Débora Cassiane Martins Duarte cresceu em uma casa no bairro Harmonia, em Canoas, na Região Metropolitana, no início dos anos 2000. Enquanto a mãe trabalhava, a menina era cuidada pelas tias e pela avó. Com o tempo, passou a chamar uma tia de "irmã" e a outra de "mãe". Adotou também o sobrenome delas. Tornou-se, por opção e afeto, Débora Forcolén. Uma ligação interrompida de forma precoce. Aos 18 anos, a jovem, mãe de um menino de um ano e nove meses, foi morta com um tiro na tarde de quinta-feira (31), na zona norte da Capital. O companheiro Marcelo de Oliveira Bueno, 37 anos, alega que o disparo foi acidental.
Quando engravidou de um namorado, aos 16 anos, a jovem deixou a casa da avó para viver com o pai do filho, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Em agosto de 2016, tornou-se mãe de um menino. No mês seguinte, completou 17 anos. No dia no aniversário, em meio a felicitações no Facebook, uma fotografia mostrava Débora, ainda criança, sendo cuidada pela tia Raquel Forcolén Martins.
"Todos os dias agradeço a Deus pelo presente que ele me deu, agradeço ele por ter me dado o privilégio de fazer parte da sua vida", escreveu Raquel.
Apenas dois anos e sete meses mais velha, ela acabou adotando Débora como irmã.
— As duas cresceram juntas. Viviam grudadas. Eu cuidei da Débora desde que tinha seis meses. Ela me chamava de mãe — conta a tia, Denise Forcolén, 26 anos.
Há um ano e dois meses, Débora e Raquel estavam juntas em um bar quando a jovem se encontrou pela primeira vez com Marcelo. Os dois tinham se conhecido por um aplicativo de relacionamento. Poucas semanas depois, Débora se mudou para a casa do empresário, no bairro Farrapos, na zona norte de Porto Alegre. Algum tempo após, passou a trabalhar como balconista na farmácia da qual ele é sócio. O filho de Débora continuou morando com a avó e o pai, em Novo Hamburgo. A jovem costumava buscá-lo em fins de semana e feriados.
— Ela sofria muito por ter que estar longe do filho — conta Raquel.
Decidida a encerrar os estudos que tinha interrompido por conta da gravidez, Débora tinha retomado recentemente o Ensino Médio. Escolheu a mesma escola de Raquel para voltar às aulas. A jovem sonhava em ainda conseguir um dia alcançar a carreira de modelo e de atriz. Arriscava-se em concursos de beleza. Em fevereiro, chegou a concorrer ao Miss Canoas. Para o desfile, no entanto, segundo a irmã, precisou esconder os hematomas de uma briga com o companheiro na noite anterior.
— Ele tinha muito ciúme dela. O tempo todo. Ela estava sempre roxa, sempre. Quando soube que ela ia desfilar pra todo mundo, eles brigaram muito. Ela precisou se cobrir de base — conta Raquel.
O último telefonema entre as irmãs
A última ligação entre as irmãs ocorreu na quarta-feira (30). Débora falou sobre os estudos, sobre a escola e também sobre os planos de deixar a casa do companheiro. Disse, segundo Raquel, que pretendia voltar para a casa da ex-sogra, em Novo Hamburgo e viver com o filho.
— Não tô aguentando mais isso — teria dito, sobre as brigas com o companheiro.
Na quinta-feira (31), Débora deveria ter ido buscar o filho, como costumava fazer, mas não apareceu. Pouco antes das 16h, avisou por mensagem que não poderia ir mais. Minutos depois, foi atingida por um tiro no rosto dentro de casa.
— A gente quer justiça. Agora ele quer dizer que limpou uma arma apontando para o rosto dela? Essa história está muito mal contada — afirma Raquel.
O corpo de Débora foi enterrado às 15h30min desta sexta-feira (1°) em Nova Santa Rita.