"Um crime cometido por profissionais". A afirmação é do delegado Verdi Furlanetto, diretor de polícia da Região Metropolitana de Florianópolis, ao se referir aos três homens que invadiram um hotel, torturam e mataram cinco pessoas na noite de quinta-feira (5) em Canasvieiras, no norte da Ilha.
Ainda sem suspeitos, Furlanetto, acompanhado do delegado Anselmo Cruz, diretor da Delegacia de Investigações Criminais (Deic), não revelou detalhes da apuração. Provas técnicas, como eventuais impressões digitais, o resultados das perícias, imagens e uma testemunha que conseguiu fugir são as apostas da polícia para solucionar o crime.
Durante as oito horas que os três homens, encapuzados, com luvas e um deles armado, permaneceram no hotel, as vítimas ficaram amarradas e sofreram intensa "tortura psicológica", sem agressões aparentes, informou Furlanetto.
A Polícia Civil e o Instituto Geral de Perícias (IGP) passaram a tarde desta sexta-feira no hotel em busca de elementos que auxiliem na busca por informações e pistas sobre os autores da chacina. Furlanetto não quis dizer se já foi possível determinar como os três homens chegaram ao hotel, já que eles fugiram em dois carros roubados do estabelecimento – um deles recuperado horas depois e outro ainda não encontrado.
— Estamos todos empenhados em desvendar esse crime. Temos algumas linhas de investigação, até pelo histórico das vítimas (o patriarca), um empresário, que teve alguns problemas financeiros. Eles morreram por esganadura. E isso que afasta para a gente a possibilidade de uma facção de fora do estado ter cometido o crime, porque eles usam outro tipo de violência — disse Furlanetto, para acrescentar que exame cadavérico nas vítimas vai trazer com mais exatidão a causa da morte das cinco pessoas, se houve também inalação de alguma substância, por exemplo.
Com a equipe de sua especializada também participando da investigação, o delegado Anselmo Cruz diz que a busca no momento é por outras testemunhas do crime, no entorno do hotel, e imagens.
Sobre possíveis dívidas que teria o patriarca da família, Paulo Gaspar Lemos, 78 anos, a informação é de que isso existiria tanto em Florianópolis como São Paulo, onde a família morava antes de se mudar para Santa Catarina, há mais de 10 anos. Antes de se mudarem para Florianópolis, em 2005, um dos integrantes da família teria sido sequestrado em São Paulo. A polícia, porém, ainda não confirmou essa informação.
— Ele tinha muitos processos trabalhistas, questões de empréstimos. No bojo tem todas essas questões comerciais, uma locadora de veículos, o hotel, diversas situações que envolvem, mas precisamos investigar, porque se passaram só umas horas do crime — analisa Furlanetto.
Descartado envolvimento de facção paulista
Para Anselmo Cruz, não há indicativo, no trabalho da Deic, das delegacias locais e inteligência, que aponte a participação de uma facção criminosa de São Paulo – cujo nome foi escrito nas paredes do hotel - no crime. Segundo ele, os crimes atribuídos a "essa facção paulista não tem esse modus operandi, essa violência com que foram executados essas mortes".
A suspeita de que os criminosos pudessem estar atrás de dinheiro, talvez um cofre, e eventual tentativa de coação e/ou extorsão das vítimas, não foi comentada pelos delegados.
Para auxiliar nos trabalhos, a polícia catarinense também vai compartilhar informações com a paulista, de onde a família cujos quatro integrantes foram assassinados – o quinto morto era sócio do hotel - já era conhecida das autoridades. As informações vindas de São Paulo estão chegando, disse Cruz, para acrescentar que além do pai, "um dos filhos tinha uma atividade empresarial forte e variada".
— A gente chama de assinatura do crime, que indica a autoria. E trabalha entendendo que essa assinatura de facção tenha sido mais para despistar o trabalho da polícia. O que está descartado já é que seja um confronto de facções aqui no Estado, uma disputa local. Se for um desacerto ou algo relacionado ao Estado de São Paulo, a gente ainda vai apurar porque a investigação recém começou. Inclusive reforça a suspeita de que não tenha qualquer relação com facção essas mortes — aponta Cruz. Ele acrescentou que a arma de fogo só foi usada para constranger, amarrar e dominar as vítimas.