A Polícia Civil vai analisar as mensagens recebidas pela adolescente que, segundo registrado em vídeo feito por ela, um motorista de aplicativo estaria a assediando durante uma corrida na Região Metropolitana. A intenção é localizar outras possíveis vítimas do mesmo motorista, que fizeram relatos na redes sociais, mas não procuraram a Polícia Civil. O celular será entregue pela jovem nesta quarta-feira (19) para os investigadores.
Até então, o homem será responsabilizado por perturbação da tranquilidade, uma contravenção penal que prevê multa ou prisão simples (sem regime fechado). Conforme a titular da Delegacia da Mulher, Marina Dillenburg, ele ainda pode ser indiciado por crimes contra a honra ou importunação sexual se outros casos chegarem ao conhecimento dos investigadores.
Em depoimento à Polícia Civil na terça-feira (18), André Lopes Machado, 43 anos, alegou que a conversa foi editada e retirada do contexto. Ele ainda disse que teve uma conversa normal com a adolescente e que nunca recebeu nenhuma reclamação de outros passageiros.
Para GaúchaZH, ele reafirmou o que disse durante depoimento.
— O meu erro foi ter feito um elogio e o principal de todos foi não ter percebido que era menor e deixar entrar no carro. A diretriz da Uber é não transportar menor desacompanhado. Ela era uma moça de corpo exuberante, alta, não parecia ser menor (de idade). Se eu tivesse percebido que era menor, tinha cancelado a corrida.
GaúchaZH entrou em contato com a Uber, que informou que não há diretriz nesse sentido.
No diálogo gravado, a garota diz que é menor de idade, mas o homem responde afirmando que "Não é problema igual. Seria problema se tu tivesse 13 anos. Mas tu não tem 13 anos. Aí tu seria uma menor incapaz. De 14 anos para cima tu já é responsável".
O motorista ainda disse que o vídeo possui cortes e está editado para "parecer o que pareceu", e que em nenhum momento imaginou que poderia estar ofendendo a adolescente.
Confira o diálogo:
— É que eu sou menor de idade — diz a garota no vídeo.
— Não é problema igual. Seria problema se tu tivesse 13 anos. Mas tu não tem 13 anos. Aí tu seria uma menor incapaz. De 14 anos para cima tu já é responsável.
— O que tu falou? — indaga a adolescente.
— Eu namoraria contigo, se tu não tivesse namorado — diz o homem.
— Mas acho que tu tem idade para ser meu pai, assim — rebate a adolescente.
— Mas não sou teu pai — responde.
— Mas tem idade — afirma a adolescente.
— Eu faria coisas que teu pai não faria. Pode ter certeza.
— Eu não tenho interesse, obrigada.
— Estou só brincando. Não estou dizendo que deveria ter interesse.
Confira a nota completa da Uber:
A Uber considera inaceitável e repudia qualquer ato de violência contra mulheres. A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos dessa natureza às autoridades competentes. A conta do motorista parceiro foi banida assim que a denúncia foi feita.
A empresa defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro. Todas as viagens com a plataforma são registradas por GPS. Isso permite que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos e qual o trajeto realizado.
Como parte do processo de cadastramento para utilizar o aplicativo da Uber, todos os motoristas passam por uma checagem de antecedentes criminais realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos pelo próprio motorista e com consentimento deste, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o País em busca de apontamentos criminais, na forma da lei. A Uber também realiza rechecagens periódicas dos motoristas já aprovados pelo menos uma vez a cada 12 meses.
Desde 2018 a Uber tem um compromisso público para enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, materializado no investimento em projetos elaborados em parceria com entidades que são referência no assunto, que inclui campanhas contra o assédio e podcast para motoristas parceiros sobre violência contra a mulher, entre outras ações. Em novembro, a Uber anunciou um investimento de R$ 5 milhões para continuidade desse compromisso ao longo dos próximos anos.