A cantora Anitta comentou nas redes sociais nesta terça-feira (18) o caso em que uma adolescente teria sido assediada por um motorista de aplicativo durante uma corrida na Região Metropolitana. Nesta terça, após prestar depoimento na delegacia, o condutor do carro, André Lopes Machado, 43 anos, afirmou:
— Ela estava com um short do tipo Anitta (...) me chamando atenção — afirmou o motorista para a reportagem da RBS TV.
O comentário gerou resposta da cantora , que condenou o que definiu como uma tentativa de "justificar o injustificável":
"Acabei de receber este vídeo onde o motorista de uber que assediou uma passageira menor de idade tenta justificar o injustificável (seu assédio) dizendo que a menina estava usando um short 'tipo Anitta' e sentada numa posição favorável ao assédio", afirmou Anitta no Twitter.
"Nada justifica um assédio. A forma de se vestir, sentar, falar etc não significa qualquer autorização ou pedido ou convite a ser assediada e/ou invadida, abusada, estuprada etc."
Anitta também elogiou a menina pela atitude: "Quanto à menina estar usando um short 'tipo Anitta', pra mim significa que ela é independente, não tem medo de ser quem ela quer e, acima de tudo, bem inteligente pra denunciar e expor um assediador para que outras meninas não passem pelo mesmo que ela".
O caso na Região Metropolitana ocorreu durante uma viagem solicitada pela menina de 17 anos no último domingo (16). O diálogo entre os dois foi gravado por ela. Durante o trajeto, a adolescente diz ao homem que é menor de idade e ele afirma que isso "não é problema". Nos vídeos, a menina está gravando o próprio rosto, enquanto segue a conversa com o motorista (confira a transcrição do diálogo abaixo).
Machado é investigado pela Polícia Civil e deve responder por perturbação da tranquilidade, uma contravenção penal que prevê pagamento de multa ou prisão simples (sem regime fechado), em caso de condenação. Após o caso, ele foi banido pela Uber — veja a nota da empresa abaixo.
Segundo a delegada Marina Dillenburg, o homem alegou em depoimento que a conversa foi editada e retirada do contexto. Ele ainda disse que teve uma conversa normal com a jovem e que nunca recebeu nenhuma reclamação de outros passageiros.
Para a reportagem de GaúchaZH, ele alegou que não assediou a jovem, nem percebeu que era uma adolescente.
— O meu erro foi ter feito um elogio e principal de todos foi não ter percebido que era menor e deixar entrar no carro. A diretriz da Uber é não transportar menor desacompanhado. Ela era uma moça de corpo exuberante, alta, não parecia ser menor (de idade). Se eu tivesse percebido que era menor, tinha cancelado a corrida.
GaúchaZH entrou em contato com a Uber, que informou que não há diretriz nesse sentido.
O motorista ainda disse que o vídeo possui cortes e está editado para "parecer o que pareceu", e que em nenhum momento imaginou que poderia estar ofendendo a adolescente.
Confira o diálogo:
— É que eu sou menor de idade — diz a garota no vídeo.
— Não é problema igual. Seria problema se tu tivesse 13 anos. Mas tu não tem 13 anos. Aí tu seria uma menor incapaz. De 14 anos para cima tu já é responsável.
— O que tu falou? — indaga a adolescente.
— Eu namoraria contigo, se tu não tivesse namorado — diz o homem.
— Mas acho que tu tem idade para ser meu pai, assim — rebate a adolescente.
— Mas não sou teu pai — responde.
— Mas tem idade — afirma a adolescente.
— Eu faria coisas que teu pai não faria. Pode ter certeza.
— Eu não tenho interesse, obrigada.
— Estou só brincando. Não estou dizendo que deveria ter interesse.
Veja a nota completa da Uber:
A Uber considera inaceitável e repudia qualquer ato de violência contra mulheres. A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos dessa natureza às autoridades competentes. A conta do motorista parceiro foi banida assim que a denúncia foi feita.
A empresa defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro. Todas as viagens com a plataforma são registradas por GPS. Isso permite que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos e qual o trajeto realizado.
Como parte do processo de cadastramento para utilizar o aplicativo da Uber, todos os motoristas passam por uma checagem de antecedentes criminais realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos pelo próprio motorista e com consentimento deste, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o País em busca de apontamentos criminais, na forma da lei. A Uber também realiza rechecagens periódicas dos motoristas já aprovados pelo menos uma vez a cada 12 meses.
Desde 2018, a Uber tem um compromisso público para enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, materializado no investimento em projetos elaborados em parceria com entidades que são referência no assunto, que inclui campanhas contra o assédio e podcast para motoristas parceiros sobre violência contra a mulher, entre outras ações. Em novembro, a Uber anunciou um investimento de R$ 5 milhões para continuidade desse compromisso ao longo dos próximos anos.