Moradores do Condomínio Princesa Isabel, no bairro Santana, bloquearam as avenidas Bento Gonçalves e Princesa Isabel em protesto contra a morte de um jovem neste sábado. Segundo a Brigada Militar, um suspeito de assaltar um mercado, cuja identidade ainda não foi informada, foi baleado em troca de tiros com policiais.
Aos gritos de "justiça", cerca de 50 manifestantes atearam fogo em pneus nas vias por volta das 20h. O Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Brigada Militar (BM) chegou ao local cerca de meia hora depois. Com bombas de efeito moral, dispersou os manifestantes. Segundo moradores, a razão do protesto teria sido a morte a tiros dentro do condomínio.
— A gente estava aqui e, quando vê, entraram os brigadianos e atiraram no menino. Mataram, botaram dentro do carro e mandaram embora. É um absurdo, nós temos 350 crianças aqui dentro, temos uma creche, o senhor já imaginou? Por isso que nós botamos fogo. Não dá para deixar que aconteça isso. Hoje atiraram nesse. Mesmo que não fosse inocente, ele estava rendido, deitado no chão. O que é isso? Alguém tem que tomar uma tenência, a gente sabe que isso aqui é uma boca de tráfico, mas eles vêm de lá matar as pessoas aqui? — disse Eurides Teresinha Pires da Costa, presidente da associação dos moradores.
Bombeiros foram acionados para apagar as chamas nos pneus. A Bento Gonçalves, na esquina entre as duas avenidas, foi bloqueada. A Princesa Isabel foi liberada uma hora depois do início do protesto.
A Brigada Militar (BM) afirma que o homem foi baleado ao trocar tiros com os policiais e morreu em atendimento no Hospital de Pronto Socorro (HPS). De acordo com a ocorrência, o confronto teve início após um assalto à fruteira Zerbes, na Rua Jacinto Gomes, no bairro Santana. Três homens armados teriam chegado ao local em um Ford Focus e em um Renault Logan e roubado dinheiro e mercadorias do local.
Segundo a BM, um dos celulares roubados foi rastreado no Condomínio Princesa Isabel. Quando uma guarnição chegou no local, relata a polícia, encontrou "vários indivíduos armados. Houve troca de tiros e um indivíduo foi alvejado e socorrido ao HPS, vindo a entrar em óbito." De acordo com a BM, o homem teria sido reconhecido como o autor do roubo.
Indignados, moradores contaram uma versão diferente da polícia. Segundo Cíntia da Silva, não houve reação:
— Gritaram para abordar ele. Só que ele estava indo numa boa, com a mão na cabeça, e atiraram nele. Daí ele caiu no chão e deram mais tiro nele, sem reagir sem nada.
Outra moradora, que se identificou apenas como Elizângela, também disse que o homem foi atingido no pátio, após estar dominado.
— Ele botou a mão na cabeça, e o brigadiano atirou nas costas dele. Começaram a atirar e a gritar para todo mundo sair da janela. Entrou mais policiais correndo. Se juntaram e pegaram o cara pelos pés e pelos braços. Abriram o porta-malas do carro e atiraram o corpo dentro — relatou.
Condomínio tem histórico de domínio do tráfico
Situado a 250 metros do Palácio da Polícia, o condomínio popular se tornou um símbolo do poderio do tráfico de drogas em Porto Alegre. Em 2015, uma das paredes recebeu um mural em homenagem a Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, considerado um dos chefes do tráfico na Capital e que havia sido assassinado meses antes no Litoral. O grafite, de 60m2, foi visto como apologia ao crime pela polícia e, depois, apagado. No ano passado, outra operação da polícia tentou identificar se imóveis vinham sendo tomados por quadrilhas do tráfico.