A Polícia Civil solicitou ao Judiciário a prisão preventiva do empresário Marcelo de Oliveira Bueno, de 37 anos, suspeito de assassinar a sua companheira, a jovem Débora Forcolén, de 18 anos, no dia 31 de maio deste ano, na zona norte de Porto Alegre. A 2ª Delegacia de Homicídios entende que o homem assumiu o risco que poderia causar ao brincar com uma pistola apontada contra a cabeça de sua esposa, e por isso o indiciou por homicídio com dolo eventual, com recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Ele alega que a arma disparou sozinha.
A própria Polícia Civil tratou o caso inicialmente como culposo — quando não há a intenção no crime. O empresário ficou menos de 24 horas preso pelo assassinato.
A delegada Roberta Bertoldo explica que não houve como garantir no inquérito que o homem tinha o objetivo de matá-la. Ela defende que na casa, no momento do crime, havia somente duas crianças, de 6 e 8 anos, filhos de Bueno com outra mulher. Elas não foram ouvidas na investigação por estarem fazendo tratamento psicológico.
— A gente não comprovou que naquele momento ele quisesse disparar efetivamente contra ela. Era um risco muito grande aquela conduta de apontar a arma para ela, segundo ele numa brincadeira. Nem sequer verificou que a arma estava municiada — resumiu a delegada.
Na investigação, foram colhidos depoimentos de familiares da vítima, que relatam a forma agressiva com que ela era tratada pelo companheiro. Segundo o relato da polícia, "foi possível concluir que o casal vivia em meio a brigas e agressões, promovidas pelo companheiro e motivadas por um descontrolado ciúme". Além de amigos e familiares, uma ex do empresário também prestou depoimento e relatou situações de violência.
De acordo com a delegada, as testemunhas contaram que o empresário controlava a vida de Débora, e chegava a solicitar que ela encaminhasse sua localização via aplicativos. Em um dos depoimentos, uma familiar contou que o homem falou para Débora que ela só "sairia da minha casa dentro de um caixão, direto para o IML".
— Havia um cenário de violência entre eles. Os relatos dos familiares são de que ele agrediu, que tinha ciúme doentio, que tentava restringir convivência com amigos, família e até o filho dela do seu outro relacionamento, que vivia com a avó em Novo Hamburgo — relatou Roberta.
Mesmo com os relatos de violência, para a polícia não foi possível confirmar um feminicídio — quando a morte da mulher ocorre em contexto de violência doméstica ou quando acontece por menosprezo à condição de mulher. O delegado Gabriel Bicca, diretor do Departamento de Homicídios, entende como incompatível assumir o risco de matar alguém (dolo eventual) com uma questão de gênero.
Ainda no dia do crime, o homem defendeu que atirou sem querer. Segundo a ocorrência, ele contou que "com o intuito de brincar com a companheira com quem convive há um ano, apontou a arma a 40 cm do rosto, colocou o dedo no gatilho e houve o disparo".
Contraponto
Procuradas pela reportagem, as advogadas responsáveis pelo caso, Simone Schroeder e Fernanda Silva da Silva, afirmam que é um absurdo "afirmar que há dolo numa situação em que todos almoçavam em família no feriado, juntamente com os filhos pequenos". Segundo elas, Marcelo está abalado desde os fatos e está internado "buscando amenizar o sofrimento com ajuda psiquiátrica".
As advogadas dizem que a delegada não permitiu acesso ao inquérito policial alegando que teria que ouvir outras testemunhas. Já a delegada Roberta Bertoldo afirma que no dia em que foi solicitado pelas advogadas o inquérito ainda não estava disponível, mas que atualmente está.
Entenda o caso
Débora Forcolén, 18 anos, foi encontrada morta no dia 31 de maio, um feriado de Corpus Christi, dentro da casa em que morava com o empresário Marcelo de Oliveira Bueno, 37 anos, no bairro Farrapos, na zona norte de Porto Alegre. A Brigada Militar foi avisada do crime às 16h20min. No chamado, os policiais foram informados de que havia uma mulher ferida com um tiro no rosto dentro de uma casa na Rua Jayme Tolpolar. Ao chegarem, no entanto, encontraram a vítima já morta, em cima de um sofá, com uma mancha de sangue no chão da casa.
Bueno confessou o homicídio aos policiais. No entanto, contou que retirou o carregador de uma pistola calibre 380 próximo da vítima e pressionou a arma, sem saber que ainda havia uma bala na câmara. Com isso, o tiro atingiu a mulher e a matou. Familiares da vítima, no entanto, contestavam essa versão, relatando um histórico de agressões e ameaças do empresário. Bueno foi preso, mas libertado menos de 24 horas depois.