O celular de Flávio dos Santos Rodrigues, 38 anos — filho biológico da deputada federal Flordelis (PSD-RJ) — está desaparecido, segundo informações dadas pela delegada Bárbara Lomba na manhã desta sexta-feira (21). No domingo (16), ele confessou ter disparado seis tiros contra seu pai, o pastor evangélico Anderson do Carmo, 42, e está preso desde o início da semana devido a uma condenação anterior por violência doméstica.
Na quinta-feira (20), a Justiça decretou a prisão temporária de Flávio e do irmão Lucas, 18 anos, que também já estava preso.
Anderson era casado com Flordelis e eles tinham 55 filhos, sendo quatro biológicos. A delegada evitou colocar a parlamentar como suspeita de envolvimento com o homicídio.
Na quinta-feira, a TV Globo divulgou que um dos filhos disse em depoimento que suspeita da participação da deputada e de três filhas no assassinato. Bárbara, no entanto, esclareceu que se trata de uma informação preliminar e que "várias pessoas" devem ser ouvidas no decorrer das investigações.
— Informações de familiares que têm envolvimento emocional ou econômico são consideradas, mas elas não vão definir a investigação — explicou Bárbara.
Além do celular de Flávio, o telefone móvel de Anderson também está desaparecido. A delegada confirmou a informação, mas não disse se procede os dados divulgados pela TV Globo de que o celular da vítima teria sido entregue para Flordelis e, depois, teria sumido.
— (O celular do pastor) não foi encontrado até hoje. Uma das primeiras medidas foi tentar obter esse celular, que poderia nos dar informações mais precisas e até mesmo elucidar o crime — disse Bárbara.
Duas filhas do casal compareceram à delegacia nesta sexta-feira para mostrar dados dos seus celulares, mas não prestaram depoimento. A delegacia ainda não confirmou se os aparelhos foram apreendidos ou se seria algum dos celulares que desapareceram. A informação foi confirmada pela advogada que as acompanhava, que não quis se identificar.
O corpo do pastor tinha 30 perfurações feitas a partir de uma arma calibre 9mm. A divergência entre a quantidade de tiros que Flávio afirma ter dado e as perfurações do corpo deverão ser esclarecidas pelos legistas, disse a delegada.
A participação de Lucas, que também está preso, seria no auxílio para comprar a arma:
— Isso baseado no relato deles, porque há a questão do relato e a questão objetiva — disse ela.
Traição descartada
A delegada Bárbara Lomba descartou, também, um suposto caso extraconjugal do pastor como eventual motivação para o assassinato. A hipótese foi levantada em razão dos disparos encontrados na região da coxa e da virilha.
— Nenhuma das pessoas (que depuseram) mencionaram isso — disse.
A delegada também descartou suposta perseguição por duas motos no domingo antes do crime — em entrevistas concedidas à imprensa, a deputada chegou a afirmar que houve perseguição momentos antes do crime.
— Esse relato de que estavam sendo perseguidos não foi dado na delegacia. Nos autos não há esse registro — disse Bárbara.
Esse é o segundo item da primeira versão da deputada que foi praticamente descartado pela polícia. A investigação também negou um possível latrocínio no crime, como alegado por Flordelis. A polícia ainda investiga a motivação do crime.
Na entrevista, a delegada explicou que é incorreto afirmar que o pastor evangélico foi morto com 30 tiros, apesar da confissão de Flávio de ter disparado seis vezes contra a vítima.
— Ainda não podemos excluir que houve seis tiros. Houve nove estojos apreendidos no local. Os (30) orifícios de entrada e saída vão ser esclarecidos com o legista. Já estou em contato direto e ele vem à delegacia para falarmos diretamente e compararmos com as declarações (prestadas à polícia). Mas os orifícios podem ser de reentrada e saída (das balas) em outro local do corpo. Podem haver muitas lesões no cadáver, mas isso não indica uma quantidade absurda de disparos — afirmou Bárbara.
A delegacia ainda investiga a dinâmica do que aconteceu na noite do crime a partir da coleta de mais depoimentos de pessoas que estiveram no local.
— A vítima chegou em casa e, poucos minutos depois, teria voltado ao carro. Não se sabe e não há provas de que alguém a tenha chamado — explicou a policial.
— Temos muito trabalho a fazer ainda. Não está esclarecida a motivação, se a execução aconteceu daquela forma que foi narrada, se há mais pessoas envolvidas. O crime foi domingo. A polícia não pode trabalhar em uma semana e resolver, tem risco de conduzirmos inadequadamente as investigações — disse a delegada.