Há quatro anos, o desaparecimento de Francine Rocha Ribeiro, 24 anos, mobilizou moradores no Vale do Rio Pardo. Na tarde do Dia dos Pais, a jovem, que residia em Vera Cruz, sumiu após sair para caminhar no Lago Dourado, ponto turístico do município vizinho, Santa Cruz do Sul. Horas depois, a localização do corpo, a cerca de 400 metros da pista onde se exercitava, confirmou que ela havia sido assassinada. Nesta sexta-feira (18), irá a júri Jair Menezes Rosa, 62 anos, acusado de ter sido o autor do crime.
O julgamento tem início previsto para as 9h30min, no Fórum de Santa Cruz do Sul. Logo após o sorteio dos nomes dos sete jurados que integrarão o Conselho de Sentença, serão ouvidas três testemunhas, todas de acusação. Duas delas devem detalhar como foi a investigação do caso: a delegada Lisandra de Castro de Carvalho, que na época do crime era a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Santa Cruz do Sul, e o delegado regional Luciano Menezes, que também participou da apuração do assassinato.
Há ainda um terceiro depoimento para ser ouvido, da irmã gêmea da jovem, Franciele Rocha Ribeiro, 28 anos. Em 2018, logo após a descoberta do crime, a professora relatou que, no dia do desaparecimento, ela e a irmã almoçaram na casa do pai, Runer Rocha Ribeiro, no interior de Vera Cruz. Depois, Francine seguiu até a residência da mãe, no bairro Bom Jesus, também em Vera Cruz. Foi de lá que partiu até o Lago Dourado, com intuito de fazer uma caminhada.
— Um pedaço de nós morreu. Ela era noiva. Teria uma família. Queria viver feliz — disse a irmã na época.
Foi o noivo de Francine quem a levou de carro até o ponto turístico. O rapaz contou que deixou a jovem no estacionamento – imagens de câmeras de segurança chegaram a captar o momento em que ela chegou à pista, sozinha. Depois dali, a jovem desapareceu.
O réu
Para a acusação, Francine foi atacada pelo réu, enquanto se exercitava no entorno do lago. Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público, Jair, que residia próximo do ponto turístico, teria avistado a jovem caminhando sozinha e a obrigado a entrar na mata nas proximidades. Ali, teria imobilizado, estuprado e agredido a vítima até a morte. Francine morreu em razão de asfixia e hemorragia interna, provocada pelo espancamento.
Por esses fatos, Jair responde por homicídio qualificado, pelo meio cruel, pelo uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, em razão de ter cometido homicídio para ocultar outro crime, no caso o estupro, e pelo feminicídio. O réu também é acusado de furto, já que teria, segundo a acusação, levado da vítima celular, óculos de grau e uma blusa.
Jair foi preso 11 dias após o desaparecimento da jovem, depois que um exame de DNA confirmou a presença de material genético do então investigado no corpo de Francine. Ouvido pela polícia, negou ter cometido o crime, mas alegou que tinha presenciado outro homem agredindo Francine, e que essa mesma pessoa o teria obrigado a manter relações com a vítima.
A versão não convenceu os investigadores nem o Ministério Público. Durante o julgamento, o réu poderá apresentar sua versão aos jurados. Responsável pela defesa dele, o advogado Mateus Porto sustenta a inocência do cliente e afirma que o réu deverá falar sobre o caso.
Cada parte, acusação e defesa, terá uma hora e meia para apresentar seus argumentos na fase inicial dos debates. Se for solicitada réplica e tréplica, haverá ainda mais uma hora para cada parte. Pelo Ministério Público, atuará o promotor Flávio Eduardo de Lima Passos. Também estará em plenário, como assistente da acusação, o advogado Roberto Alves de Oliveira.
Por fim, caberá ao Tribunal do Júri decidir se o réu, que está preso há quatro anos, é ou não culpado pelo crime. A estimativa do Judiciário é de que a sentença seja proferida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse por volta das 21h.
Investigação
Uma das suspeitas iniciais da investigação era de que o assassino fosse alguém que conhecia a localidade, em razão do difícil acesso. A polícia conseguiu identificar dois caçadores que relataram ter visto um homem numa trilha próxima do caminho para o lago. O mesmo trajeto levava ao ponto onde o corpo de Francine foi encontrado pelos familiares. Os caçadores afirmaram que o homem parecia estar fugindo quando foi visto e que vestia roupas camufladas.
Quando passaram a investigar as pessoas que costumavam frequentar aquela região, os policiais chegaram ao nome de Jair pela primeira vez. Morador do bairro Várzea, nas proximidades do acesso ao parque, ele teria saído de casa naquela tarde, após discussão familiar, vestindo roupas semelhantes às descritas pelos caçadores. O suspeito foi identificado como o mesmo avistado no matagal. No entanto, quando foi ouvido, negou o crime e disse que não esteve no local.
Foi a perícia técnica que permitiu concluir, segundo a polícia, que era mesmo ele o autor do crime e pedir a prisão. Quando Francine foi encontrada morta, a perícia coletou material genético no corpo e nas roupas dela. A intenção era fazer o confronto com o DNA de algum eventual suspeito, e assim foi feito quando Jair foi apontado como possível autor do assassinato. O exame indicou que o material era compatível com o do preso. Para a polícia, o resultado trouxe a certeza de que o autor havia sido identificado.
O MP informou que como o processo está sob sigilo, por determinação legal, só se manifestará sobre o caso durante o julgamento, em plenário.
Contraponto
Segundo o advogado Mateus Porto, Jair nega ter sido o autor do assassinato da jovem e a defesa buscará comprovar isso durante o julgamento.
— Ele se declara inocente. Durante o júri do próximo dia 18 vindouro serão externados os argumentos técnicos nesse sentido — afirma o responsável pela defesa do réu.