Um dos 55 filhos da pastora e deputada Flordelis de Souza (PSD-RJ), 58 anos, disse à Polícia Civil que acredita que a mãe tenha sido a "mentora intelectual" do assassinato do marido, Anderson do Carmo, 42, ocorrido em Niterói, Rio de Janeiro, no dia 16 de junho. A afirmação foi feita dois dias após o crime por Wagner Andrade Pimenta, 40, em depoimento ao qual o jornal Extra teve acesso.
Wagner, um dos primeiros filhos adotados pelo casal, é conhecido como "Misael da Flordelis", nome que usa como vereador do MDB em São Gonçalo e como pastor na igreja da mãe. Ele deixou a congregação no final de junho.
A reportagem entrou em contato com o gabinete dele, mas não teve retorno até o fim da tarde desta quarta-feira (21). A Polícia Civil do Rio diz que a investigação corre sob sigilo e não confirma as declarações divulgadas. Flordelis nega as acusações.
Na semana passada, Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas dos Santos de Souza, outros dois filhos de Flordelis e Anderson, foram oficialmente acusados pelo homicídio.
Em entrevista a jornalistas, a delegada responsável pelo caso, Bárbara Lomba, confirmou que a polícia "tem identificações" que apontam para possível participação de mais pessoas no crime. Ela não descartou o nome da deputada.
Segundo o Extra, Misael contou à polícia que Anderson perdeu quase 20 quilos e ficou internado por cinco dias em um hospital, em outubro do ano passado. Ele acredita que o pai estava sendo dopado a pedido da mãe. Pelo menos três filhos do casal confirmaram que remédios eram dados a Anderson.
Misael afirmou ainda que Flordelis suspeitava que o marido a estava enganando com relação a dinheiro, e que "manipulando os filhos, ela encontrou alguém com coragem para matar Anderson".
Em outro depoimento, realizado seis dias depois do primeiro, Misael afirma que foi Flordelis quem digitou uma das mensagens enviadas a Lucas, pedindo a morte de Anderson. As mensagens teriam sido enviadas por Marzy Teixeira, uma das filhas da deputada, em um tablet de Anderson, roubado em 2018. Marzy teria confirmado à mulher de Misael que uma delas foi escrita por Flordelis.
O próprio Anderson encontrou a mensagem que, segundo o filho, ficou armazenada na nuvem. Misael diz que viu a mensagem quando conseguiu acesso ao celular do pai, um dia depois do crime. Ele fotografou a tela e entregou a imagem à polícia, de acordo com a publicação.
Marzy confirmou em depoimento, também revelado pelo jornal, que pediu a Lucas para matar o pai e que ofereceu a ele R$ 10 mil. O dinheiro seria roubado do próprio pastor. Ela também teria pedido que o crime fosse cometido a caminho de casa, simulando um assalto.
Marzy diz que contou para Flordelis sobre o plano, e que a mãe disse que não tinha dinheiro e que ela não deveria fazer nada de que se arrependesse. A filha adotiva do casal disse ainda que mudou de ideia e pediu que Lucas desistisse do plano. Ele nega ter aceitado a proposta da irmã.
Outro filho do casal, Daniel dos Santos de Souza, também ouvido no dia 18 de junho, apontou o possível envolvimento de Flordelis, dos dois irmãos que estão presos, de duas irmãs e de uma neta da deputada. No relato, ele diz que ouviu a mãe falar que a hora de Anderson chegaria.
O jornal cita ainda outros três filhos que prestaram depoimento apontando suspeitas sobre a deputada: Luan Santos, Kelly Cristina dos Santos e Roberta Santos. Kelly contou que ouvia com frequência de Flordelis que "no dia em que Anderson não estivesse mais ali, as coisas iriam melhorar". Luan, que ouviu da irmã Simone dos Santos, que ela era a responsável pelos problemas de saúde de Anderson.
Simone, 35, uma das filhas biológicas de Flordelis, de acordo com depoimento da mãe de Anderson, Maria Edna do Carmo, teve um relacionamento com ele na adolescência, antes que ele namorasse a deputada. A mãe do pastor assassinado relatou ainda que ouviu de um fiel da igreja da família boatos de que ele e Simone estariam tendo um caso.
Na tarde de quarta-feira (21), Flordelis publicou uma nota oficial em sua página no Instagram, onde nega todas as acusações de Misael e diz que Daniel está "claramente instruído" pelo irmão, "de quem se aproximou muito na vida a ponto de exercer cargo de confiança no gabinete do vereador".
Acusando o filho de "ambição", Flordelis diz que ele tentou "atropelar o projeto político do grupo" ao se lançar candidato a deputado estadual em 2018 e que teve "discussão acirrada" com Anderson sobre concorrer à prefeitura de São Gonçalo.
Misael, segundo ela, não teria aceitado quando foi decidido que a mãe seria a candidata. "A contrariedade dele de não ter sido escolhido não justifica tamanha crueldade", segue.
Há quatro dias, a deputada respondeu ao comentário de um seguidor em uma de suas redes sociais, sobre supostas motivações financeiras na morte de Anderson. Dizendo que não teria "problema algum" em mostrar a ele o histórico bancário do marido.
Segundo ela, as igrejas lideradas pelo casal — que levam seu nome, Ministério Flordelis — também estavam com aluguel atrasado e tiveram a dívida quitada graças às economias dela.
— Não tenho nada para confessar, amo meu marido e jamais transformaria meus filhos em assassino. Deus te abençoe — conclui ela.