O porteiro que implicou o presidente da República Jair Bolsonaro no caso Marielle Franco mudou a sua versão em depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira (20). De acordo com os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, que tiveram acesso ao depoimento, ele afirmou que se enganou ao dizer que Élcio Queiroz, um dos acusados de matar a vereadora em março de 2018, iria para a casa 58 do condomínio Vivendas da Barra, onde morava Jair Bolsonaro.
O atual presidente da República e então deputado federal estava em Brasília no dia 14 de março, quando Marielle foi assassinada. No segundo depoimento, o funcionário afirmou que estava se sentindo "pressionado", segundo o Estadão, mas não explicou quem o pressionava.
O caso está sendo apurado pela Polícia Federal desde o dia 6 de novembro, a pedido do Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro. O MPF no Rio requisitou o inquérito para esclarecer se o porteiro cometeu os crimes de obstrução da Justiça, falso testemunho e denunciação caluniosa.
A requisição é consequência de um ofício no qual o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu a instauração de um inquérito para apurar as circunstâncias da citação ao presidente. O ofício foi remetido ao MPF-RJ no dia 30 de outubro pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.
Reportagem do Jornal Nacional do dia 29 de outubro indicou que um porteiro (cujo nome não foi revelado) deu depoimento dizendo que, no dia do assassinato da vereadora, Élcio de Queiroz, ex-policial militar suspeito de envolvimento no crime, afirmou na portaria do condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, que iria à casa de número 58 — que pertence a Bolsonaro, na época deputado federal.
Segundo o depoimento do porteiro, ao interfonar para a casa de Bolsonaro, um homem com a mesma voz do presidente teria atendido e autorizado a entrada. O suspeito, no entanto, teria ido a outra casa dentro do condomínio — a de Ronnie Lessa, também acusado de ter matado a vereadora.
Na planilha de controle da portaria do condomínio, apreendida pelo Ministério Público, constava que no dia 14 de março de 2018 — quando Marielle foi assassinada — Élcio havia ido para a casa 58, que pertence a Bolsonaro. Nos áudios que registram a entrada de visitantes no prédio, no entanto, é possível verificar que a entrada de Élcio foi autorizada por um homem na casa 65, de Lessa. A perícia realizada a pedido do MP-RJ concluiu que esse homem era o próprio Lessa.
No dia seguinte à veiculação da reportagem, a Promotoria organizou uma entrevista coletiva para jornalistas, na qual a promotora Simone Sibilio disse que o porteiro havia prestado informações falsas. Na ocasião, o órgão não citou hipóteses que pudessem explicar o depoimento do porteiro e a anotação na planilha do número 58, referente à casa de Bolsonaro.
Durante a entrevista, a Promotoria afirmou que não sabia se a gravação registrada na portaria é do mesmo porteiro que prestou depoimento.