A Polícia Civil está no encalço de mais dois suspeitos de envolvimento em sequestro de comerciante de Canoas. Dois homens foram presos e outros dois suspeitos foram mortos na operação que resultou no resgate do empresário do ramo de peças automotivas, de 31 anos. O sequestro ocorreu no final da tarde de 26 de dezembro passado. Agora a investigação busca consolidar a captura destes dois homens.
Na manhã desta quarta-feira (4), agentes da equipe antissequestro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) seguiam pistas para a localização de um dos suspeitos, para o qual a Justiça já expediu ordem de prisão temporária. Segundo o delegado João Paulo de Abreu, coordenador da investigação e titular do inquérito, o homem procurado seria o "elo" entre a quadrilha e a empresa da vítima.
— Trabalhamos com a hipótese de que foi este suspeito quem realizou a conexão entre a realidade econômica da vítima e de sua empresa com o grupo de criminosos que executou as etapas do sequestro. A partir da prisão e da análise dos depoimentos pretendemos entender se esta pessoa tem participação no planejamento efetivamente, o que caracterizaria o dolo na ação, ou se teria apenas mencionado informações sem a intenção de participar de um crime — revela Abreu.
O delegado também afirma que o curso das investigações indicou a existência de um sexto homem, o qual teria participado da vigilância da vítima no local de cativeiro.
— A alcunha deste suspeito e outros indicativos compõem evidências que tornaram necessária sua prisão para esclarecimento dos fatos — justifica. Conforme Abreu, a decisão da Justiça sobre o pedido para prisão deste suspeito poderá acontecer nos próximos dias, com o final do período de recesso no Poder Judiciário.
Abreu diz considerar que o inquérito está bastante adiantado, com perícias encaminhadas sobre mais de 10 telefones móveis apreendidos no curso da operação, além de exames nas duas armas recolhidas na cena de estouro do cativeiro, um galpão localizado ao lado de uma casa em construção, em uma pequena propriedade na zona rural de Portão.
A libertação da vítima aconteceu na noite de 27 de dezembro, pouco mais de 24 horas após o sequestro. A ação, que teve participação de mais de 20 agentes das forças de segurança pública do Estado, teve desfecho trágico para os dois suspeitos que guarneciam o local. Na abordagem ao cativeiro, teria ocorrido a reação armada que resultou em confronto e culminou com as mortes.
Identificados
A Polícia Civil identificou os dois suspeitos mortos no confronto como Anderson de Castro Rodrigues, 34 anos, e Adriano Ávila Saraiva, 40 anos. Ambos, conforme a Polícia, possuem antecedentes por suspeita de associação ao tráfico de drogas no Vale do Sinos e por posse e porte irregular de armamento.
Com eles, na cena do confronto, foram apreendidos um revólver calibre 38 e uma pistola de mesmo calibre. Estojos e cápsulas foram recolhidos para comparação balística. Laudos de necropsia devem revelar a origem dos disparos que ocasionaram os óbitos.
Entenda o caso
No final da tarde de 26 de dezembro, o empresário de 31 anos deixou seu local de trabalho a pé e foi abordado por dois homens em um veículo Fox, mais tarde apontado como um carro que havia sido roubado uma semana antes em Guaíba. Encapuzado e com arma em punho, um dos criminosos rendeu e obrigou a vítima a embarcar no banco de trás do automóvel, onde foi vendado e deitado para não identificar o caminho que seguiriam.
Na mesma noite, familiares começaram a receber comunicados dos criminosos, pelo telefone da vítima, sobre o crime. Uma quantia de R$ 500 mil teria sido exigida como pagamento pela libertação do empresário.
A família acionou a Polícia Civil, que designou a investigação para a área especializada em sequestros e extorsões no Deic. O serviço de inteligência passou a monitorar evidências e indícios que poderiam conduzir aos autores do crime.
No final da tarde de 27 de dezembro, a Polícia chega ao endereço de um suspeito de participar do sequestro e efetua sua prisão, no bairro Rio Branco, em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Este homem é suspeito de ser o condutor do Fox onde foi transportada a vítima.
Com a prisão, outros elementos são agregados a investigação, incluindo o endereço do cativeiro e a localização de um outro suposto participante, cujos indícios levam a Polícia a acreditar que ele seria uma espécie de "tesoureiro" do grupo na ação, centralizando a recepção de valores transferidos por aplicativos pelo telefone do comerciante.
Passadas cerca de 24 horas desde a abordagem sobre a vítima, cerca de R$ 60 mil já haviam sido transferidos para contas movimentadas pelo suspeito. A família, neste momento, vivenciava a angústia da ausência, somada ao terror de receber vídeos e áudios com ameaças e agressões.
Por volta de 21h do dia 27 de dezembro, uma operação de resgate estava pronta para entram em ação, em Portão. A abordagem ao local teria desencadeado o tiroteio que produziu as mortes dos suspeitos e o resgate da vítima, que estava deitada sobre o piso de um banheiro de alvenaria situado ao fundo do galpão e saiu da cena sem ferimentos.
Concomitante ao estouro do cativeiro, agentes efetuaram a prisão em flagrante do suposto "tesoureiro" da quadrilha, no bairro Feitoria, em São Leopoldo. Os dois presos, de acordo com o delegado João Paulo de Abreu, titular do inquérito, possuem antecedentes por receptação e são investigados pela suspeita de envolvimento com esquemas de roubo de veículos na Região Metropolitana.
Duas mulheres, uma delas acompanhava o primeiro homem preso e outra estava na casa localizada na mesma propriedade do cativeiro, depuseram como testemunhas. No sítio em Portão, havia duas crianças, uma delas seria filha da companheira de Anderson e outra, filha do próprio suspeito foi entregue pelos agentes à mãe.