A companheira de José Mauro de Chaves Chaulet, 34 anos, morto com um tiro após uma briga com um policial miltar à paisana, participou de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, na quarta-feira (17). A mulher estava com o lutador de MMA quando o crime ocorreu — na madrugada do dia 7, após desentendimento dentro de um bar no bairro São Geraldo, no 4º Distrito, zona norte de Porto Alegre — e também foi atingida por tiros.
Na sessão, conduzida pelo deputado Adão Pretto Filho (PT), a depoente alegou que ela e Chaulet foram agredidos mesmo após terem sido baleados e rendidos. E ressaltou que houve omissão de socorro.
— A arma que ele (Chaulet) tirou do PM envolvido em uma briga dentro do bar foi entregue por nós a outro policial à paisana, já do lado de fora do local. Mesmo assim, atiraram em nós, e, baleados, após o carro bater em uma árvore, mandaram a gente descer e deitar no chão. Nessa hora, policiais acionados para atender a ocorrência pisaram nas nossas costas. Aceleraram a morte dele ao chutá-lo no chão, e eu me fingi de morta — disse a mulher da vítima, em depoimento que durou 15 minutos.
A companheira de Chaulet também ressaltou que ele era ex-integrante de um grupo de trabalho pelo fim da violência contra a mulher, e que teria deparado com uma briga entre mulheres dentro da casa noturna. Segundo ela, um PM à paisana teria dado um tiro para o alto e, para evitar maiores problemas, Chaulet teria ido ao encontro dele e o desarmado.
Dois inquéritos apuram os fatos — um na Polícia Civil e outro na Corregedoria da Brigada Militar (BM). Na Civil, uma das versões sobre esta ocorrência aponta que o lutador tirou a arma do brigadiano e atirou propositalmente nele, acertando-o em uma das pernas, perto da virilha. Outra versão apurada é de que pode ter ocorrido um disparo acidental no momento em que Chaulet tirou a arma do policial. Já a BM apura a conduta de pelo menos dois brigadianos, os que estavam de serviço e atiraram no casal.
Os parlamentares relataram que irão acionar o comando do 9º Batalhão da BM para depor e ofereceram à companheira do lutador a possibilidade de ingressar no sistema de proteção a testemunhas, o que ainda está em discussão. Por isso, GZH não divulga o nome da depoente.
Investigação
Titular da 2ª Delegacia de Homicídios, delegado Eric Dutra diz que há dois pontos que ainda não fecham com o depoimento da testamunha na Assembleia — o mesmo que ela prestoui à polícia. Segundo ele, não foi comprovado que houve o susposto tiro para o alto, mas sim um disparo da própria arma do policial no momento que Chaulet o desarmou.
— Ainda apuramos se o lutador de MMA atirou ou disparou sem querer a arma. Fato é que o PM foi atingido em uma das pernas. O outro ponto é que a arma teria sido entregue depois que houve os primeiros disparos dos brigadianos, já após a colisão do carro — explica o delegado.
Os disparos a que ele se refere ocorreram depois que policiais militares de serviço chegaram ao local para verificar a ocorrência. A companheira do esportista ainda destacou que tem imagens da entrega da arma e que Chaulet só bateu com o carro para não atropelar pessoas que estavam saindo do bar.
— Eu disse: "Mauro, é polícia", e os tiros começaram. Ele jogou o corpo para o meu lado para me proteger e foi atingido em um dos pulmões. Mesmo ferido, ele desceu do carro comigo, e aí senti a maldade. Pisaram nas nossas costas, já deitados no chão, e diziam: "Essa está agonizando, e não precisa mais chamar ambulância" — relatou a depoente.
A mulher disse ainda que o socorro só chegou depois que uma PM, em outra viatura, chegou em frente ao estabelecimento comercial e acionou uma ambulância. Por fim, a companheira do lutador ainda falou aos parlamentares que os brigadianos "criaram" uma cena para fazer de conta que seu companheiro estava armado. Segundo ela, colocaram a arma que ele retirou do policial à paisana em um canteiro na calçada, ao lado de onde ele agonizava.
A Comissão de Direitos Humanos informou, ao final da audiência, que todos os fatos serão apurados.
Próximos passos
O delegado Dutra ressalta que investiga as duas versões e que, no momento, não pode adiantar os próximos passos para não prejudicar a apuração. Ele informa que as imagens estão sendo detalhadamente analisadas, várias vezes, e que são aguardados resultados periciais, principalmente nas armas. Já foram ouvidas cerca de 10 pessoas. O objetivo é ouvir todos os 12 PMs envolvidos no caso e o máximo possível de pessoas que estavam no bar.
Desde segunda-feira (8), estão sendo ouvidos no Inquério Policial Militar todos os envolvidos no fato, incluindo o PM de folga e amigos envolvidos na briga. A corporação diz que o objetivo é esclarecer todos os fatos em um prazo de até 40 dias e que está atuando em parceria com a Polícia Civil.
Natural de Ibirapuitã, no norte do Estado, Chaulet deixou um filho de oito anos.