A mãe do pastor Anderson do Carmo disse à polícia que corriam boatos de que seu filho estava tendo um caso amoroso com uma das filhas biológicas da deputada federal Flordelis de Souza (PSD-RJ) antes de ele ser assassinado, há dois meses.
Segundo o jornal Extra, Maria Edna do Carmo afirmou em depoimento no dia 24 de julho que o mesmo fiel que lhe relatou os rumores perguntou se Anderson estava se separando da parlamentar. A Polícia Civil fluminense não confirmou as declarações e informou apenas que a investigação corre sob sigilo.
A sogra da deputada contou que seu filho já havia se relacionado com Simone dos Santos, 35, na adolescência, antes de namorar com Flordelis, de acordo com a publicação. Maria Edna disse que a nora havia acompanhado sua gravidez e convivido com Anderson durante sua infância.
Ela era contra o namoro dos dois. O casal se juntou em 1991, quando ele, ainda um jovem de 14 anos que já trabalhava na igreja e fazia um curso de administração, se encantou com a mulher que "resgatava" jovens em bailes funk da favela do Jacarezinho (zona norte carioca). Ela tinha então 30 anos, 16 a mais que ele.
A mãe de Anderson disse aos investigadores que acredita que tanto Flordelis como Simone e uma das netas participaram do crime junto com Flávio, outro dos quatro filhos biológicos da deputada (mas não do pastor). Ele e o irmão adotivo Lucas Cezar dos Santos de Souza, 18, estão presos preventivamente desde a morte. Para Maria Edna, a nora está tentando incriminar o mais jovem.
Ambos foram denunciados pelo Ministério Público estadual na quinta-feira (15) por homicídio qualificado — por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima — e transferidos recentemente da Delegacia de Homicídios de Niterói (região metropolitana do Rio) para o presídio Bangu 9, na zona oeste carioca.
Flávio também é acusado por posse ou porte ilegal de arma de fogo, pela pistola que foi achada em seu quarto após o assassinato, com o número de série raspado. Ele chegou a confessar os disparos, mas sua defesa tenta anular o depoimento por ele não ter sido acompanhado. Já Lucas, suspeito de comprar o armamento, alega que não sabia que o objeto seria usado no crime.
A delegada Bárbara Lomba afirmou na semana passada que não descarta a ligação de Flordelis nem de qualquer outro membro da família no caso. O inquérito foi desmembrado e, nesta nova fase, vai apurar outras pessoas envolvidas. A principal linha de investigação aponta para "razões financeiras", ligadas à "administração de bens".
Remédios, fogueira e celular
A mãe de Anderson falou para os agentes que tinha detalhes do que ocorria na casa porque tinha contato diário com um dos netos. Esse neto teria contado que a pastora mandava colocar remédios na comida do pastor e que havia reuniões na casa da família para sondar como ele poderia ser morto.
A história dos remédios já havia sido divulgada pela TV Globo, em um depoimento de um filho que disse à polícia que a prática era feita junto com três filhas, para causar problemas de saúde no pai.
Em entrevista coletiva na época, Flordelis negou a acusação.
— Tenho uma moça que me ajuda em casa. Nada disso era feito às escondidas, sempre publicamente. E todos os exames do meu esposo estão lá, muito recentes — declarou ela.
A deputada ainda refutou na ocasião que uma fogueira, cujos resquícios foram encontrados pelos investigadores na residência dias após o crime, teria sido usada para queimar provas. Ela justificou que eram restos do mato que estava muito alto e que teriam sido queimados pelo jardineiro, atividade comum na casa.
A mãe do pastor também afirmou à polícia ter ficado sabendo que a nora ordenou que colocassem fogo em todos os documentos do cofre de Anderson, segundo o Extra. Disse ainda que, antes de ser preso, Flávio teria entregue seu celular a Simone, junto com um "bolo de dinheiro".
Questionada, a assessoria de Flordelis afirmou que ela está seguindo a orientação do advogado de não se pronunciar mais sobre a morte do marido.
Depoimento de Lucas
Os depoimentos de Lucas também envolvem outros irmãos no crime, de acordo com o jornal. O filho suspeito disse em um dos relatos à polícia que, três meses antes do assassinato, recebeu mensagens enviadas do celular da mãe pedindo que ele matasse o pai.
Segundo ele era comum que várias pessoas na casa usassem o telefone da pastora. Lucas afirma que ligou de volta algumas horas depois, mas não foi atendido por Flordelis, que não esta em casa. No mesmo dia, ele foi à casa mostrar as mensagens a ela, que ficou nervosa.
O jovem contou ainda que, um dia antes das mensagens, sua irmã adotiva Marzy Teixeira da Silva, 35, lhe procurou e ofereceu R$ 5 mil para que matasse Anderson — ela teria dito que ninguém mais suportava o pai na casa. Ele afirmou ter respondido que não tinha por que fazer isso, pois o pastor lhe dava tudo que precisava.
Em uma outra ocasião da mesma época, ele relatou que foi chamado pela mesma irmã de madrugada (ele não morava na casa). No portão, ela teria perguntado se ele "faria" e teria lhe oferecido novamente R$ 5 mil e os relógios do pastor.
Ele disse que se recusou e ficou desesperado, com medo de que o pai fosse morto e ele fosse responsabilizado pelo crime. O celular em que recebeu as mensagens não era o mesmo que ele usava antes de ser preso, alegou Lucas à polícia.
A Polícia Civil também não confirmou esses depoimentos, apontando novamente o sigilo.