Há dois meses, Vinicius Teixeira Dutra da Silva, 19 anos, conversava com amigos, sentado na calçada na Rua Antônio João Francisco, na zona norte da Capital. Dois assaltantes se aproximaram e exigiram os celulares. Eles entregaram os aparelhos, mas durante o crime um dos ladrões atirou no peito do militar. Era o primeiro latrocínio (assalto com morte) registrado em novembro na Capital. Outros dois aconteceriam ao longo do mês, vitimando uma jovem e um contador. Os três casos envolvem roubos a pedestres e seguem sendo investigados, ainda sem respostas.
Vinicius costumava sair pouco de casa, pois os pais eram receosos com a violência. Preferiam que o filho levasse os amigos para a residência da família. Também por medo, aconselhavam o jovem a não investir em celular moderno. Temiam que o aparelho mais caro fosse chamariz a criminosos. A precaução tinha razão. Nos três latrocínios de novembro de 2019 — um a mais do que no mesmo período de 2018 — o alvo dos ladrões foi justamente o celular.
Naquele domingo, Vinicius estava com os amigos em casa, mas saiu para comer um lanche na residência de um deles. Os jovens conversavam quando os criminosos se aproximaram. Após roubar os celulares e atirar no militar, os dois escaparam. Vinicius chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Responsável pela apuração, o delegado Wagner Dalcin não repassa detalhes. Questionado sobre o andamento do caso, limitou-se a falar:
— Não posso abrir o que está acontecendo. E nem prever prazo de uma investigação, depende da realização de diligências.
O jovem, que atuava na Companhia de Comando do Comando Militar do Sul, no centro da Capital, sonhava em seguir a carreira no Exército. Nathana Stephany Marques Gay, 23 anos, também tinha planos para o futuro. Pretendia cursar psicologia e morar no Canadá. Na madrugada de 18 de novembro, foi morta com um tiro na têmpora enquanto tentava defender uma amiga de um assalto no bairro Cidade Baixa, onde morava. O delegado Paulo César Jardim também evita dar detalhes da investigação, mas garante que o caso está em fase de reunir provas para apontar a autoria. Segundo o policial, mais de 50 câmeras foram examinadas.
— A investigação está adiantada. Estamos trabalhando incansavelmente nesse caso. Nesse momento, numa fase judiciária para materializar provas. Solicitamos inúmeras perícias e continuamos com equipe especial para apurar os fatos — afirma o titular da 1ª DP.
Ainda no mês de novembro, Carlos Alberto Moreira Zanchy, 65 anos, foi morto no bairro São João, na Zona Norte. Ele estava em frente ao prédio em que mora a irmã, quando foi atingido por um golpe na cabeça. Ele havia deixado o carro em uma garagem próxima e seguido a pé. Quando chegou, telefonou para que a familiar jogasse a chave pela janela — o interfone estava quebrado.
A mulher atendeu a ligação, mas o irmão não respondeu. O contador já havia sido atingido por uma pancada e caído no chão. O ladrão fugiu levando o celular de Zanchy e deixou para trás a carteira com dinheiro e outros pertences. Segundo o delegado Cristiano de Castro Reschke, uma das suspeitas é que o autor tenha se assustado após o crime e escapado correndo. O caso segue investigado pela 4ªDP.
Ataques a pedestres
A estratégia para reduzir latrocínios, até então, era investir no combate a roubo de veículo. Agora, o ataque a pedestres causa preocupação às forças de segurança. E, nesse contexto, levar o smartphone é apontado como um dos principais objetivos dos criminosos.
— Percebe-se cada vez mais o celular como alvo. Em alguns casos, o criminoso ignorou pertences, como carteira com dinheiro, para levar o celular. Temos investigação específicas para combater a receptação, que é um problema. É difícil manter o receptador preso por muito tempo — afirma o subchefe da polícia, Fábio Motta Lopes.
Segundo o comando-geral da Brigada Militar, metade dos 12 latrocínios que aconteceram em Porto Alegre em 2019 foi motivada por roubos a pedestres. Em 2018, esse índice era de 15%. O roubo de veículo era o principal delito que resultava em morte: 54%.
— Diferentemente do homicídio, no latrocínio a escolha do alvo é aleatória. Não há vínculo entre autor e vítima. O que torna a investigação mais complexa. Mas sempre que acontece, é prioridade. Nosso índice de elucidação é alto (85,61% — até novembro de 2019), embora, claro, não vá trazer a vida de volta — conclui o delegado Lopes.
Proteja-se
- Evite andar com fones de ouvido, uma vez que você pode não perceber a aproximação do criminoso.
- Mantenha celulares e outros objetos de valor guardados. O criminoso escolhe o alvo mais fácil.
- Não carregue todos seus pertences, como cartões e documentos, se não houver necessidade.
- Evite andar sozinho, especialmente à noite, em locais pouco movimentados.
- Se perceber que está sendo seguido, altere o caminho. Tente pedir ajuda e se abrigar em algum local que esteja aberto, como estabelecimento comercial.