A Justiça aceitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público contra o policial militar Ângelo Coppolla Júnior por homicídio duplamente qualificado. Agora, o soldado que atuava no 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM) tornou-se réu por, segundo a promotoria, ter assassinado com cinco tiros de submetralhadora um suspeito de roubo desarmado e rendido dentro do condomínio Princesa Isabel, em Porto Alegre, em março de 2018. O rapaz morto, Lucas Soares Silva, 21 anos, teria roubado uma fruteira horas antes.
Ao aceitar a denúncia, a juíza Cristiane Busatto Zardo, da 2ª Vara do Júri do Foro Central, também determinou que o réu apresente sua manifestação em 10 dias. A magistrada ainda autorizou novas diligências solicitadas pela promotoria à Polícia Civil — como depoimentos de testemunhas e entrega de laudos periciais do Instituto-Geral de Perícias ainda não anexados ao processo. GaúchaZH tenta contato com a defesa do policial.
Após um ano e cinco meses, a denúncia foi entregue nesta terça-feira (27) ao Judiciário. O MP entendeu que o homicídio foi praticado mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, pois o denunciado "atirou contra a vítima mesmo após ela já estar rendida, desarmada e deitada no chão", reduzindo qualquer possibilidade de reação ou defesa. Ainda segundo a denúncia, o crime foi cometido por motivo torpe, já que o policial "deu vazão a sentimento pessoal de ódio a partir da presunção que expressou quanto ao envolvimento da vítima com a criminalidade".
Testemunhas ouvidas pelo órgão declararam que Coppolla disse, após abrir fogo, que Silva “era um vagabundo e que não gostava de ninguém do condomínio”. Ferido pelos cinco tiros, o suspeito de roubo foi colocado na viatura e levado pelos demais PMs para atendimento no Hospital de Pronto Socorro, onde foi confirmado o óbito.
Ainda conforme a denúncia, o PM estava no condomínio após ser chamado em razão do roubo na fruteira, que fica no bairro Santana. Na ocasião, quatro homens teriam rendido o balconista e exigido dinheiro, pacotes de cigarros, fardos de cerveja, caixas de chocolates, documentos e dois celulares. No documento, o MP também apresentou denúncia contra os suspeitos do roubo — afirmando que a vítima do assassinato, Silva, havia cometido o crime antes.
Apuração feita pela BM
À época dos fatos, o tenente-coronel Alexandre Brite, comandante do 1º Batalhão de Polícia Militar, informou que os policiais teriam sido recebidos a tiros e pediram reforço da corporação. Os moradores reagiram às declarações com protesto que bloqueou a Avenida Bento Gonçalves.
Pessoas que vivem no condomínio disseram na ocasião que havia crianças na sacada e moradores no pátio quando a BM entrou no local rendendo Silva. Na denúncia, o MP diz: "Depois de o jovem estar com os braços acima da cabeça, os agentes atiraram, e após, teriam levado arrastado para um porta-malas".
O inquérito policial militar (IPM), feito pelo 1º BPM, entendeu que os policiais agiram de maneira correta. O comando da unidade concluiu que os PMs atuaram no estrito dever legal, em legítima defesa própria e de terceiros, já que Silva estaria com um revólver.
Ainda na terça, o atual comandante do 1º BPM, Leandro da Luz, declarou que o policial foi encaminhado para o Grupamento de Supervisão de Vigilâncias e Guardas após "problemas internos".
Segundo o subcorregedor da BM, tenente-coronel Cleberson Bastianello, com o oferecimento da denúncia, um novo procedimento interno pode ser aberto contra Coppolla e resultar até em sua expulsão da corporação. Isso só ocorrerá após a Brigada ser notificada pelo MP, o que ainda não ocorreu. Para o oficial, a denúncia não muda o entendimento da apuração interna do 1º BPM, que inocentou o policial.
Mãe de jovem procurou secretário da Segurança
Após a morte de Silva, a mãe do rapaz, Cíntia Soares, mudou a vida para tentar responsabilizar o policial. Ela declara que acredita na inocência do seu filho.
— Fiquei um ano atrás de provas e testemunhas para incriminar o policial militar que se dizia inocente perante um processo. Mentiu em uma ocorrência, alegando que teve perseguição e troca de tiros. Isso não aconteceu. Provei um assassinato brutal contra meu filho e vou provar que meu filho é inocente — afirma Cíntia, que teve uma reunião com o secretário da Segurança Pública à época, Cezar Schirmer, para denunciar supostas irregularidades na ação da BM.
A mãe ainda contesta a forma com que seu filho foi reconhecido como autor do crime, pelo MP, já que não havia câmeras na fruteira.