Três casos de violência motivaram a ação conjunta de Polícia Federal, Exército e Brigada Militar, nesta quinta-feira (2), que resultou na prisão de quatro supostos envolvidos em crimes, todos indígenas. A ação foi realizada na reserva indígena de Votouro, no norte do Estado.
As investigações começaram em março, quando após o assassinato de um indígena que fazia oposição ao cacique da reserva. Depois, em maio, Nathan Cozer Hochmann, 21 anos, sobrinho do prefeito de Benjamin Constant do Sul, foi morto por engano na região. E o próprio prefeito teria sido torturado, em outro episódio.
Nathan saiu para comer uma pizza com os amigos na cidade de Faxinalzinho, município vizinho, na noite de 30 de maio. Ficaram por quase uma hora e, na volta a Benjamin Constant do Sul, foram surpreendidos na estrada por uma emboscada.
Três carros bloquearam a passagem e alguém disparou contra o veículo em que estava Nathan. O jovem foi atingido nas costas e morreu antes de receber socorro. Os amigos dele capotaram o carro e conseguiram fugir.
Conforme investigação policial, o alvo da emboscada era outra pessoa, um indígena, chamado Edimar Peres e conhecido como "Gringo". Vereador em Benjamin Constant do Sul, ele está refugiado no prédio da Funai em Passo Fundo, com um grupo de cerca de 30 famílias, após um aliado deles ser morto, em 8 de março, por outros caingangues na reserva de Votouro.
O rapaz assassinado em março foi o indígena Vitor Hugo dos Santos Refey, 22 anos. A Justiça Federal apontou 10 pessoas como envolvidas na morte dele. O grupo teria chegado encapuzado na casa da vítima, com armas na mão, para expulsar o jovem da aldeia. Quando tentou argumentar, ele foi morto com vários tiros.
O terceiro episódio de violência, estopim para a operação policial desencadeada nesta quinta-feira, envolveu o próprio prefeito de Benjamin Constant do Sul, Itacir Hochmann, que foi mantido em cárcere privado e torturado na reserva. Ele é tio de Nathan Hochmann.
Poucas horas após o assassinato do sobrinho, o prefeito teve o carro atingido por tiros ao se recusar a parar, segundo ele, numa barreira de estrada feita pelos índios. O veículo dele, segundo a PF, foi atingido por 57 tiros.
O prefeito foi atingido de raspão, no rosto e em um dos braços, aprisionado, amarrado e preso no "Boi Preto", como é denominada a cadeia indígena. Os indígenas teriam colocado numa rede social fotos de Hochmann ferido e preso dentro da cela improvisada. Ele foi libertado após gestão de moradores da cidade com as lideranças indígenas.
A PF encontrou na manhã desta quinta-feira a prisão informal, dentro da reserva indígena. A cela foi construída no porão de uma antiga igreja. Ela é de chão batido e sem sanitários. Via de regra, é usada para prender indígenas que desafiam o cacique ou se envolvem em crimes na aldeia. As detenções de pessoas, ilegais, não têm tempo de duração – podem ser por horas ou dias.
Os 14 mandados de prisão preventiva emitidos pela Justiça Federal se referem a suspeitos de envolvimento nos três episódios. Alguns dele teriam participado dos três casos e "formavam uma espécie de milícia", segundo o delegado federal que chefiou a operação em Votouro, Mauro Vinícius Soares de Moraes.
Conforme a PF, os conflitos na aldeia ocorrem por disputa por poder. Diferentes grupos caingangues estariam tentando eleger o cacique. Com isso, ganhariam o direito de arrendar terras para outras pessoas e ter o controle financeiro da aldeia.
O delegado Mauro Vinícius acredita que a violência na região só diminuirá quando os brancos, envolvidos em venda de armas e arrendamentos ilegais, responderem criminalmente pelo plantio em área indígena.