O Ministério Público Federal (MPF) denunciou semana passada 54 pessoas por tráfico internacional de armas e de drogas, associação para o crime e, em alguns casos, coação de testemunhas. A denúncia foi protocolada em Santana do Livramento pelo procurador da República Rodrigo Graeff e envolve uma quadrilha binacional – formada por brasileiros e uruguaios – dedicada a praticar escambo (troca) de armamento por entorpecentes. A droga seria maconha, cuja procura está em alta no Uruguai desde a liberalização do consumo e da venda em alguns pontos específicos do comércio, há dois anos.
A quadrilha é uma das abordadas na série de reportagens “O Poder das Facções”, do Grupo de Investigação da RBS (GDI), que começou na última sexta-feira e foi até quarta-feira. O bando agora denunciado pelo MPF foi desarticulado pela Polícia Civil em 2015, na Operação Cerberus. A quadrilha, com maioria de integrantes de Santana do Livramento, realizaria intermediação na venda de armas e munições para as três maiores facções criminosas do Rio Grande do Sul (Os Manos, Bala na Cara e Os Abertos), criadas em Porto Alegre e na Região Metropolitana.
De acordo com a denúncia, era um fluxo de mão dupla, já que o grupo de fronteiriços comprava das facções maconha, crack e cocaína para distribuição nas cidades da região. Os policiais civis estimam que o bando lucrava R$ 80 mil mensais com venda de armas e R$ 300 mil com drogas.
Um dos denunciados foi preso por assassinatos
Os policiais civis prenderam, na época, 29 pessoas e indiciaram 72. A pedido de alguns dos indiciados, o caso foi transferido da esfera estadual para a federal, já que envolvia tráfico internacional. Após três anos, o MPF concluiu o exame dos indícios e denunciou 54 pessoas, incluindo várias mulheres, que atuavam nas ruas enquanto os companheiros estão presos. Entre os denunciados, está o homem considerado chefe da quadrilha, o uruguaio Ernesto Andres Vargas Villanueva, conhecido como Cachorrinho Vargas.
Ele está preso desde 2008, inclusive por dois assassinatos (de traficantes rivais). Outro denunciado é o policial uruguaio Juan José Arocena Fernandez, que atuava na cidade de Artigas, fronteiriça com Quaraí. Ele esteve preso por dois anos, e agora está em liberdade condicional. Os policiais apreenderam mensagens de WhatsApp que mostram combinação de compra de armas entre os dois.
O que diz Ernesto Andrés Vargas Villanueva
Na fase judicial, a defesa de Villanueva tentou anular as provas, argumentando que o crime atribuído a ele é da esfera federal e que a Polícia Civil não era competente para fazer o inquérito. Negou o tráfico de armas.
O que diz Juan José Arocena Fernandez
Em juízo, admitiu que comprava armas, mas não sabia que seriam revendidas a criminosos.