Resolver problemas de segurança pública envolve questões que vão além de trâmites administrativos e técnicos. Esses quesitos são importantes. Mas a demanda passa também por boa vontade política, relacionamento adequado com a comunidade, comunicação eficiente e, principalmente, preocupação da ligação dos policiais à população.
É o que diz o norte-americano Michael Parker, ex-chefe de Segurança da Polícia de Los Angeles e Consultor de Segurança da The Parker Group, que palestrou em Porto Alegre na sexta-feira durante o Seminário Internacional 2018 – Um pacto brasileiro pela Segurança, na Câmara de Vereadores.
O especialista passou por outras 28 nações, mas afirma que o Brasil, apesar de atrativo para turistas, gera desconfiança. Por ser a primeira visita, e por força da profissão, diz ter feito “o dever de casa” e pesquisado a situação daqui:
— Não me entenda mal, mas a reputação do Brasil entre os americanos é: um lindo país, belas praias, pessoas bonitas, excelente comida, mas muito perigoso. Todos querem vir aqui, mas costuma-se dizer que é arriscado. É comum alertarem: “tenha cuidado” .
Com 32 anos de experiência em assuntos como prevenção de crimes e como lidar com reclamações públicas, Parker relatou as vivências em Los Angeles, cidade onde foi xerife, função para a qual é eleito pela população e que desempenha atividades em presídios e patrulhamento das ruas. Segundo ele, há semelhanças entre a Capital e a “Cidade dos Anjos”.
— O Brasil tem alta taxa de criminalidade. Não que os EUA não tenha. Em algumas cidades lá esses índices diminuíram drasticamente. Sou de Los Angeles, cidade que reduziu os crimes violentos. Em 1992, mais de mil pessoas foram mortas. Em 2017, menos de 300 — conta o oficial.
Cinco estratégias para reduzir a violência
Para atenuar os índices, segundo ele, é preciso trabalho intenso que envolve pelo menos cinco estratégias: mobilização comunitária (desenvolvimento de grupo de trabalho de toda a comunidade), intervenção social (assistentes sociais orientando jovens), oportunidades (emprego, educação e serviços), mudança de organização (revisão de políticas e práticas que não funcionam com jovens em risco) e supressão (unidades especializadas em facções, por exemplo).
O foco em cidadãos novos não é à toa:
— Pessoas que vivem em áreas nobres não entendem o tamanho da destruição que as gangues fazem com crianças e jovens de locais conflagrados. Muitas são forçadas a participar do crime mesmo não querendo. É preciso ligas juvenis, além de conquistar a confiança deles. Lugares para que possam ir depois da escola também é importante. A polícia precisa estar nessas áreas e se aproximar da juventude.
Outra questão, segundo Parker, é que todo o cidadão e o poder público assumam responsabilidades:
— Me chamou a atenção como as ruas são escuras à noite em Porto Alegre. E é sabido que a falta de luz ajuda a criminalidade.
Rever a distribuição de tarefas entre corporações é alternativa.
— No Brasil tem a Polícia Militar controlando as ruas e a Polícia Civil com investigadores e outras funções. Nos EUA, essa distribuição tem mais a ver com a geografia. Se Porto Alegre fosse lá, teria um departamento de polícia que faria o trabalho de ambas (militar e civil), pois a atuação seria relacionada com questões de localização – compara Parker.
A descrença no trabalho das polícias também dificulta que, de fato, ocorram melhorias.
— Uma dessas afinidades é se importar com as pessoas. Há uma longa lista de maneiras para se conquistar a confiança pública, mas uma das principais é saber ouvir. E saber como responder. O problema é que há pessoas só querem reclamar. Não querem mudar a situação, é só raiva.
Quando soube que o efetivo da PM gaúcha recebe salário parcelado, Parker ficou atônito. Disse nunca ter visto algo do tipo:
— Motivar oficiais tem parte importante no trabalho. Eles vivem situações difíceis. Como você se sentiria ao arriscar sua vida e não receber por isso? Acho que a pergunta que deve ser feita é: como motivar, seja lá quem for responsável pelos salários desses policiais?