Um crime que há dois anos chocou o município de Jaguarão, no sul do Estado, irá a júri em breve. Um jovem, acusado de ter planejado o assassinato dos pais, a namorada dele e um amigo têm julgamento previsto para 17 de novembro. Os três estão presos pela execução de Paulo Adão Almada Moraes, 50 anos, e Manoela Renata Araújo Chagas, 40.
Aos 20 anos, Iuri Paulo Chagas Moraes confessou à polícia ter planejado a execução dos pais — atualmente a defesa afirma que ele apresentou outra versão. Isso aconteceu após o caso ser tratado inicialmente como um assalto com morte (latrocínio). Paulo Adão e Manoela foram mortos a tiros dentro de casa, enquanto dormiam. Quando foi ouvido, o filho contou ter escutado os disparos e depois visto dois criminosos fugindo da residência. O veículo do casal foi levado e foi abandonado logo depois.
Alguns pontos no depoimento de Iuri, no entanto, fizeram a polícia suspeitar de que ele pudesse estar mentindo. Quando indagado sobre o local por onde os criminosos ingressaram, por exemplo, não soube explicar. Não havia qualquer sinal de arrombamento na casa. Quando foi preso, o filho confessou que o crime havia sido planejado, com auxílio de outras pessoas. Disse aos policiais que os pais eram controladores e que eles tinham atritos por dinheiro. Para a acusação, Iuri planejou ao longo de pelo menos um ano o assassinato dos pais.
Mais tarde, a polícia passou a suspeitar de outras duas pessoas: a namorada de Iuri, Bruna Melissa Alves Betancourt, e um amigo do casal, Roger Pinto Nunes. Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público, o amigo do casal entrou na casa às 4h30min com a ajuda do filho e da namorada. Depois disso, Bruna teria ido até o quarto das vítimas e atirado na cabeça deles, enquanto dormiam.
Em seguida, para simular um assalto, Roger teria sido o responsável por levar o automóvel da família e dirigir até um local afastado, onde abandonou o veículo. Também teria sido a pessoa que se desfez do revólver usado no crime, que acabou encontrado dias depois no Rio Jaguarão por mergulhadores dos bombeiros. Na casa dele, no mesmo dia em que ele foi preso, a polícia apreendeu três estojos deflagrados de munição calibre .22, mesma usada no crime.
Versões
A instrução, que é a fase na qual todas as partes do processo são ouvidas, foi encerrada há um ano. A defesa de Iuri informou por meio de nota (confira a íntegra abaixo) que o réu apresentou outra versão durante o processo e que esse relato será levado ao júri. A defesa do réu não quis detalhar neste momento qual foi a versão apresentada.
Em dezembro do ano passado, a Justiça decidiu que os três deveriam ir a júri, ou seja, serão julgados pela própria comunidade, em razão do delito de homicídio. Logo após essa decisão, os três réus tentaram reverter a sentença que havia determinado que eles fossem julgados pelo Tribunal do Júri, mas não conseguiram. Atualmente, não há nenhum recurso em andamento.
Na última segunda-feira (26), a Justiça havia definido que o júri seria realizado em 24 de novembro, com início às 9h. Posteriormente, por readequação de agenda, o julgamento foi adiantado para o dia 17.
Os três serão julgados pelo homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa das vítimas). No entendimento da acusação, o crime foi cometido por motivo torpe por envolver questões patrimoniais, ainda que a família tivesse uma vida modesta. Iuri teria interesse em ficar com os bens dos pais: o carro e um imóvel, além de terras.
As vítimas
Formada em Pedagogia, na Universidade Federal do Pampa, Manoela cursava especialização em Gestão da Educação Básica. Na época do crime, a representação discente do campus de Jaguarão emitiu nota na qual a descrevia como alguém “sempre sorridente” e “muito prestativa”. Paulo trabalhava com montagem de móveis e estava empregado em uma loja da cidade.
O casal sempre residiu em Jaguarão, município onde também nasceram os dois filhos: Iuri e a caçula, na época com 13 anos. A adolescente, que estava em casa dormindo na madrugada do crime, está sob os cuidados da avó materna. Segundo os familiares, os dois eram pais exemplares, dedicados e que buscavam dar aos filhos o que podiam.
Contrapontos
O que diz a defesa de Iuri Paulo Chagas Moraes
Responsáveis pela defesa de Iuri Paulo Chagas Moraes, os advogados Filipe Trelles, Marcela Weiler, Isabela Camerini, Hiago Mendes e Mariana Costa Beduhn, do escritório de advocacia criminal especializada TWC - Trelles Weiler Camerini, manifestaram-se por nota. Confira:
“Estamos preparados para o julgamento, acreditamos que alguns fatos serão esclarecedores para os jurados. O interrogatório de Iuri trouxe outra versão da apresentada e divulgada durante o inquérito. No decorrer do processo pedimos a reinquirição de familiares, quando a nova versão veio à tona, o que não foi possível durante a instrução, mas será feito em plenário. Temos confiança de que este caso terá uma reviravolta frente ao conselho de sentença e a sociedade.”
O que diz a defesa de Bruna Melissa Alves Betancourt
Segundo o Tribunal de Justiça, constam no processo como responsáveis pela defesa de Bruna Melissa Alves Betancourt os advogados Carlos Eduardo Nascente Chagas e Rodrigo Lima da Silva. GZH tentou contato com a defesa, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
O que diz a defesa de Roger Pinto Nunes
O réu é assistido pelo defensor público Gustavo Carlos Couto Knopp. GZH entrou em contato com a Defensoria Público do Estado, que informou que só se manifestará sobre o caso no plenário do júri.