A jovem de 18 anos que presenciou a morte do namorado e dos pais dele no bairro Lami, na zona sul de Porto Alegre, prestou novo depoimento nesta quarta-feira (29) e manteve a mesma versão apresentada à Polícia Civil logo após o crime. Com o novo depoimento, a investigação pretendia buscar contradições na versão apresentada pelo atirador, que alega legítima defesa, ou até mesmo no relato inicial dela.
Segundo o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, a jovem foi questionada se em algum momento, nos três anos de convivência com a família, ouviu namorado ou sogro se referirem a alguma arma, o que foi negado por ela. Uma das alegações de Dionatha Bitencourt Vidaletti, 24 anos, preso na terça-feira (28), é de que agiu em legítima defesa após desarmar Rafael Zanetti Silva, 45 anos.
— Ela disse que, em nenhum momento, a família falou (sobre) ou manuseou armas. Disse que nunca viu arma na mão das vítimas — disse o delegado.
Garcia ainda questionou se a jovem se lembrava de que a mãe de Vidaletti havia realizado um primeiro disparo, para o chão, com a intenção de interromper agressões que estariam acontecendo. Ela disse que não percebeu, pois estava tentando manter a criança, de oito anos, segura dentro do carro.
— Ela nos relatou que viu frações do movimento, não o todo. Como estava cuidando da criança, tentava a todo momento distraí-la — conta o delegado.
A investigação ainda tenta entender os motivos que levaram Zanetti a fugir do local onde ocorreu a colisão. Segundo a jovem, o sogro havia bebido na festa em que estavam, o que pode ter motivado a fuga.
O delegado afirma que esse depoimento contradiz a versão do atirador, que ainda será confrontada com outros depoimentos. Dois testemunhos foram tomados ainda nesta quarta-feira (29). O primeiro foi de um amigo do atirador, que relatou que Vidaletti havia comprado uma pistola idêntica à usada no crime e enviado foto do armamento por rede social.
Outra pessoa ouvida foi uma mulher, sem relação com os envolvidos, que testemunhou o triplo homicídio. É a mesma pessoa que gravou um áudio que circula nas redes sociais. No depoimento, ela confirmou que a mãe de Vidaletti havia atirado para o chão e que o autor dos disparos teria brigado com a vítima.
A Polícia Civil ainda pretende ouvir familiares do atirador e das vítimas, bem como investigar o passado de Vidaletti. A pistola usada no crime, até o final da tarde desta quarta-feira, não havia sido localizada. Também foi apurado, junto à Polícia Federal, que nenhuma das vítimas tinha posse ou porte de arma.
O prazo para conclusão do inquérito é 7 de fevereiro, e o caso apurado é, por enquanto, de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e que impossibilitou a defesa das vítimas. Vidaletti foi encaminhado para o sistema prisional — em princípio, em uma cela reservada para preservar a sua integridade.
Contraponto
Os advogados Marcos Ribeiro de Sousa e Michelle Costa Brião de Sousa se manifestaram por meio de nota:
"Dionatha já foi condenado pela mídia e opinião pública antes mesmo de ter sido indiciado, processado e julgado. Nosso cliente exercerá o seu direito à ampla defesa e contraditório, os fatos serão demonstrados com clareza.
Ninguém tem o direito de matar, mas ninguém tem a obrigação de morrer sem defender sua mãe e a si próprio. A perícia irá demonstrar a veracidade quanto às alegações de violência física sobre o acusado e sua mãe.
A defesa protocolará um pedido de revogação de prisão preventiva e, se necessário, será impetrado habeas corpus a ser dirigido ao Tribunal de Justiça do RS.
Nossas alegações serão no sentido de que Dionatha Bitencourt Vidaletti é réu primário (ex-militar, sem nenhum antecedente criminal ou policial), possui residência fixa, trabalho lícito, além de ter se apresentado espontaneamente e estar disposto a colaborar com as investigações."