Depois da prisão de dois suspeitos de participação na chacina que vitimou cinco pessoas (quatro da mesma família) em um apart-hotel em Canasvieiras, Florianópolis, a Polícia Civil de Santa Catarina realizou uma entrevista coletiva na manhã deste sábado (11) e deu detalhes sobre o caso ocorrido no dia 5 de julho. De acordo com o delegado Ênio Mattos, da Divisão de Homicídios, o crime foi uma "vingança por questão financeira".
Essa motivação foi identificada desde o começo das investigações, evidenciada pelas pichações nas paredes. No primeiro momento se imaginava que o problema seria relativo ao patriarca da família, Paulo Gaspar Lemos, de 77 anos, cujas dívidas acumuladas ultrapassavam os R$ 300 milhões. Porém, de acordo com o delegado Ênio, o crime foi motivado por uma dívida de Leandro Gaspar Lemos, de 44 anos.
— Foi vingança por questão financeira. Eles queriam mais o filho (Leandro), que deu um cambalacho, mas acabaram levando todos porque era a família. Era o que estava lá (escrito na parede): "acabaram com a nossa família, chegou a vez de vocês" — destaca Ênio.
As investigações dão conta de que três pessoas participaram do crime. Com dois suspeitos presos — um deles na fronteira do RS com o Uruguai —, as atenções da Polícia Civil se voltam para a identificação do terceiro elemento. Os dois homens tiveram decretada a prisão temporária de 30 dias, que pode ser prorrogada por mais 30 dias ou convertida para preventiva.
— Cinco ou seis dias depois do crime já tínhamos a solução do caso, mas precisávamos ratificar o que a gente tinha e providenciar a documentação para poder prender as pessoas. Foi um deles mesmo que planejou, era conhecido da família e todos eles moravam na região (Grande Florianópolis) — afirma Ênio.
Cena de filme
No dia da chacina, a reportagem da Hora de Santa Catarina esteve no local e conversou com vizinhos do apart-hotel. O relato de um perito da Polícia Civil a um deles era de que "foi uma cena de filme". De certa forma, foi mesmo. Segundo o delegado Ênio Mattos, os assassinatos por asfixia, possivelmente com panos embebidos em gasolina, foram copiados de um filme.
— Realizamos a oitiva com um deles, que contou que aprendeu (o método de assassinato) na televisão, assistindo a um filme. No decurso da semana que vem vamos buscar o outro (suspeito) no Rio Grande do Sul e também vamos interrogá-lo — disse Ênio.
Fuga da funcionária foi facilitada
No dia em que três criminosos invadiram o apart-hotel em Canasvieiras e fizeram seis pessoas reféns. Paulo Gaspar Lemos, de 77 anos, Paulo Gaspar Lemos Junior, 51, Kátia Gaspar Lemos, 50, Leandro Gaspar Lemos, 44, e o gaúcho Ricardo Lora, 39, foram mortos. A única sobrevivente foi uma funcionária, que conseguiu fugir por volta da meia-noite e acionar a Polícia Militar.
— Não é que ela foi poupada, mas aparentemente facilitaram para ela. Deixaram as amarras dos pés e das mãos frouxas, assim ela conseguiu se desvencilhar e sair. Não sabemos a razão, mas o fato é que facilitaram. Talvez seja porque ela não era da família, era só uma funcionária do local — comenta o delegado Ênio.
Ao longo de pouco mais de um mês de investigação, a Polícia Civil deu poucas informações sobre o caso; decidiu trabalhar em sigilo para chegar à conclusão o mais rápido possível. De acordo com o diretor de Polícia da Grande Florianópolis, delegado Verdi Furlanetto, a resposta à sociedade foi satisfatória.
— A Delegacia de Homicídios da Capital tem um índice de resolução de primeiro mundo, por volta de 75%. Conforme esse know-how, esse trabalho e empenho, desta vez não foi diferente. Foi um excelente trabalho, de forma silenciosa, que culminou com as prisões, que é o que todo mundo espera — destaca Verdi.
Para chegar à prisão dos dois suspeitos, foram mais de 200 horas de campana e 500 quilômetros rodadas somente dentro da Ilha de Santa Catarina. De acordo com o delegado Ênio Mattos, a pouca diferença de horas entre a prisão do primeiro suspeito, no Rio Grande do Sul, e a do segundo, em São José, foi apenas uma coincidência.
— Foi resultado do nosso trabalho de investigação, coordenado pela doutora delegada Salete (Mariano). Os agentes se dedicaram esse mês todo. A prisão de hoje (sábado) não tem nada a ver com a prisão de ontem (sexta-feira), foi coincidência. Ambas são resultados da investigação e da dedicação de toda a delegacia — finaliza Ênio.