Os pais de Dionatha Bitencourt Vidaletti, 24 anos, preso pelo triplo homicídio durante briga de trânsito na zona sul de Porto Alegre, alegam que tiveram três armas furtadas da residência da família, no bairro Nonoai. Entre elas, uma pistola 9 milímetros com as mesmas características da usada no crime no último domingo (26), no Lami. O registro de arrombamento da moradia foi feito na quinta-feira (30).
No depoimento dado à polícia na terça-feira (29), o autor confesso negou que tivesse acesso a esse tipo de arma. Um dia depois, contradizendo a versão, um homem relatou à Polícia Civil que em janeiro Vidaletti lhe enviou fotos de uma pistola 9 milímetros, adquirida recentemente. A partir dessa informação, a polícia descobriu o local onde a arma foi obtida e a nota fiscal em nome do pai do autor do triplo homicídio com data de 10 de janeiro — 16 dias antes do crime.
Para a investigação, essa prova contradiz a versão do rapaz de que ele não estava armado quando aconteceu a briga de trânsito. Vidaletti alega que uma das vítimas portava a pistola, que ele acabou usando para matar três pessoas da mesma família. O autor confesso das mortes sustentou em seu depoimento que cometeu o triplo homicídio em legítima defesa, pois sua mãe estaria sendo agredida. O registro do furto das armas foi realizado pela família dele um dia após a polícia divulgar essa informação sobre a compra da pistola.
Segundo o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a família alega que o furto aconteceu na mesma casa onde os policiais estiveram na segunda-feira. Em buscas na moradia, não foi encontrada nenhuma pistola 9 milímetros.
— (Segundo o registro do furto) teriam levado duas espingardas e a pistola calibre 9 milímetros. Curioso apenas que havíamos cumprido mandado de busca e apreensão antes e, depois de olharem em todos os locais, encontraram apenas a pistola 380 e um revólver calibre 38 — afirma o policial.
Após a família informar o furto, os policiais foram até a residência e foi realizada perícia. Na frente do imóvel, há uma guarita onde permanecem seguranças que vigiam a rua. Não foi relatado nenhum movimento anormal na moradia, conforme o delegado.
— Sendo a arma legal, nada impediria de que a família cedesse para polícia para que pudéssemos fazer a balística para afastar essa arma da cena do crime (como alega Vidaletti em depoimento), mas agora, sem a arma, fica mais difícil — explica o policial.
A polícia agendou para segunda-feira (3) o depoimento da mãe de Vidaletti, que estava com o rapaz no momento do crime. Os investigadores também pretendem ouvir nos próximos dias o pai dele.
O crime
Na tarde de domingo (26), uma família retornava de um aniversário em um sítio na zona sul de Porto Alegre. No trajeto, colidiram o carro em que estavam em uma Ecosport estacionada. Apesar da colisão, eles não pararam e seguiram viagem. Vidaletti seguiu a família e 4,2 quilômetros depois conseguiu alcançá-los na Estrada do Varejão. Houve uma discussão e ele matou a tiros Rafael Zanetti Silva, 45 anos, a esposa dele Fabiana da Silveira Innocente Silva, 44 anos, e o filho do casal Gabriel Innocente Silva, 20 anos.
Contraponto
Os advogados Marcos Ribeiro de Sousa e Michelle Costa Brião de Sousa, que defendem Dionatha Bitencourt Vidaletti, se manifestaram por meio de nota:
"Dionatha já foi condenado pela mídia e opinião pública antes mesmo de ter sido indiciado, processado e julgado. Nosso cliente exercerá o seu direito à ampla defesa e contraditório, os fatos serão demonstrados com clareza.
Ninguém tem o direito de matar, mas ninguém tem a obrigação de morrer sem defender sua mãe e a si próprio. A perícia irá demonstrar a veracidade quanto às alegações de violência física sobre o acusado e sua mãe.
A defesa protocolará um pedido de revogação de prisão preventiva e, se necessário, será impetrado habeas corpus a ser dirigido ao Tribunal de Justiça do RS.
Nossas alegações serão no sentido de que Dionatha Bitencourt Vidaletti é réu primário (ex-militar, sem nenhum antecedente criminal ou policial), possui residência fixa, trabalho lícito, além de ter se apresentado espontaneamente e estar disposto a colaborar com as investigações."