Segundo a Polícia Civil, o rapaz de 20 anos suspeito de arquitetar o assassinato dos pais em Jaguarão, no sul do Estado, tentou forjar um duplo latrocínio, ou seja, fingir que o casal foi morto durante um assalto. Mas, para os investigadores, o crime aconteceu de forma bastante diferente. Conforme a apuração, foi o filho quem comprou um revólver dias antes do fato. A principal suspeita é de que ele mesmo tenha aberto a porta de casa para o autor ou os autores dos disparos. A polícia ainda apura quantos participaram do duplo homicídio —um outro suspeito foi preso na tarde desta segunda-feira (14).
O montador de móveis Paulo Adão Almada Moraes, 50 anos, e a esposa, Manoela Renata Araújo Chagas, 40 anos, formada em Pedagogia, foram executados a tiros na madrugada da última sexta-feira (11), enquanto dormiam. A polícia não divulgou os nomes das vítimas nem do rapaz, mas GZH apurou que o preso de forma preventiva é Iuri Chagas, 20 anos. Em depoimento, ele confessou ter planejado o crime e disse que já cogitava essa possibilidade há dois anos. Os detalhes do caso foram repassados à imprensa na manhã desta segunda-feira (14) em entrevista coletiva.
Segundo a delegada Juliana Garrastazu Ribeiro, na terça-feira (8), o rapaz teria usado dois celulares e uma televisão para adquirir uma arma de fogo — a polícia não sabe se ele vendeu e usou o dinheiro ou se trocou pelo revólver. Isso teria acontecido após uma discussão com a mãe sobre o auxílio emergencial que ele havia recebido do governo federal. O rapaz disse que Manoela teria ficado com o valor e que isso teria gerado conflito entre eles. Conforme a delegada, ele contou que tinha “picos de raiva” porque os pais eram controladores.
No retorno para casa, o jovem teria dito aos pais que havia sido assaltado e que os criminosos tinham roubado seu celular. A mãe então teria entregue a Iuri um outro celular — era esse aparelho que estava sendo usado por ele atualmente. Uma das suspeitas da polícia é de que o filho possa ter dado algum sedativo aos pais. Chamou a atenção dos policiais o fato de que o casal não teve reação aos disparos. Isso deverá ser esclarecido pela perícia. Os dois foram atingidos na cabeça, por volta das 4h30min, enquanto estavam dormindo.
Estavam na casa, além das vítimas, o filho de 20 anos, a namorada do rapaz e outra filha do casal, de 13 anos. Em primeira versão apresentada à polícia, Iuri disse que estava no quarto dele com a namorada quando ouviu os estampidos. Depois disso, teria saído correndo e visto quando dois homens, usando capacetes, deixavam o local na caminhonete da família. A polícia acredita que levar o veículo, abandonado logo depois nas proximidades, foi a forma de tentar forjar o assalto.
Em depoimento, a namorada do preso disse à polícia que ela estava com ele na sala, até horário próximo ao do crime. A jovem relatou que os dois teriam decidido ir dormir, mas que o rapaz teria dito que iria logo depois dela. A polícia suspeita que, neste momento, Iuri tenha deixado o acesso da casa aberto para a entrada dos atiradores. Logo depois, teriam acontecido os estampidos. A polícia ainda apura se o rapaz participou ou não dos disparos — ele alega que não. Mas ele também não disse quem foram as pessoas que participaram da execução.
— O que se pode afirmar neste momento é que existia pelo menos mais uma pessoa na cena do crime. Já que a caminhonete foi levada e as três testemunhas estavam na casa quando a polícia chegou — explica a delegada.
Na confissão à polícia, o rapaz disse que planejava o assassinato dos pais há pelo menos dois anos. O filho alegou que eles tinham desavenças e que os pais eram controladores. Os policiais ainda tentam entender o que teria motivado o crime e os detalhes da execução. Uma das suspeitas é de que o crime possa ter motivação patrimonial, embora a família vivesse de forma modesta. Segundo a delegada, havia expectativa em relação ao recebimento de uma área de terra.
— Eles tinham relação típica de pais e filho. Os pais não deixavam ele ir em tal lugar, não queriam que ele andasse com tal companhia. A mãe teria descoberto que ele era usuário de maconha e, nesse sentido, ela tentava controlar. Depois, eles faziam as pazes. Ele teve essa ideia há dois anos. E isso acontecia em momentos em que eles discutiam. Ele fala: “Eu tinha picos de raiva”. Esses picos iam e voltavam nesses dois anos. Além disso, os pais teriam um campo, herdado, e ele poderia estar de olho no patrimônio. São várias coisas que ele mesmo fala e que estamos ainda tentando chegar à real motivação — explica Juliana.
Iuri está preso em Jaguarão. Na tarde desta segunda-feira, foi detido preventivamente outro suspeito de envolvimento nas mortes. Na casa dele, a polícia apreendeu três estojos deflagrados de munição calibre .22, mesma usada no crime.