O clima entre integrantes da comunidade de transexuais em Santa Maria é de medo. A morte de mulheres transgêneros já vinha preocupando os movimentos LGBT+ da cidade, mas o receio se acentuou ainda mais na terça-feira (22), depois que Morgana Cláudia Ribeiro, 37 anos, foi encontrada morta dentro de casa. Ela é a quinta transexual vítima de homicídio nos últimos cinco meses na Região Central. Antes, em 1º de janeiro, Selena Peixoto, 39 anos, foi assassinada a tiros na frente de casa, em Dilermando de Aguiar, 50 quilômetros distantes de Santa Maria.
— Estamos com medo de sair na rua — diz Marquita Severo, uma das coordenadoras da ONG Igualdade, entidade de defesa dos direitos LGBTs em Santa Maria.
Das cinco vítimas, duas delas foram assassinadas durante a madrugada, em pontos de prostituição. Mas, para Marquita, todas as transexuais, inclusive as que não se prostituem, estão com medo de sair, até durante o dia.
— Para mim, que sou militante, dizer isso me dói muito, mas eu não sei se, ao sair da porta da minha casa, não vou ser mais uma vítima. E não estou na prostituição, mas também me sinto vulnerável. Estamos vendo que há retrocesso — afirma Marquita.
As investigações dos crimes que vitimaram as outras quatro mulheres não apontaram a motivação como sendo ódio pelo gênero. Segundo a polícia, duas mortes estariam relacionadas com desacerto nos valores de programas sexuais, uma seria motivada por dívida envolvendo a venda de um cavalo e a outra por uma discussão por um capacete. Não haveria nenhuma relação entre os crimes e a Polícia Civil garante que não há nenhum grupo que tenha como objetivo matar transexuais.
Marquita diz que entende que as motivações para os crimes não estejam diretamente ligadas ao fato de as vítimas serem transexuais, mas ela acredita que, no fundo, a questão do preconceito contribuiu para os crimes:
— Acredito que tenha um recorte dessa questão de gênero, porque estão matando mulheres trans, não estão matando mulheres, gays. Então, essas mortes, por mais que seja coincidência, tem essa questão de gênero. Temos de fazer esse debate— analisa.
Casos
7 de setembro
Caroline Dias, 27 anos, foi morta a tiros durante a madrugada na esquina da Avenida Borges de Medeiros, em Santa Maria, ao recusar um programa sexual.
À noite, no bairro Tancredo Neves, Nemer da Silva Rodrigues, conhecida como Mana, foi assassinada a facadas por dois jovens após um desentendimento por conta de um capacete.
12 de setembro
Verônica Oliveira, 40 anos, conhecida como Mãe Loira, que mantinha um alojamento para transexuais na cidade e era uma das líderes do movimento LGBT+ em Santa Maria, foi morta com uma facada após um desentendimento por um programa sexual.
1º de janeiro
Selena Peixoto, 39 anos, foi assassinada a tiros na frente de casa , no interior de Dilermando de Aguiar, a 50 quilômetros de Santa Maria, também na Região Central. A motivação seria por conta da dívida que um deles tinha com a mulher pela compra de um cavalo por R$ 600. Selena criava equinos e mantinha uma casa de religião africana.