"Soledade terra de gaúcho forte/ Se é preciso enfrentar a morte, não liga pra tempo feio", cantava Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, talvez o mais famoso cantor gaúcho fora do Rio Grande do Sul. O xote Soledade botou muita gente a bailar nos anos 1960, enchendo de orgulho os moradores de uma cidade cujos habitantes tinham secular fama de valentia. Duelos e sangrentas brigas de família marcaram a região ao longo dos tempos.
Pois Soledade acaba de voltar ao noticiário por ser palco do assassinato de uma testemunha-chave de um crime. Thaís Corrêa de Oliveira, 25 anos, foi morta a tiros em frente à sua residência, na noite de terça-feira (11). Ela foi ouvida pelas autoridades a respeito do assassinato de uma amiga, Paula Perin Pontes, encontrada morta dois meses depois desaparecer, em 2020. A perícia informa que Paula foi morta por asfixia e o suspeito, que virou réu, era seu namorado. Ele teria cometido o homicídio por ciúme e também por temer que ela revelasse suas ligações com o crime organizado.
Não é a primeira vez que Soledade é cenário do assassinato de uma testemunha. Em 2003, o informante da polícia Antônio Carlos Moraes Casagrande foi morto a tiros, pelas costas, em plena Câmara Municipal de Vereadores daquele município. Cobri esse caso. O autor dos disparos, preso em flagrante, foi Elpídio Teodoro Ferreira, que trabalhava numa fazenda. Ele era irmão de criação de um dos mais notórios cidadãos de Soledade: o advogado Gudbem Borges Castanheira, ex-deputado estadual, que chegou a assumir o governo do Estado por alguns dias na década de 60 e também foi conselheiro do Tribunal de Contas.
Elpídio e Gudbem foram condenados em 2008 por esse homicídio. O crime, à luz do dia, teria ocorrido com o fim de silenciar Casagrande, que era informante da polícia e teria chantageado Gudbem para não revelar supostos delitos cometidos pelo advogado.
Gudbem já estava condenado pelo homicídio de um colega de profissão, o advogado Júlio César Serrano, morto a tiros na principal praça de Soledade, em 2005. O ex-deputado cumpriu a pena em regime fechado até 2009, quando foi para o regime semiaberto. Ele e Ferreira já faleceram. Como se vê, os assassinatos por emboscada fazem parte da história de Soledade. Da antiga e da atual. Agora, a polícia tem mais um crime para elucidar.