Duas mulheres morreram e uma criança e um homem ficaram feridos durante abordagem da Polícia Federal (PF) na cidade de Cristal, no sul do Estado, na madrugada de quarta-feira (17). Segundo a corporação, eles estavam em dois veículos que furaram uma barreira montada próximo à estrada que liga o município a Amaral Ferrador, por volta da 1h30min. Inicialmente, a informação era de que o confronto tivesse acontecido ainda na noite de terça-feira (16).
Em nota divulgada na manhã desta quarta-feira (17), a PF informou que agentes do Grupo de Pronta Intervenção (GPI) montaram barreiras no local após receberem informações sobre um grupo que iria tentar resgatar criminosos que atacaram um banco em Dom Feliciano, no dia 6 de julho, e que estão foragidos. Os dois carros não pararam e houve troca de tiros.
As mulheres mortas foram identificas pela Polícia Civil como Aline Schimit Pirola, 25 anos, e Daniela Wizemann, 35 anos, ambas de Lajeado. O homem ferido, conforme a PF, era condenado por homicídio e estava em prisão domiciliar — o nome dele, que está sob custódia da polícia, não foi divulgado, mas a reportagem apurou que se trata de Marcos Luís Bergham, 34 anos.
Ainda não há informações sobre a ligação entre as mulheres e o homem, que deixou o hospital por volta das 10h30min com uma atadura na cabeça e um curativo na mão direita. Foi encontrado e apreendido armamento em um dos veículos.
A criança ferida tem quatro anos e estava em um dos carros. O menino foi atendido ainda na cidade, levado a um hospital de Camaquã e, depois, encaminhado para Porto Alegre em estado grave.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, a prefeita de Cristal, Fábia Richter, contou que uma segunda criança, de dois anos, foi encontrada no local do tiroteio. Ela estava no outro carro e foi encaminhada ao Conselho Tutelar.
— É surreal, inacreditável. Tinham duas crianças, uma em cada carro — relatou Fábia.
Ataques a banco no RS
A PF informou que investigava um grupo por envolvimento em assaltos à Caixa Econômica Federal e a outros bancos do Estado. No último dia 6, policiais federais e militares entraram em confronto com bandidos que haviam atacado uma agência bancária em Dom Feliciano, com utilização de explosivos.
Desde então, agentes da corporação estavam na busca pelos criminosos. Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o superintendente da PF no Rio Grande do Sul, Alexandre Isbarrola, comentou a ação em Cristal.
— Jamais se imagina que pessoas que fariam resgate de criminosos vão estar com crianças no carro. E à noite, é impossível discernir essas questões, ainda mais havendo confronto — disse.
Moradores relatam medo
A ocorrência registrada na noite de terça-feira deixou moradores da cidade de 7,2 mil habitantes assustados e em alerta. Um morador, que não quis se identificar, contou à Rádio Gaúcha alguns detalhes da ação:
— Estávamos em casa, indo dormir, quando os cachorros alertaram. Vim para a rua ver o que era e tinha uma viatura parada. Estranhei, porque estavam com armas. Ficaram alguns minutos parados e eu fui perguntar o que era, mas não deu tempo. Começaram a atirar, e eu voltei correndo para casa, peguei minha esposa e minha filha e me escondi no banheiro dos fundos. Durou segundos, nem um minuto, mas foram 30, 50 tiros.
Ouça a entrevista do superintendente da PF:
Manifestação do sindicato
O Sindicato dos Policiais Federais do Rio Grande do Sul (Sinpef/RS) se manifestou sobre as mortes ocorridas em barreira da PF. Em nota, manifestou "total solidariedade aos profissionais envolvidos na ocorrência". Leia na íntegra:
O Sindicato dos Policiais Federais do Rio Grande do Sul, diante do ocorrido no confronto de policiais federais com criminosos em barreira em rodovia no município de Cristal, vem a público prestar total solidariedade aos profissionais envolvidos na ocorrência.
Destacamos que os policiais federais agiram de forma profissional, responsável e corajosa, ao enfrentar criminosos que tinham por objetivo resgatar os responsáveis por um ataque a banco ocorrido no dia 6 de julho, em Dom Feliciano. Dois veículos furaram a primeira barreira, e, na segunda abordagem, houve confronto com troca de tiros.
Após receberem informações da possibilidade do resgate, a ação foi desenvolvida com o apoio do GPI (Grupo de Pronta Intervenção), composto por profissionais altamente treinados e tecnicamente qualificados para atuar em situações de alto risco, como a que se apresentou.
Duas mulheres morreram, e um homem, condenado por homicídio e que estava em prisão domiciliar, e seu filho, ficaram feridos. Foi encontrado e apreendido armamento em um dos veículos.
Nos sensibilizamos com a decorrência da ação, mas não temos dúvida de que ela é resultante da própria atitude de bandidos que não medem as consequências de seus atos, utilizando, inclusive, crianças como escudo para permanecerem agindo.
Continuaremos a envidar esforços, dentro dos limites da técnica policial, para defender a sociedade da criminalidade desenfreada e desmedida.