A Polícia Civil obteve mais indícios de que a pistola 9 milímetros usada no crime que resultou na morte de três pessoas da mesma família na zona sul de Porto Alegre, no último domingo (26), era de Dionatha Bitencourt Vidaletti, 24 anos, e não de uma das vítimas.
No depoimento prestado na terça-feira (28), o jovem confessou ser o autor do triplo homicídio durante uma briga de trânsito, no bairro Lami, mas alegou que estava desarmado e que agiu em legítima defesa. Uma nota fiscal e um áudio obtidos pela investigação, contudo, contradizem essa versão.
Segundo o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no dia 10 de janeiro — 16 dias antes do crime — uma arma com as mesmas características da usada no crime foi adquirida em nome do pai de Vidaletti. Ainda segundo o policial, o preso negou que a família tivesse esse tipo de arma.
— O que percebemos até o momento é que as armas adquiridas em nome do pai ou da mãe dele não eram de uso deles, e sim do autor. O que nos leva a crer que, neste caso, essa pistola também foi comprada para uso dele. E ele negou isso em depoimento. Disse que não tinha pistola 9 milímetros e agora descobrimos essa prova. Isso, de certa forma, derruba por terra a versão dele, de que não estava armado — afirma o delegado.
No depoimento, Vidaletti disse que, após o crime, se desfez da arma — que não foi localizada até o momento.
Além da nota fiscal, a polícia também obteve o relato de um amigo do jovem. Ele contou à investigação que recebeu mensagens e fotos de uma pistola 9 milímetros que havia sido comprada pelo autor do triplo homicídio.
Foi a partir desse depoimento que a polícia teve ciência da existência da arma e descobriu o local em que ela havia sido adquirida. Vidaletti não poderia comprar o produto legalmente, já que tem menos de 25 anos, o que explicaria, na visão da polícia, a nota estar em nome do pai dele.
Caso tivesse confirmado à polícia que a pistola havia sido adquirida pela família recentemente, segundo o delegado, a arma poderia ser recolhida para perícia e comparação balística.
Nesta quinta-feira (30), a investigação ainda teve acesso ao áudio de uma ligação realizada por uma das vítimas, Fabiana Silveira Innocente Silva, 44 anos, para a Brigada Militar (BM). A mulher foi morta junto ao marido, Rafael Zanetti Silva, 45 anos, e do filho do casal, Gabriel Innocente Silva, 20 anos. O telefonema aconteceu pouco antes de a família ser alvejada.
— A vítima afirma que há uma mulher armada no local. Isso condiz com o depoimento de outra testemunha, que afirma ter visto a mãe do autor armada, ao lado da porta do carro (Ecosport). Nesse momento, a Fabiana liga para a Brigada Militar e relata isso — explica o delegado.
No depoimento, Vidaletti alegou que a mãe teria passado a ser agredida pela família e que, por isso, ele atirou contra o casal e o filho deles. Mas, segundo o delegado, o tempo entre a ligação de Fabiana para BM e o som dos disparos foi de poucos segundos.
—Isso nos demonstra a dinâmica do delito. Quando ela liga para a BM, a mãe do autor já efetuou o disparo. Ela diz que tem "uma mulher louca apontando uma arma" e afirma na sequência que está com uma criança no carro. Logo depois, termina de falar, abandona o telefone e se ouvem os estampidos. Nos parece que não daria tempo de agredirem a mãe dele. É muito rápido, segundos — diz o policial.
Contraponto
Os advogados Marcos Ribeiro de Sousa e Michelle Costa Brião de Sousa, que defendem Dionatha Bitencourt Vidaletti, se manifestaram por meio de nota:
"Dionatha já foi condenado pela mídia e opinião pública antes mesmo de ter sido indiciado, processado e julgado. Nosso cliente exercerá o seu direito à ampla defesa e contraditório, os fatos serão demonstrados com clareza.
Ninguém tem o direito de matar, mas ninguém tem a obrigação de morrer sem defender sua mãe e a si próprio. A perícia irá demonstrar a veracidade quanto às alegações de violência física sobre o acusado e sua mãe.
A defesa protocolará um pedido de revogação de prisão preventiva e, se necessário, será impetrado habeas corpus a ser dirigido ao Tribunal de Justiça do RS.
Nossas alegações serão no sentido de que Dionatha Bitencourt Vidaletti é réu primário (ex-militar, sem nenhum antecedente criminal ou policial), possui residência fixa, trabalho lícito, além de ter se apresentado espontaneamente e estar disposto a colaborar com as investigações."