Foi com névoa forte e ruas silenciosas o amanhecer de quarta-feira (17) em Cristal, no sul do Estado. No início da manhã, poucos moradores eram vistos nas ruas da cidade de 7,2 mil habitantes, impactada pela ocorrência na noite anterior, que deixou duas mulheres mortas, além de uma criança e um homem feridos.
Por volta das 7h, a Polícia Federal mantinha isolada uma área na RS-354 — dali, eram retirados dois carros envolvidos na ocorrência, um Celta e um Civic. Diante deles, estavam uma van branca da corporação e duas viaturas discretas — uma delas com marcas de tiro no vidro e na lataria. O sangue na estrada de chão batido completava o cenário de confronto.
— Estava indo dormir quando os cachorros latiram. Fui até o pátio, vi duas viaturas e voltei. Em seguida, os tiros começaram. Foram uns 50 disparos em poucos minutos. Peguei minha esposa e filha e me escondi no banheiro — conta um morador da região, de 32 anos, que depois foi para casa de parentes.
— Ouvi um monte de tiros. Pensei que eram fogos de artifício. Em seguida, um homem começou a gritar: "Tu matou meu filho". E outro a dizer: "Não levantava cabeça". A gente, que mora no interior, não espera isso — afirma uma moradora da cidade que não quis ser identificada.
Se o cenário era de confronto no interior da cidade, o clima era de tensão em um plantão médico onde o menino baleado foi estabilizado. A criança de quatro anos — ferida na cabeça, no abdômen e na nádega — foi encaminhada para Camaquã e, na sequência, Porto Alegre.
— Sempre quando se trata de uma criança, mexe um pouco. Mesmo a gente lidando com o plantão diariamente — diz o médico responsável pelo atendimento.