Foi de exposição da acusação a segunda manhã de julgamento de Maicon de Mello Rosa pelo assassinato do policial civil Rodrigo Wilsen de Silveira e pela tentativa de homicídio de outros três agentes. Além dele, outros quatro são réus por envolvimento no caso e respondem por tráfico de drogas e receptação. O júri aconteceu no Fórum de Gravataí, na Região Metropolitana.
Os promotores Eugênio Amorim e Aline Baldissera não utilizaram todo o tempo disponível — que é de duas horas e meia —, mas causaram impacto nos jurados, réus, defesa e plateia. Durante sua fala, Aline mostrou imagens do corpo de Rodrigo, feitas na manhã de sua morte. Uma das jurada passou mal e pediu atendimento.
— Mostra o rosto dele, vejam como ficou desfigurado este agente da segurança que trabalhava defendendo a sociedade — reforçou Amorim.
A pausa feita para atendimento da jurada levou a defesa de Maicon e dos outros quatro réus a conversarem com a juíza Valeria Eugênia Neves, pedindo para que a exposição de imagens sensíveis não fosse feita. A exposição de Aline foi retomada sem que os pedidos fossem acatados. A promotora, no entanto, não voltou a mostrar as imagens em questão.
A promotora Aline pretendia convencer os jurados de que Maicon sabia que disparava contra policiais e não contra possíveis adversários de facções rivais e que ele tinha a intenção de matar os agentes.
— Deu cinco tiros. Tudo que tinha no seu revólver. Atirou para matar e matou o Rodrigo. Felizmente não acertou mais ninguém e não matou a Raquel e o Edson (outros policiais que participavam da operação). Atirou para fugir da punição, pois estava com tornozeleira e sabia que se fosse preso naquela operação voltaria à cadeia. E isso para ele justifica a morte de um policial — concluiu a promotora.
Além de Maicon, são réus por envolvimento no caso Cristiane da Silva Borges, Marcos Leandro Marques Fortunato, Alecsandro da Silva Borges e Guilherme Santos da Silva. Os cinco acusados ouviram a promotora de cabeça baixa. Maicon e Alecsandro tinham copos servidos com café e esfregavam as mãos no rosto.
Em seguida, o promotor Amorim abriu sua explanação com a voz firme e trazendo reflexões literárias sobre a dignidade da vida. Distribuiu elogios aos participantes do júri, e usou uma Bíblia para comparar Maicon à figura do diabo.
— Não gosto de saudar réus, ainda mais quando há um psicopata entre eles. Maicon mente e mata igual ao diabo, porque é um psicopata — disparou, antes de elogiar e presentear o réu Marcos, o mais velho entre os acusados, com a mesma Bíblia.
— Sou cristão e confio na recuperação do ser humano. Entrego essa Bíblia que tenho desde o meu casamento, para quem eu acredito que tenha salvação. Te converte de vez — declarou o promotor.
Marcos aceitou o presente e ficou os próximos minutos lendo as primeiras páginas. Quando Amorim encerrou sua fala, já depois do meio-dia, o réu deixou a sala do júri abraçando a Bíblia contra o próprio peito.
Ao fim de sua fala, o enérgico Amorim afirmou que a absolvição de Maicon e seus comparsas seria um suicídio social. Segundo seu raciocínio, não condená-los autorizaria que outros criminosos no futuro disparassem contra a polícia em operações sem medo do julgamento.
— Todos devem sair daqui condenados. São gente ruim, na essência — pediu, complementando depois:
— Não podemos errar hoje. Temos um canhão apontado para os criminosos, e a defesa vai convidá-los a virar ele para a sociedade — concluiu, sempre falando aos jurados.
A defesa de Maicon estava desfalcada durante a manhã. Emiliana Gauer não esteve no Fórum pois tem sintomas de dengue. Pela tarde haverá tempo para a manifestação da defesa. Logo depois do meio-dia, Emiliane chegou ao local.