Vinicius Teixeira Dutra da Silva completou 19 anos em 4 de agosto. Morava na casa dos pais, na zona norte de Porto Alegre, e brincava que não sairia de lá tão cedo. A despedida, contudo, ocorreu de forma prematura e violenta, sem que ele pudesse escolher.
Na manhã desta segunda-feira (4), o jovem, que morreu após ser atingido por um tiro no peito em um assalto, teve o corpo sepultado. A despedida aconteceu no cemitério Jardim da Paz.
Enfileirados, sob chuva, militares formaram uma guarda-fúnebre e acompanharam o caixão, coberto com a bandeira do Brasil. O jovem servia na Companhia de Comando do Comando Militar do Sul, no centro da Capital.
Ao fim do trajeto, o caixão foi carregado pelos colegas do soldado. Houve salva de tiros.
Vinicius residia no bairro Costa e Silva com os pais, Júlio César e Alessandra, e a irmã, de 11 anos. O jovem passou o sábado em casa com a família. Com dois amigos, ficou a tarde jogando videogame. Os pais incentivavam que ele recebesse os colegas em casa.
À noite, os três seguiram até a residência de um deles, a poucas quadras dali. Pediram um lanche e ficaram sentados na calçada em frente à casa. Foi quando foram abordados por dois criminosos.
Os bandidos roubaram os celulares dos jovens e um deles disparou contra o peito de Vinicius. O soldado chegou a ser socorrido, mas não resistiu.
Carreira militar
Um dos sonhos de Vinicius era dar sequência à carreira militar. Segundo a tia, Luciana Dutra da Silva, 48 anos, o jovem fazia curso técnico de enfermagem.
— Ele se empenhava bastante e queria continuar na carreira. Era o sonho dele, que ele não conseguiu concretizar — lamenta.
A tia, irmã do pai de Vinicius, diz que o rapaz era muito apegado à família. Os pais incentivavam que ele ficasse mais em casa, por receio da violência nas ruas.
— Ele saía pouco. Costumava receber muitos amigos em casa. Eles sempre foram pais muito cuidadosos. Se o Vinicius saía, o pai dele pedia o Uber ou ia buscar — recorda.
O jovem também planejava adquirir o primeiro carro. No ano passado, ao completar 18 anos, comemorou em uma festa com a família. Uma apresentação de dança com a mãe e a irmã marcou a celebração. Quando a família ia passar os veraneios em Cidreira, era comum Vinicius ir acompanhado dos amigos. Era um jovem que conquistava amizades.
— Ele era aquele filho amado, querido por todos. Alegre. Vivia brincando com o pai. Não tinha quem não gostasse do Vinicius. Era o menino que levantava no ônibus para outra pessoa sentar, que se te via carregando uma sacola se oferecia para ajudar. Ele era assim — lembra a tia.
Segundo Luciana, os amigos não teriam percebido que se tratava de um assalto quando foram abordados. Chegaram a pensar que fosse uma brincadeira.
Vinicius entregou o celular, como exigiram os criminosos, mas foi alvejado no peito. A tia conta que o sobrinho chegou a pensar em trocar o modelo do aparelho, por um mais novo, mas os pais desaconselharam. Não viam necessidade. Ele aceitou.
— Ele não resistiu. Entregou tudo. Nem se levantou da calçada. Nós ensinamos o Vinicius a nunca ferir ninguém, nem com palavras. Mas levaram um celular velho e mataram meu sobrinho — lamenta Luciana.
Investigação
O caso é investigado pela Polícia Civil, mas até o momento não há informações sobre identificação ou prisão de suspeitos. Familiares da vítima e testemunhas do crime deverão ser ouvidos ao longo desta segunda-feira.
— As investigações estão em curso, temos diversas pistas a serem seguidas, mas não vamos nos manifestar até para não atrapalhar as investigações e não lançar eventuais informações que ainda não estão confirmadas — afirmou o delegado Daniel Mendelski.
Por nota, o Comando Militar do Sul lamentou o crime:
É com pesar que informamos o falecimento do Soldado Vinicius Teixeira Dutra da Silva, de 19 anos, de Porto Alegre, morto covardemente em um assalto, mesmo entregando tudo que foi pedido.