Acusado de ser o mandante do homicídio de três integrantes da mesma família em Passo Fundo, Eleandro Roso, 44, foi condenado, na quarta-feira (16), a 69 anos e seis meses de reclusão com regime inicial fechado. O júri, que iniciou às 8h, ocorreu no fórum do município, sob o comando da juíza Rosali Terezinha Chiamenti Libardi. A sessão foi encerrada por volta das 20h. Outras quatro pessoas são réus no caso e ainda não têm previsão de julgamento.
Na sentença, a juíza também determinou a manutenção da prisão preventiva de Roso, preso desde junho de 2020.
O caso ocorreu em maio de 2020, quando três pessoas da mesma família foram asfixiadas e amarradas dentro de casa no município ao norte do RS. A investigação indicou que o alvo do assassinato era Diênifer Padia, 26 anos, e que seu cunhado Alessandro dos Santos, 34, e a sobrinha Kétlyn Padia dos Santos, 15, foram mortos para que não fossem testemunas da morte dela, já que também estavam na casa no momento do crime.
Os corpos das vítimas estavam amarrados e tinham marcas de violência. Os três foram mortos por asfixia.
Conforme a investigação, Roso tinha um relacionamento extraconjugal com Diênifer, que veio à tona quando ela engravidou. Para o Ministério Público, com o nascimento do bebê, Roso e a esposa, Fernanda Rizzotto, passaram a tramar a morte da vítima. Atualmente, a criança tem quatro anos e mora com a mãe de Diênifer.
Na sessão de quarta, os jurados entenderam que Roso era um dos mandantes do crime, o que era defendido pelo Ministério Público. Ele foi condenado pelo triplo homicídio por motivo fútil, pagamento de recompensa, asfixia e meio que dificultou defesa das vítimas. Sobre as mortes de Santos e Kétlyn, o júri também entendeu que ocorreram para garantir a impunidade do crime contra a Diênifer.
Na prática, Roso deve cumprir ao menos metade da pena do total da definida em regime fechado, segundo o Ministério Público.
O promotor de justiça Fernando Andrade Alves, que atua no caso, avalia que a sentença estipulada está adequada ao crime:
— O volume da pena é proporcional ao tamanho do mal causado pelo réu. Além da morte de Diênifer, também foram assassinados o cunhado e a sobrinha de apenas 15 anos dela, que estavam no local e nada tinham a ver com o caso. Foram mortos em uma verdadeira queima de arquivo, para garantir a impunidade do crime contra Diênifer. É de uma crueldade muito grande — analisa Alves.
Vítima havia trabalhado com réu
Conforme a investigação, Roso era dono de uma propriedade de suinocultura em Casca, onde Diênifer trabalhou por três anos. Os dois tiveram um caso extraconjugal, em que a jovem acabou engravidando. A polícia apurou que, com a chegada da criança, Diênifer foi demitida, mas manteve relacionamento com Roso, que cedeu uma casa para ela e a família – residência onde o crime aconteceu – e um cartão de crédito para arcar com as despesas da bebê.
Quando descobriu a traição, Fernanda Rizzotto, esposa do réu, passou a ameaçar Diênifer, segundo a Polícia Civil. Meses antes das mortes, em fevereiro, Diênifer recebeu uma boneca com manchas que imitam sangue, sem pernas e braços, em uma caixa de sapatos.
Para a polícia, foi Fernanda quem pediu ao irmão, Claudiomir Rizzotto, 52 anos, para que encontrasse alguém que tirasse a vida de Diênifer. Junto do marido, ela seria uma das mandantes do assassinato.
Claudiomir teria então contatado o ex-policial militar Luciano Costa dos Santos e encomendado o crime. Os dois haviam, anteriormente, trabalhado juntos em um posto de combustíveis em Passo Fundo. Em depoimento, o ex-PM confirma o pedido de Claudiomir, mas diz que não aceitou a proposta. A Polícia Civil, no entanto, afirmou na época ter indícios de que o ex-policial contratou dois homens para executar o crime.
A quinta envolvida no caso é a esposa do ex-PM, Monalisa Kich Anunciação. Em depoimento, ela admitiu que utilizou um perfil falso no Facebook para comprar um celular de Diênifer, que tinha o hábito de anunciar produtos nas redes sociais. Também afirmou que foi até a casa dela para ver detalhes da residência e quantos cômodos tinha. Neste mesmo perfil falso, também foi negociada a venda de uma estante, mas desta vez quem conversava com a vítima eram os dois homens que executariam as mortes, conforme o MP. A instituição afirma que, apesar de ter uma participação diferente do caso, Monalisa sabia que Diênifer seria morta.
Foi na visita para supostamente verificar o móvel que os dois homens mataram Diênifer, o cunhado e a sobrinha. Esses dois executores não foram identificados até hoje.
Além de Roso, também está preso o ex-PM Santos. Monalisa responde em liberdade. O processo que trata da suposta participação deles no caso aguarda julgamento de recurso. Fernanda Rizzotto e Claudiomir Rizzotto, julgados em outro processo, estão foragidos. Todos respondem pelo triplo homicídio.
O que dizem as defesas
Confira a nota do advogado Ezequiel Vetoretti, que atende Eleandro Roso. Também atuam na defesa os advogados Rodrigo Grecellé Vares e Rodrigo Strello Salomão:
"A defesa respeita a decisão do Conselho de Sentença, que por apertadíssima maioria, concluiu pela condenação. Os três votos absolutórios, no entanto, nos dão a certeza de que existem elementos idôneos de sobra a demonstrar a inocência de Eleandro Roso. Certamente iremos recorrer, pois entendemos que a decisão dos quatro jurados que optaram pela condenação é manifestamente contrária à prova dos autos."
Confira a nota do advogado Flavio Luis Algarve, que atende Santos e Monalisa:
"Em hipótese alguma o resultado de ontem (quarta-feira) pode servir para uma condenação antecipada dos meus clientes. Os executores das vítimas até hoje não são conhecidos e a suposta participação dos meus clientes não está demonstrada no nosso juízo."