Em 1997, há 21 anos, fui um dos autores de uma série em Zero Hora denominada "Brancos X Índios, a guerra que não terminou". Ela retratava a disputa entre agricultores, em sua maioria de origem italiana e alemã, com caingangues no Norte do Estado.
Amparados na Constituição de 1988, os indígenas queriam a devolução de terras que pertenceram a seus antepassados. Em vários casos, conseguiram. Mas não antes de sucessivos conflitos, com ocupações de fazendas por parte dos caingangues e resistência dos colonos brancos.
Essa guerra diminuiu de intensidade, mas continua. O pano de fundo agora nem é tanto a luta dos índios por áreas que pertenceram a seus antepassados (algo que ainda existe), mas brigas internas entre os próprios caingangues sobre o controle das aldeias e dos interesses econômicos a elas vinculados. Quem controla os aldeamentos, via de regra, também controla a exploração de madeira e o arrendamento de terras aos brancos. Esse aluguel de áreas, na maioria para plantio de trigo no inverno e soja e milho no verão, é proibido por lei. Afinal, são terras sob tutela da União. Até por isso, indígenas arrendam as áreas para lavoura sem qualquer contrato, apenas na palavra. Muitas vezes isso resulta em desentendimento com os brancos arrendatários (que também cometem crime) por desacertos financeiros quanto à parcela a ser paga.
Arrendamentos clandestinos de terra estão por trás da disputa histórica entre líderes indígenas em Benjamin Constant do Sul, mas o que motivou a ação conjunta da Polícia Federal (PF), em parceria pouco comum com o Exército, foi dois ataques dos indígenas a brancos. Um, por engano. Outro contra uma autoridade, o prefeito local, inclusive torturado.
- Os direitos dos indígenas devem ser preservados, mas nesse caso eles ultrapassaram todos os limites do bom senso - justifica o delegado Mauro Vinícius Soares de Moraes, que chefiou a PF nas 14 prisões autorizadas pela Justiça.