a análise das imagens captadas pela câmera do Fórum, vê-se que a denunciada não possui um quadro de saúde grave, pois, ao deixar o prédio, Cláudia dirige-se ao veículo, levanta da cadeira de rodas para se acomodar no banco do motorista, guarda ela própria a cadeira e sai do local conduzindo veículo não adaptado.
Representante da defesa de Cláudia no processo, o advogado Jean Severo diz que o anúncio da prisão chegou de forma inesperada para ele e sua cliente.
— Recebemos com surpresa esta decisão. Ela foi cumprir seu interrogatório, respondeu a todas as perguntas, inclusive do Ministério Público e, ao final, saiu presa. Há desconfiança da acusação sobre a condição de saúde da Cláudia, embora tenha comprovado esta condição no processo. Estamos ingressando com pedido de habeas corpus para reverter esta prisão — informa Severo.
De La Rosa, por sua vez, aponta que a expectativa do Ministério Público é de que a análise do Poder Judiciário, ao final do período de instrução do processo, pronuncie-se pela procedência da denúncia pelos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver, com a definição de julgamento de Cláudia e Andrew Heger Ribas por representantes da comunidade na Vara do Júri.
Sob laudo de acometimento de psicopatologia, Andrew está internado em regime privativo de liberdade no Instituto Psiquiátrico Forense.
Processo entra na fase de alegações finais
O processo teve suas últimas oitivas realizadas na audiência da última quarta (17), quando também foram interrogados os dois réus.
Os próximos passos serão a manifestação final do MP e, posteriormente, dos advogados de defesa dos réus. Ambos sustentam que seus representados não cometeram os crimes. Conforme o advogado Jean Severo, Cláudia relatou sua versão dos fatos e teria, segundo ele, apresentado argumentos que contradizem as provas apontadas pelo MP.
Já o defensor de Andrew, advogado André Von Berg, diz ter a expectativa de que seu representado seja declarado inimputável pela Justiça ao final na análise de procedência das denúncias.
— Tenho convicção na inocência do Andrew. Minha expectativa é de que o ele seja absolvido sumariamente por não ser considerado responsável pelos crimes apurados ou que seja impronunciado, em virtude da inimputabilidade — define Von Berg.
No entendimento do advogado, o laudo emitido pelo próprio Instituto Psiquiátrico Forense indica que o réu sofre de psicose não-orgânica não especificada e outros transtornos dissociativos (síndrome de Ganser).
O promotor Thomaz de La Rosa, contudo, afirma não estar convencido da veracidade da psicopatologia do réu e antecipa que poderá pedir que a decisão sobre a inimputabilidade de Andrew seja submetida ao júri popular após a análise de admissibilidade da denúncia pelo Poder Judiciário.