Laureano Vieira Toscani foi um dos quatro gaúchos presos com mais quatro pessoas na última segunda-feira (14) por suspeita de racismo e associação criminosa em um sítio no município de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, em Santa Catarina. Segundo a polícia local, eles também são investigados por atos neonazistas, já que foram apreendidos com os oito detidos várias indumentárias supremacistas, ideologia que prega a superioridade de um grupo de pessoas, como brancos sobre negros, o que configura racismo.
O gaúcho é um dos dois réus condenados em setembro de 2018, em Porto Alegre, a 13 anos de prisão pelo ataque a judeus no bairro Cidade Baixa, em 2005. Outro réu recebeu uma pena de 12 anos de reclusão. Sobre este caso ainda, os delitos são três tentativas de homicídio triplamente qualificadas. Outros dois réus também foram condenados e mais três tiveram julgamento, que ocorreria mês passado, adiado para março de 2023. Toscani também é réu por agressão a um segurança negro da Trensurb no ano de 2009, na Capital.
Sobre a prisão em Santa Catarina, a polícia local não divulgou nomes, mas GZH conseguiu apurar pelo menos o de Toscani e que os outros três gaúchos não estariam entre os réus do caso na Cidade Baixa. Também foram detidos um catarinense, um homem do Paraná, um de Minas Gerais e um de Portugal que mora no Brasil há vários anos. O paranaense, por exemplo, já havia sido denunciado por duplo homicídio decorrente de uma disputa entre lideranças de células neonazistas na Grande Curitiba, em 2009.
A investigação da polícia catarinense também apontou que todos os oito detidos esta semana escolheram o município de São Pedro de Alcântara por ser a primeira colônia alemã do Estado vizinho. Por enquanto, ainda não foi possível apurar se há mais integrantes dessa suposta célula neonazista que estaria em atuação.
Cidade Baixa
No dia 8 de maio de 2005, data que marcava os 60 anos do fim do Holocausto, três jovens conversavam em frente a um bar na Cidade Baixa quando foram cercados e atacados a facadas, socos e pontapés por várias pessoas. As vítimas foram identificadas porque estavam usando quipás, espécie de chapéu utilizada por judeus. Após 13 anos, ocorreu o primeiro júri sobre o caso na Capital. O julgamento foi dividido em pelo menos três partes.
Após dois dias, em setembro de 2018, saíram as primeiras sentenças por tentativa de homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe (discriminação racial), meio cruel e recurso que dificultou a defesa das vítimas. As penas somavam 38 anos e oito meses de prisão. Toscani foi condenado a cumprir uma pena em regime inicial fechado e não podendo recorrer em liberdade. Na época, ele foi apontado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público (MP) como um dos líderes de movimento neonazista no Estado.
O réu havia admitido que integrava grupo skinhead, mas disse que não perseguia judeus, negros e homossexuais. Após isso, Toscani recebeu o direito de usar tornozeleira eletrônica. Sobre esta condenação, segundo o Tribunal de Justiça, houve um recurso por parte da defesa e do MP que segue aguardando por decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo o advogado Marcelo Bertoluci, que defendeu Toscani neste caso julgado em 2018, não existiam provas contra o seu cliente.
Trensurb
Toscani também é réu em outro caso ocorrido em 2009 na Capital, quando quatro pessoas agrediram um segurança negro da Trensurb. De acordo com a investigação na época, dois dos quatro suspeitos foram detidos pela Brigada Militar. Os quatro estariam urinando próximo à Estação Mercado e foram abordados pelo segurança, com o intuito de que se afastassem do local. Mas a polícia informou que um deles tirou uma faca e um martelo da mochila. Ele e os outros três passaram a agredir o segurança. A vítima teve várias lesões e um ferimento superficial no pescoço devido a uma facada.
Sobre esta investigação, o advogado de Toscani, Jabs Paim Bandeira, diz que pediu uma reconstituição dos fatos por não concordar com alegações da vítima. Segundo ele, o segurança havia dito que o ferimento seria em um determinado ponto do pescoço e a perícia teria apontado que seria em outro local. Bandeira diz que o processo segue tramitando com uma última movimentação judicial ainda nesta semana.
Sobre a prisão em Santa Catarina, o advogado conversou nesta quinta-feira (17) com a família do preso. A informação é de que estariam contratando um profissional catarinense para cuidar do caso, pelo menos inicialmente.