Natural de Vacaria, o homem detido pela polícia na tarde de quarta-feira (21), e que confessou ter raptado, estuprado e matado Naiara Soares Gomes, sete anos, vivia sem levantar suspeitas há anos em Caxias do Sul. No depoimento oficial, que envolveu três delegados, Juliano Vieira Pimentel, 31 anos, deu detalhes sobre a morte de Naiara e sobre o estupro de outra menina, de nove anos, que ocorreu em outubro do ano passado, também em Caxias do Sul.
Há cerca de seis meses, Pimentel mudou-se com a mulher para uma casa alugada no bairro Serrano. Na garagem, guardava o carro comprado recentemente: um Palio branco, que norteou toda a investigação da Polícia Civil sobre o caso.
Segundo a polícia, ele mantinha o mesmo emprego de operador de máquinas desde 2013, com conduta profissional irrepreensível. À época do sumiço de Naiara, Juliano trabalhava das 17h às 2h. Na semana seguinte, conseguiu transferência para o turno diurno.
— Era uma pessoa que tinha uma vida muito regrada no tocante ao trabalho, excelente servidor na empresa em que trabalhava desde 2013. Só a criminologia pode explicar o porquê dele pegar as meninas. São dois casos, mas não descartamos outros — disse o delegado regional da Polícia Civil, Paulo Roberto Rosa da Silva.
A vizinhança não suspeitava de Juliano. Tanto que crianças pequenas, filhos de vizinhos, frequentavam a moradia.
— Eu ia na casa com minha netinha conversar com a mulher, que gosta muito de criança. Até agora (quarta-feira), a gente não acredita — contou uma moradora da redondeza.
— Aparentemente, pessoa boa. Não via nele nada de diferente, que fosse maldoso — acrescentou outra vizinha.
O proprietário de um estabelecimento próximo, do qual Juliano era cliente, comenta que pessoas que pegavam ônibus com o homem para ir ao trabalho passaram a suspeitar do seu comportamento nas últimas semanas.
— Ele vinha aqui (no estabelecimento), mas nunca entrou em detalhes sobre a própria vida. Parecia uma pessoa tranquila. Mas os caras que pegavam o ônibus com ele me contaram que ele estava agindo de um modo muito estranho e tinha até pedido para ser transferido de turno — relata.
Casa onde matador confesso vivia foi demolida
Os proprietários da casa onde morava o estuprador confesso de Naiara decidiram demolir o imóvel – onde o crime teria ocorrido – na última sexta-feira (23). Em depoimento à polícia, a mulher falou que desconhecia os crimes confessados pelo marido. Ela mudou-se para outro lugar .
Inicialmente, Pimentel foi levado para o Presídio Regional de Caxias, mas foi transferido no dia seguinte para uma outra penitenciária do Estado.
Segundo o delegado que conduz o caso, Caio Márcio Fernandes, as equipes vão trabalhar no inquérito sobre o abuso que Juliano confessou ter cometido em outubro do ano passado contra uma menina que à época tinha oito anos e, na sequência, concluirão a investigação sobre o caso Naiara.
Ao finalizar o primeiro procedimento, a polícia pedirá a prisão preventiva, o que deve garantir que o estuprador confesso fique preso até o julgamento. Ele deve ser indiciado por estupro de vulnerável, homicídio qualificado e ocultação de cadáver. A pena é aumentada por se tratar de vítima criança.
Após o caso de 2017, o Instituto-Geral de Perícias fez um retrato falado do suspeito com base na descrição da vítima. Porém, não houve denúncias a partir da divulgação, mesmo Juliano tendo uma característica física peculiar, o estrabismo.
Cronologia da tragédia
—Naiara Soares Gomes, sete anos, desapareceu no dia 9 de março, no caminho para a escola, em Caxias do Sul.
—Naquele dia, Naiara saiu acompanhada de um primo de 15 anos em direção à Escola Municipal Renato João Cesa, onde estudam, a dois quilômetros de distância da residência.
—Ambos seguiram juntos por uma quadra, onde o rapaz ficou para esperar a namorada que seguiria para outro colégio. A partir dali, Naiara seguiu o caminho sozinha, mas não chegou ao destino e desapareceu.
—Logo nos primeiros de dias de investigação policial, foram divulgadas imagens de câmeras de monitoramento que registraram grande parte do trajeto percorrido pela menina.
— A última imagem captada de Naiara mostra a criança em um ponto da Rua Júlio Calegari, perto da Rua Mozart Perpétuo Monteiro, a 300 metros da escola, atravessando a rua. Eram 7h11min. Depois disso, não havia mais rastros.
—Duas testemunhas ouvidas pela polícia disseram ter visto naquele mesmo ponto a criança perto de um carro branco. A investigação obteve imagens de um veículo dessa cor manobrando de forma suspeita na Rua Mozart Perpétuo Monteiro, mas Naiara não aparecia na cena. Ainda assim, o possível rapto passou a ser a principal linha de investigação.
— Após alguns dias sem novidades, o caso teve desfecho trágico na quarta-feira (21). Após conseguir identificar a placa do veículo, um Palio, a polícia identificou o suspeito.
— Ao ser detido, segundo o delegado regional Paulo da Rosa, Juliano
Vieira Pimentel, 31 anos, admitiu ter raptado, estuprado e matado Naiara.