A ocorrência que se iniciou com um assalto a uma fruteira, na Rua Jacinto Gomes, bairro Santana, na Capital, terminou com a morte de um dos três suspeitos do roubo, e divergências entre a Brigada Militar e os moradores do condomínio onde ocorreu a ação policial, no sábado (24). No conjunto habitacional Princesa Isabel, Lucas Soares Silva, 21 anos, foi baleado pelos PMs.
Segundo os moradores do condomínio, por volta das 19h, havia crianças nas sacadas e moradores no pátio, quando a polícia entrou no local rendendo Silva. Conforme relatos, depois de o jovem estar com os braços acima da cabeça, os agentes atiraram, e após, teriam levado arrastado para um porta-malas.
Familiares de Silva, que pediram para não serem identificados, contaram que o jovem frequentava o condomínio para visitar uma namorada, que eles não conheciam. Ele teria chegado no local por meio de um aplicativo de transporte e foi abordado pelos PMs. Lá, segundo um tio, foi executado.
Conforme o parente, o sobrinho era o mais velho de três irmãos, morava com os pais no bairro Glória, cursava o 1º semestre de Administração e já teve "problemas com a polícia, mas sem condenação". Silva, segundo o tio, levou cinco tiros no tórax. O enterro foi na noite deste domingo (25), na Capital.
— A gente estava aqui e, quando viu, entraram os brigadianos e atiraram no menino. Botaram dentro do carro e mandaram embora. É um absurdo. Temos 350 crianças aqui dentro, temos uma creche. Por isso que botamos fogo (em pneus e lixos). Não dá para deixar que aconteça isso. Mesmo que não fosse inocente, estava rendido, deitado no chão — disse Eurides Teresinha Pires da Costa, presidente da associação dos moradores do condomínio.
Segundo o tenente-coronel Alexandre Brite, comandante do 1º BPM, após a primeira ocorrência, registrada no bairro Santana, foi possível rastrear o telefone celular roubado, no qual a localização apontava para o condomínio. Conforme o oficial, os policiais teriam sido recebidos a tiros e pediram reforço da corporação.
Vítimas de roubo reconheceram rapaz
Segundo Brite, após ser baleado, o suspeito foi levado ao HPS, mas, no caminho, acabou morrendo. Com Silva, segundo a BM, foram encontrados o dinheiro roubado no assalto, um celular, uma arma calibre 38, duas bases para carregar rádios comunicadores e três tijolos semelhantes a maconha.
Ainda de acordo Brite, Silva tinha passagens por porte ilegal de armas e furto qualificado. As vítimas do assalto na fruteira reconheceram o jovem como um dos criminosos. Segundo o diretor de Investigações da Delegacia de Homicídios, delegado Gabriel Bicca, o laudo sobre a morte do suspeito ficará pronto em até 30 dias. Até lá, não é possível fazer afirmações sobre o caso.
"Ele estava rendido"
Os moradores do Princesa Isabel falam que o que crianças e adultos viram foi uma execução, seguida de ameaças aos moradores.
— Uma das crianças viram tudo, porque ela estava na janela da casa dela. Depois que o homem, que nem morava aqui morreu, eles gritavam para saírem das janelas e que estavam indo embora. Sabemos que aqui é um lugar que tem tráfico de drogas, mas eles se sentem no direito de chegar e matar qualquer um aqui dentro, porque qualquer coisa que disserem, vão acreditar. Afinal, se alguém contestar, vão dizer que é envolvido com o tráfico — reclama uma mulher, que vive há dez anos no local.