A morte de Thaís Corrêa de Oliveira, 25 anos, na noite de terça-feira (11), em Soledade, traz novamente à tona um dos casos de maior repercussão no Estado em 2020, o assassinato de uma amiga dela, Paula Perin Portes, que na época só teve o corpo encontrado dois meses após o desaparecimento.
De acordo com a denúncia do Ministério Público na época, Paula teria testemunhado um ex-namorado de Thaís agredi-la e teria sido morta a mando dele, por vingança. Além disso, segundo a acusação, o homem, Dionatan Portela da Silva, temia que Paula divulgasse informações a respeito do envolvimento dele com o crime organizado. Dionatan, que teria arquitetado a morte de Paula, segundo o MP, está preso em Santa Maria e é réu no caso. Outros quatro homens também respondem como réus pela morte dela.
No processo da morte de Paula, Thaís era testemunha. Conforme a Polícia Civil, no entanto, ela já tinha prestado depoimento à Justiça e não teria novas audiências previstas. GZH entrou em contato com o Tribunal de Justiça para confirmar a informação, mas ainda não obteve retorno.
Na noite de terça-feira (11), o corpo de Thaís foi localizado com diversos tiros dentro de uma caminhonete em frente a uma residência no bairro Expedicionário, no município no norte do Estado. De acordo com a Polícia Civil, neste momento, há duas linhas principais para o assassinato.
Uma delas é a de que o assassinato está ligado à morte de Paula. Nesse caso, o principal suspeito seria o ex de Thaís, Dionatan. Segundo o delegado Marcelo Luiz Gasparetto, um mandado de busca e apreensão foi cumprido na manhã desta quarta-feira (12) na cela que ele ocupa em Santa Maria. Nada foi encontrado no local.
A outra linha de investigação apura a relação de Thaís com dois homens que estariam com ela e uma amiga na noite do crime. Conforme a polícia, os quatro estavam dando voltas de carro em Soledade e decidiram ir para uma festa. Antes, pararam em uma residência para que as jovens se arrumassem. Thaís teria sido a primeira a sair da casa e entrar no carro — segundos depois, foi baleada dentro do veículo. Os dois homens que estavam com ela fugiram logo em seguida — um deles já foi identificado e teria ligação com uma facção da região. A polícia investiga se eles são os autores dos disparos ou se a jovem foi abordada por outras pessoas naquele momento.
Conforme o delegado, as equipes fazem diligências e ouvem testemunhas nesta quarta (12).
— Nesse momento, essas são as duas principais linhas de investigação, mas nada é descartado. É uma apuração inicial bem complicada. O crime ocorreu em um local de pouca movimentação, algumas testemunhas afirmam que não viram o que aconteceu, apenas ouviram disparos. Nós já conseguimos autorização da Justiça para a quebra do sigilo do celular dela, para analisar mensagens que ela trocou recentemente, e também estamos buscando imagens de câmeras de monitoramento da região — diz Gasparetto.
Ainda conforme a polícia, nesta semana, Thaís havia sido intimada a comparecer em uma audiência de conciliação, em razão de uma briga que teve com outra mulher em um posto de gasolina. Informações sobre esse fato também são levantadas pelas equipes.
Comoção há dois anos
Em 2020, as buscas por Paula Perin Portes, 18 anos, duraram cerca de dois meses, até que o corpo da jovem foi localizado enterrado em Rincão do Bugre, local de difícil acesso no interior do município, no meio de uma mata fechada. O local fica a cinco quilômetros do açude onde a bolsa da jovem tinha sido localizada, dias antes.
Segundo a polícia, Paula foi assassinada por asfixia na noite de 11 de junho de 2020 e teve seu corpo ocultado, encontrado em 17 de agosto.
À frente da equipe que elucidou o caso na época, a delegada Fabiane Bittencourt afirmou a GZH, no ano passado, que ao identificar os nomes dos envolvidos no assassinato foi possível abrir novas frentes de investigações de homicídios, tráfico de drogas, organização criminosa e contrabando de cigarros em Soledade.
— A morte da Paula desmantelou um complexo de outros crimes. Foi uma investigação complexa, especialmente no que envolvia a localização do corpo. E os envolvidos atrapalharam a investigação, trocaram o corpo de lugar quando viram que estávamos perto de localizá-lo, tentaram de todas as formas que não resolvêssemos o fato — disse Fabiane em 2021, quando a morte de Paula completou um ano.
Contraponto
O advogado Manoel Pedro Castanheira, que atende Dionatan Portela da Silva, declarou que não tem conhecimento de investigação contra seu cliente sobre a morte de Thaís e que trata-se de uma apuração inicial. Castanheira afirma ainda que Dionatan não teve participação na morte da Paula, em 2020, e também não tem envolvimento em facções criminosas.