A investigação da morte de Paula Perin Portes, 18 anos, em Soledade, envolveu o mistério sobre o conteúdo que a jovem guardava no seu smartphone, a tentativa de assassinato de uma testemunha e a descoberta da atuação de uma organização criminosa no município de 30 mil habitantes no norte do Estado. Cinco pessoas foram indiciadas pelo envolvimento no crime – quatro por homicídio qualificado, organização criminosa e ocultação de cadáver e o quinto por ocultação de cadáver e organização criminosa.
A Polícia Civil não divulga o nome dos responsabilizados mas GZH apurou que trata-se de Dionatan Portela da Silva, João Albino Abegg dos Santos, Micael Wilian Rossi Ortiz, Gesriel da Cunha Wedy e Henrique Marder.
— Temos muitas provas nos autos, elas são hábeis à condenação desses indivíduos em júri — afirma a delegada Fabiane Bittencourt, que atuou na segunda metade da investigação.
No momento em que a jovem foi executada, na madrugada de 11 de junho, Paula disse aos criminosos que eles poderiam pegar seu telefone. Isso levou a polícia a concluir que a jovem sabia de crimes cometidos pelos envolvidos e que no celular havia alguma informação que os incriminava.
— Não sabemos o que é. O telefone não foi localizado. A informação que temos é que ele foi quebrado e enterrado. O que a Paula sabia é um mistério. Nenhuma testemunha sabia de nada sobre isso, assim como nenhum familiar. Como o telefone não foi localizado, esse aspecto ficou em aberto — explica a delegada.
Durante a investigação, a polícia contou com uma testemunha que descreveu o contexto em que o assassinato aconteceu. A descrição foi confirmada com as provas anexas nas 800 páginas do inquérito entregue nesta quarta-feira (2) ao Judiciário. Na casa em que foi executada, Paula estava com cinco homens – quatro deles foram indiciados e o quinto, apesar de ter sido preso no começo da investigação, foi excluído da relação dos investigados e passou a figurar na condição de testemunha no inquérito.
Uma segunda testemunha, que tinha informações sobre o crime, sofreu uma tentativa de homicídio em julho – época em que o corpo de Paula, localizado em 17 de agosto, ainda estava desaparecido. A testemunha estava caminhando na rua quando foi surpreendida por três disparos, um deles a atingiu, mas ela conseguiu sobreviver.
— Os investigados tentaram contra a vida de uma das testemunhas no curso da investigação — diz Fabiane.
Paula era uma das melhores amigas da ex-companheira de Dionatan que é considerado o mandante do crime – e líder do tráfico de drogas em Soledade. Devido a amizade, a jovem tinha vínculo de proximidade com ele. Com Micael Ortiz, usado para atraí-la para a cena do crime, Paula havia apenas conversado por aplicativos de mensagens.
O telefone não foi localizado. A informação que temos é que ele foi quebrado e enterrado. O que a Paula sabia é um mistério. Nenhuma testemunha sabia de nada sobre isso, assim como nenhum familiar. Como o telefone não foi localizado, esse aspecto ficou em aberto .
FABIANE BITTENCOURT
Delegada de Soledade
— O ex-marido da amiga foi quem arquitetou o crime. E com ele ela tinha certa proximidade, por isso ela tinha informações sobre eles.
Até a morte de Paula, a polícia tinha conhecimento que os indiciados integravam uma facção criminosa com base no Vale do Sinos. A investigação do homicídio da jovem, no entanto, revelou como a organização estava bem estruturada na cidade, atuando no tráfico de drogas, na comercialização de cigarros contrabandeados e na prática de outros crimes – como homicídios e tentativas de assassinato.
— Durante a investigação, descobrimos a participação de um dos envolvidos em outros crimes de homicídio que agora serão investigados. Parte dos indiciados tem envolvimento em pelo menos mais um assassinato que ocorreu em abril, ligado ao tráfico de drogas. Tudo veio à tona no inquérito da Paula, que vai evoluir para outras investigações — diz a delegada.
Como foi o crime
A dinâmica do crime, segundo a polícia, aponta que Paula foi atraída para o local da execução, saiu de lá já sem vida, teve seu cadáver ocultado em um primeiro local e desse ponto foi deslocado para a localidade de Rincão do Bugre, área de difícil acesso no interior do município, no meio de uma mata fechada. A polícia apreendeu com Henrique Marder um Fiesta branco que teria feito a segunda movimentação do corpo. O primeiro veículo, de cor escura, usado na data da morte, não foi identificado.
Dos cinco indiciados, três estão presos (Dionatan Portela da Silva, João Albino Abegg dos Santos e Gesriel da Cunha Wedy), um segue foragido – Micael Ortiz – e o quinto (Henrique Marder) não teve mandado de prisão solicitado.
— As buscas pelo Micael não acabaram. Desde o começo da força-tarefa não teve um dia em que não realizamos diligências na busca do foragido. Todas as informações que recebemos, temos checados. Os demais indivíduos que estão presos são perigosos, praticaram diversos crimes na cidade e cometeram essa crueldade com a Paula. Esperamos que eles permaneçam presos — afirma Fabiane.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) concluiu nesta quarta o resultado da necropsia do corpo da Paula que confirma que a jovem foi morta por asfixia em golpes de mata-leão. A polícia ainda aguarda os resultados das perícias de presença de álcool, exame toxicológico e de violência sexual realizados na vítima. A coleta de material biológico nos veículos de dois dos investigados e de itens apreendidos em suas casas também deve ser concluída nos próximos dias.
Uma perícia na bolsa de Paula vai revelar quanto tempo o objeto ficou submerso – o acessório foi localizado em 4 de agosto dentro de um açude em Soledade. Todas essas informações serão anexadas ao inquérito e enviadas ao Ministério Público.
Os indiciados
Homicídio qualificado, ocultação de cadáver e organização criminosa
Dionatan Portela da Silva
Está preso. É considerado pela polícia o mandante do crime e líder do tráfico de drogas em Soledade. É ex-marido de uma das amigas de Paula. O advogado Manoel Pedro Castenhairas afirma que irá se manifestar quando tiver acesso a todas informações contidas no inquérito.
Micael Wilian Rossi Ortiz
Está foragido desde 22 junho. Segundo a investigação, atraiu Paula para o local do crime. O advogado Manoel Pedro Casteanheiras afirma que irá se manifestar quando tiver acesso a todas informações contidas no inquérito. A defesa afirma que está em busca do seu paradeiro e que pretende apresentar o indiciado assim que possível.
João Albino Abegg dos Santos
Está preso. Por meio de nota, o advogado Ricardo Rocha Lacerda afirmou que: "o indiciamento se constitui em figura típica da conclusão do inquérito policial, no qual, por suas próprias características, não são amplamente franqueados ao acusado o contraditório e a ampla defesa. Com a judicialização do caso, se recebida a denúncia pelo Juízo Criminal, é que se poderá apresentar a devida resposta à acusação e produzir uma vasta gama de provas que revelará a verdade dos fatos que, por sua vez, conduzirão à inocência do até então indiciado."
Gesriel da Cunha Wedy
Está preso. GZH fez contato com a defesa e aguarda retorno do pedido de contraponto.
Ocultação de cadáver e organização criminosa
Henrique Marder
Carro foi apreendido em 27 de agosto pela polícia. Veículo teria sido usado no deslocamento do corpo de Paula do primeiro para o segundo esconderijo. A reportagem tenta contato com seu advogado. Em depoimento, permaneceu em silêncio. Não teve pedido de prisão feito pela polícia.