Viaturas que foram deslocadas do interior do Rio Grande do Sul para reforçar o policiamento em Porto Alegre durante a Copa América estão sendo usadas para abrigar presos que aguardam vagas no sistema prisional.
Na tarde de sábado (15), 42 pessoas estavam em viaturas e vans nessa situação, contrariando decisão liminar da Justiça que proíbe a manutenção dos presos em veículos. Na manhã de domingo (16), 45 pessoas estavam nessa situação, segundo a diretora do Departamento de Polícia Metropolitano (DPM), Adriana Regina da Costa.
Na 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), no Palácio da Polícia, GaúchaZH contabilizou pelo menos oito viaturas paradas com presos. Entre elas, duas do 3º Batalhão de Polícia de Choque, que veio de Passo Fundo para a Copa América.
— Dia sem jogo esses policiais estão fazendo policiamento em toda a cidade — justificou o comandante de policiamento da Capital, coronel Rodrigo Mohr Picon.
O oficial acrescenta que nos últimos dias o número de prisões foi acima da média. Somente por roubo e receptação de veículo, 11 suspeitos foram detidos na sexta-feira, além de outros quatro presos na manhã deste sábado. No domingo, 24 pessoas estavam nas viaturas e outras 12 estavam nas celas da 2ª DPPA.
— Estamos fazendo um trabalho de integração para reduzir o número de roubos em Porto Alegre. Desde fevereiro, foram 294 presos — completou.
Com a calçada lotada de viaturas, PMs e presos, os pedestres que passam pela Avenida Ipiranga, uma das mais movimentadas de Porto Alegre, precisam, por vezes, caminhar pelo asfalto, onde trafegam os veículos. Outros, atravessam a via e passam pela ciclovia, que está interditada.
Já na 3ª DPPA, que fica na zona norte de Porto Alegre, GaúchaZH contabilizou no sábado pelo menos 17 presos divididos em dois micro-ônibus e uma viatura. Um cordão de isolamento foi colocado na calçada para evitar a circulação dos pedestres no espaço usado para presos e policiais permanecerem. Na manhã deste domingo havia 21 detidos na viatura e outros seis na carceragem.
De dentro dos veículos, ao avistarem a reportagem, os presos faziam sinais com as mãos indicando que o veículo estava cheio.
— Tá um fedor aqui dentro. Banho só de caneca quando nos levam lá para o pátio — gritou um preso.
Além do cheiro, os presos ainda reclamam que a comida está azeda e que não podem receber visitas. Um deles, com tornozeleira eletrônica, disse que está há 14 dias dentro do micro-ônibus.
Questionada sobre a liberação de vagas e descumprimento da medida liminar, a Secretaria de Administração Penitenciária informou que não irá se manifestar, e que medidas estão sendo analisadas em conjunto com Ministério Público, Defensoria Pública e Judiciário.