A principal testemunha da morte do namorado Gabriel da Silveira Innocente Silva, 20 anos, e dos sogros Rafael Zanetti Silva, 45 anos, e Fabiana da Silveira Innocente Silva, 44 anos, não consegue entender como uma discussão de trânsito terminou em três assassinatos na tarde deste domingo (26), no Lami, no extremo sul de Porto Alegre.
A família voltava de uma festa de aniversário em um Citröen Aircross que colidiu com a Ecosport de Dionatha Bitencourt Vidaletti, 24 anos. Irritado com a batida, o homem disparou contra os três. Além da garota, o filho mais novo do casal, de oito anos, também presenciou o crime.
A porto-alegrense de 18 anos conheceu Gabriel há três anos. Após passar o Ano-Novo em Florianópolis, o casal havia decidido que iria morar em Santa Catarina a partir de 2021. Dono de uma estética automotiva na Avenida Juca Batista, na Zona Sul da Capital, Gabriel pretendia abrir o negócio na capital catarinense. A jovem prestaria vestibular lá.
— A gente estava conversando muito sobre isso ultimamente, ele comentava que achava aqui muito violento e que lá era um Estado mais calmo. Ele voltou de Florianópolis encantado, achava que teria mais oportunidades lá — recorda a menina, que desde domingo é amparada por familiares e amigos.
Gabriel morava com os pais, mas passava a maior parte do tempo na casa da namorada. Os dois, que se conheceram por intermédio de uma amiga dela, se viam todos os dias.
— Éramos caseiros, gostávamos de cozinhar e ficar em casa.
Por telefone, a jovem, que preferiu não ser identificada, contou como presenciou ao assassinato da família do namorado:
Durante a briga, ficou com medo que acontecesse algo contigo?
Eu fiquei preocupada com o irmão do Gabriel. Que ele fosse sair do carro, quando ele viu a cena. Eu tentei acalmá-lo. E evitei que ele saísse do carro antes deles saírem do local. Foi horrível. Nós dois ficamos em choque. No primeiro momento, eu achei que a arma nem fosse de verdade. Mas quando eu cheguei perto, vi que eles tinham levado muitos tiros. Estavam sangrando demais. Não consegui nem acalmar a criança. Quando ele viu os pais, ficou em choque. Deve estar em choque até agora.
Tu chegou a sair do carro em algum momento antes dos tiros?
Quando eles levaram um tiro, cheguei a abrir a porta. Mas entrei de novo, porque achei que ele fosse atirar em mim e na criança. Eu só saí do carro quando eles foram embora.
Ao sair do carro, como reagiu?
Eu estava tentando ligar para o 190. Mas o Gabriel, que era o único que estava respirando, estava sangrando muito. Então comecei a gritar para os vizinhos chamarem o Samu e a BM, enquanto eu estancava o sangramento da cabeça dele. O socorro chegou em 20,25 minutos.
Alguém te ajudou antes da ambulância chegar?
Todos os moradores (do entorno) foram muito importantes. Me ajudaram com o Gabriel, a gente estava no sol. Eles fizeram sombra para mim. Eu estava ali com o Gabriel, ainda vivo. Me emprestaram pano para tapar o Rafael e a Fabiana, que já tinham morrido. Cuidaram o tempo todo da criança para mim. O Gabriel não conseguia falar mais, só gemia. Ele levou uns três ou quatro tiros, um foi na cabeça.
Vocês costumavam sair juntos com os pais do Gabriel?
Sim, principalmente quando era festa de família. Estávamos no aniversário de um integrante da nossa família. A gente sempre ia juntos, era seguido.
Deu só uma amassadinha na porta. Não foi nada absurdo. Uma batida, normal. Na hora a gente percebeu, mas a gente não imaginou que ele fosse fazer isso por algo tão simples de arrumar.
JOVEM DE 18 ANOS
Namorada de Gabriel Innocente
O carro em que vocês estavam passou de raspão pelo carro do autor dos disparos?
Deu só uma amassadinha na porta. Não foi nada absurdo. Uma batida, normal. Na hora a gente percebeu, mas a gente não imaginou que ele fosse fazer isso por algo tão simples de arrumar.
Ele parecia estar descontrolado?
Não parecia bêbado, mas muito descontrolado, uma cara de louco. Teve uma hora em que ele encostou o carro do lado do nosso. Ele e a mulher que estava com ele começaram a gritar. Ele com uma cara assim... nos ameaçava, dizendo para gente parar. E paramos.
Quando pararam o carro, qual era a intenção de vocês?
Era conversar para ver o que fazer. Ele não quis conversar. Aí ele começou a brigar e discutir.
Quem saiu do carro primeiro?
O pai do Gabriel. Depois saíram o Gabriel e a Fabiana, para defender. A mulher que estava com ele também saiu do carro, xingando e discutindo. Ela estava muito brava.
O homem já desceu do carro armado?
Eu não vi. Não sei se a arma estava escondida no corpo dele. Só vi quando apontou a arma para todos. Ele ficou ameaçando, atirou primeiro no Rafael, que estava na frente, depois na Fabiana e por último no Gabriel.
Tu chegaste a trancar a porta do carro por medo?
Não, não consegui trancar. Não sabia o que fazer. A porta do carona, onde estava a Fabiana, estava aberta. E eu não conseguia fechar, não sabia o que fazer. A criança estava apavorada e o carro não estava desligado, sabe? Estava ligado, fiquei com medo do carro andar, algo assim.
Depois de saírem da cena do crime, o que vocês fizeram?
O menino foi para casa dos dindos. E eu, como única testemunha, fui dar depoimento.
Não sei se a arma estava escondida no corpo dele. Só vi quando apontou a arma para todos. Ele ficou ameaçando, atirou primeiro no Rafael, que estava na frente, depois na Fabiana e por último no Gabriel.
JOVEM DE 18 ANOS
Namorada de Gabriel Innocente
Por tudo que aconteceu, tu te sentes uma sobrevivente?
Sinto, mas ao mesmo tempo não. Porque eu perdi três pessoas muito importantes na minha vida. É como se uma parte minha fosse junto.
Vocês nunca tinham passado por outro susto no trânsito?
Nunca. Rafael e o Gabriel gostam muito de carros. Sempre dirigiram muito bem. Claro, tinham aquele stress do trânsito, mas como qualquer pessoa. Nunca passei por nada como isso. Eles gostavam de correr de carro em Tarumã, andar em carros diferentes, eram muito parceiros para isso.
O trajeto que vocês fizeram já era conhecido da família?
Sim, já tínhamos ido para este sítio onde era o aniversário. A minha era a segunda vez, mas eles já tinham ido várias vezes.
Por que decidiram ir embora naquele momento?
O Rafael tinha um compromisso com um cliente às 15h30. Então, a gente saiu às 15h da festa. Fomos os primeiros a ir embora da festa. Ali é uma zona bem rural, não tinha carro passando.
Que lembrança tu vai guardar da família do teu namorado?
Vou lembrar de todas as vezes em que a gente estava fazendo churrasco, na piscina. A Fabiana é a pessoa mais engraçada que eu já conheci. O Rafael, um pai maravilhoso. O Gabriel era uma ótima pessoa para todo mundo que conhecia ele.