Às 9h desta terça-feira, o pecuarista Mairol Batista da Silva, 41 anos, estará no banco dos réus para ser julgado como mandante da morte de seis pessoas em razão de uma suposta desavença por terras em Soledade, no norte do Estado, em julho de 2001.
O processo se arrasta há 13 anos, soma 26 volumes com 5,5 mil páginas e só agora será julgado por conta de adiamentos provocados por diversos fatores, incluindo a exumação do corpo do autor da chacina, Márcio Camargo, 21 anos.
A sequência de mortes começou no entardecer de 7 de julho, um sábado. Conforme denúncia do Ministério Público, Camargo se armou com dois revólveres no pátio da Fazenda Santo Augusto e matou o patrão dele e dono da propriedade, o comerciante Augusto Ricardo Ghion, a mulher de Ghion, uma sobrinha dela, o capataz da fazenda, a mulher dele e um filho. As vítimas foram atingidas por 15 tiros. A maioria, na cabeça.
Ghion foi executado dentro de uma caminhonete Ranger, na porteira da propriedade, onde também estavam mais três pessoas, entre elas uma filha do comerciante de 13 anos, única sobrevivente da matança. Ferida na cabeça e nas costas, a garota se fingiu de morta para escapar com vida.
Camargo era empregado de confiança de Ghion havia dois anos. Ao ser preso, confessou ter sido contratado por Silva para matar Ghion e quem estivesse na fazenda. Camargo receberia R$ 30 mil, o que não ocorreu. Exame de sanidade mental atestou que ele era semi-imputável, incapaz de entender o caráter ilícito dos fatos.
O peão esteve preso por dois anos. Em julho de 2003, fugiu pulando o muro do Presídio de Soledade. Apareceu morto após se envolver em um assalto. Desconfianças de que Camargo estava vivo levaram a Justiça a mandar exumar o corpo, atrasando o processo.
Silva cumpriu prisão preventivamente, mas responde ao processo em liberdade. Ele sempre negou envolvimento nas mortes.
- Acredito, firmemente, que será absolvido. Não existem provas contra ele, a não ser a versão do Márcio (Camargo), que vivia no limite entre a razão e o delírio - diz o advogado Osmar Teixeira, defensor de Silva.
O julgamento será presidido pela juíza Karen Luise de Souza Pinheiro. A acusação está a cargo dos promotores Tânia Maria Hendges Bitencourt e Fabiano Dallazen.
Sete envolvidos já morreram
Ao longo dos 13 anos nos quais o processo sobre a chacina de Soledade tramita na Justiça, sete pessoas ligadas direta ou indiretamente ao caso morreram, sendo quatro assassinadas.
A primeira foi Erenilde da Silva Oliveira, em agosto de 2003. Dono de um salão de baile, Oliveira teria sido alvejado pelo sobrinho, o peão Márcio Camargo, autor da chacina. Ele tinha fugido da cadeia e ido à casa do tio buscar armas que escondera lá. Horas depois, Márcio Camargo foi encontrado ferido e morreu.
No mês seguinte, o informante da polícia Antônio Carlos Moraes Casagrande, testemunha de acusação do caso, foi executada dentro da Câmara de Vereadores de Soledade. Os envolvidos, o deputado estadual emérito Gudbem Castanheira e o irmão de criação dele Elpídio Teodoro Ferreira, foram condenados pelo crime por desavenças com a vítima.
Em janeiro de 2005, o advogado Júlio César Serrano, que prestou serviços para Augusto Ricardo Ghion, alvo principal da chacina, foi executado na praça central da cidade. Inimigo de Serrano, Gudbem foi condenado pelo crime.
Oito meses depois, um sobrinho de Serrano, que advogava para Mariol da Silva, acusado da chacina, foi encontrado morto, aparentemente vítima de suicídio. Anos depois, Ferreira e Castanheira morreram por problemas de saúde.