Em áudio obtido pela Polícia Civil, uma das vítimas de um triplo homicídio durante uma briga de trânsito na zona sul de Porto Alegre no último domingo afirma que uma mulher está apontando uma arma para ela. Em telefonema para o 190 da Brigada Militar, Fabiana Silveira Innocente Silva, 44 anos, disse que precisava informar uma emergência. Logo depois, a técnica em radiologia acabou sendo morta a tiros junto do marido, Rafael Zanetti Silva, 45 anos, e do filho Gabriel Innocente Silva, 20 anos. GaúchaZH teve acesso à transcrição do áudio, realizada pela investigação.
O autor confesso Dionatha Bitencourt Vidaletti, 24 anos, estava acompanhado da mãe durante a briga, que resultou no crime. Ele se apresentou à polícia na terça-feira (28), após ter prisão preventiva decretada. Ele alegou, no entanto, que não estava armado e que matou as três pessoas em legítima defesa. A versão dele é de que a pistola calibre 9 milímetros era de Rafael e que ele conseguiu desarmá-lo. O atirador alegou ainda que sua mãe chegou a efetuar um disparo em direção ao chão para cessar a briga. O telefonema de Fabiana, para o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, reforça a tese de que a pistola pertencia a Vidaletti.
— Essa ligação acontece após o disparo efetuado pela mãe do autor no chão — explica o delegado.
Durante o telefonema, o policial que atende a ligação tem dificuldade para compreender o relato da vítima. Ainda conforme o delegado, havia barulho no local e Fabiana estava "nitidamente irritada", o que dificultava o entendimento. Em determinado momento, a mulher abandona o telefone dentro do Aircross e sai do carro. Segundos depois, ouvem-se os disparos que atingiram a família.
Ainda segundo o delegado, testemunhas relataram que logo após o disparo feito pela mãe em direção ao chão os envolvidos retornaram para os veículos.
— (Depois do tiro ao chão) Parecia que a discussão iria terminar e que todos iriam embora, mas a vítima (Fabiana) estava muito irritada. No trecho que ela fala "tu vai ficar aqui véia" deixa transparecer que o autor e sua mãe estavam pretendo deixar o local. Fabiana inconformada vai na direção, como se quisesse que eles permanecessem naquele ambiente — explica.
Confira a transcrição
Soldado - Soldado (identifica-se), qual a emergência?
Fabiana - Eu quero falar uma emergência. Eu tô onde Rafael? (pergunta ao marido).
Rafael (ao fundo) - Na Estrada do Lami.
Fabiana - Na Estrada do Lami tem uma véia me apontando uma arma.
Soldado - Alô? Alô? Alô?
Fabiana - Com uma criança dentro do meu carro.
Soldado - Alô? Alô?
Fabiana - Tu vai ficar aqui véia (para a mulher com a arma). (Ao soldado) Ela tá me apontando a arma.
Soldado - Eu vou ter que desligar senhora porque eu não consigo escutar nada. Eu não estou entendendo nada.
(Neste momento, segundo a polícia, Fabiana abandona o telefone dentro do Aircross e sai. No fundo, escutam-se gritos e tiros).
Contraponto
Os advogados Marcos Ribeiro de Sousa e Michelle Costa Brião de Sousa, que defendem Dionatha Bitencourt Vidaletti, se manifestaram por meio de nota:
"Dionatha já foi condenado pela mídia e opinião pública antes mesmo de ter sido indiciado, processado e julgado. Nosso cliente exercerá o seu direito à ampla defesa e contraditório, os fatos serão demonstrados com clareza.
Ninguém tem o direito de matar, mas ninguém tem a obrigação de morrer sem defender sua mãe e a si próprio. A perícia irá demonstrar a veracidade quanto às alegações de violência física sobre o acusado e sua mãe.
A defesa protocolará um pedido de revogação de prisão preventiva e, se necessário, será impetrado habeas corpus a ser dirigido ao Tribunal de Justiça do RS.
Nossas alegações serão no sentido de que Dionatha Bitencourt Vidaletti é réu primário (ex-militar, sem nenhum antecedente criminal ou policial), possui residência fixa, trabalho lícito, além de ter se apresentado espontaneamente e estar disposto a colaborar com as investigações."