Ao longo do último ano, a médica veterinária Bruna da Silva Fernandes vinha idealizando o plano de reformar e modernizar a clínica e petshop dela e da sócia em Gravataí, na Região Metropolitana. Entre atendimentos e gestão de funcionários, ambas juntavam dinheiro e alinhavam todas as mudanças necessárias no local. Depois, foram seis meses de obra até colocar tudo no lugar, conforme sonhavam. No dia 9, com tudo pronto, o espaço foi inaugurado ao lado de amigos, funcionários e parceiros. Uma fitinha rosa foi colocada na porta da clínica e depois rasgada pelas empresárias, simbolizando o novo ciclo.
No sábado (14), cinco dias depois, a comemoração foi interrompida. Bruna foi vítima de um latrocínio (roubo com morte) no município e teve o carro levado por assaltantes. Baleada durante a ação, ela foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu aos 33 anos.
— Na inauguração, a gente riu tanto, fez fotos com toda a equipe, brincou. Estávamos comemorando, todos muito felizes. Ela gostava muito daqui, se orgulhava muito por sermos uma empresa comandada por mulheres. Naquele sábado, ela estava de folga e disse que iria em uma loja comprar uma roupa que queria. Ela saiu com esse objetivo, era um dia comum, ainda é difícil acreditar. Estamos todos de coração partido — lembra a sócia de Bruna, que preferiu não se identificar por receio de represálias por parte dos autores do crime.
A empresária lembra do amor da jovem pela profissão e do espírito de liderança que destacou Bruna desde que ela chegou à equipe, há seis anos. Além de ajudar na gestão da clínica, ela era também responsável pelos atendimentos. Formada na Universidade Federal do RS (UFRGS), tinha especialização na área de cirurgia e costumava fazer cursos para se aperfeiçoar na profissão.
— Temos vários clientes que são muito gratos a ela porque ajudou e salvou muitos animais. Tinha um coração muito bom. Teve casos em que assumiu o cuidado pelo animal por ver que o tutor não tinha como arcar com os custos. Ela tinha muita vontade de ajudar, sempre oferecia para que outros veterinários participassem das cirurgias, caso quisessem aprender. Era apaixonada pelo que fazia e queria passar esse cuidado adiante. Era inteligente, dedicada. Uma veterinária excelente — relata a sócia.
Bruna também é lembrada como colega e amiga que estava sempre disposta a ouvir. A jovem era apegada à família e aos nove animais que adotou: cinco gatos e quatro cachorros, todos resgatados da rua.
— Um tem câncer e vinha sendo cuidado pela Bruna. Outra precisou de cirurgia e estava fazendo fisioterapia. Eram como filhos para ela. Ela tinha essa vontade de estar sempre ajudando — diz a sócia.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do RS (CRMV-RS) lamentou a morte da jovem, se solidarizando "neste momento de tristeza pela perda desta grande profissional".
Rodeada de familiares e amigos, Bruna foi sepultada na manhã de segunda-feira (16) no Cemitério Saint-Hillaire, em Viamão.
Conforme o delegado Maurício Arruda, responsável pelo caso, ao menos dois criminosos realizaram a ação que vitimou a veterinária. A polícia tenta identificar os homens. As equipes apuram se um terceiro suspeito também teria envolvimento. Cerca de 10 pessoas foram ouvidas, até o momento, no inquérito.