Quando perceberam um tumulto no fim da longa fila para um restaurante universitário (RU), no Centro Histórico de Porto Alegre, às 12h40min desta segunda-feira (6), os estudantes que estavam na Rua Avaí correram em direção à Avenida João Pessoa.
— É um arrastão, é um arrastão — gritavam.
As lojas no entorno se tornaram ponto de abrigo para quem gritava por socorro e tentava se proteger. Comerciantes assustados chegaram a fechar as portas. Em meio ao tumulto, um jovem, de 19 anos, sentou-se em frente a um dos prédios. Uma marca de sangue no peito indicava o local onde ele acabara de ser esfaqueado por um ladrão.
O rapaz, estudante de Design na UFRGS, era o penúltimo da fila no momento em que dois criminosos teriam se aproximado. Um dos assaltantes teria tentado roubar a bolsa de uma mulher e em seguida o celular de outro jovem. O universitário, que acabaria ferido, teria sido o terceiro a ser abordado. Ele chegou a guardar o celular e quando se virou foi esfaqueado próximo do coração. A dupla fugiu sem levar nada.
O local onde o jovem foi alvo do criminoso fica perto de uma parada de ônibus utilizada com frequência pelos estudantes. A área, segundo moradores e comerciantes, é ponto frequente de assaltos a pedestres. Algumas jovens se esconderam na loja de Kenni Araújo, 43 anos.
— Entraram correndo assustadas dizendo que era um arrastão — relatou.
Vítimas precisam registrar crimes, explica oficial
Do outro lado da rua, o jovem ferido no peito aguardava pela chegada de uma equipe do Samu. Assustado, o rapaz não conseguia contar à policial militar que atendia a ocorrência o que havia acontecido. Um amigo disse à Brigada Militar que os dois estavam juntos no momento em que foram abordados pelos criminosos que queriam celulares e dinheiro. Os PMs fizeram buscas por imagens para identificar os autores.
O jovem ferido seguia internado até a noite desta segunda-feira (6) no Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde passou por cirurgia. Em estado estável, respirava sem ajuda de aparelhos. Por nota, a UFRGS afirmou que está acompanhando a situação e encaminhou uma assistente social e uma psicóloga ao hospital para prestar auxílio ao universitário e seus familiares. A assessoria ainda informou que pretende abrir novo refeitório, na Avenida André da Rocha, para diminuir o tamanho das filas e que são mantidos seguranças no entorno do RU.
Comandante do 9º BPM, o tenente-coronel Eduardo Amorim esteve no local após o crime. Segundo o oficial, apesar dos relatos sobre assaltos frequentes na área, não havia registros recentes de roubos da Rua Avaí.
— O que nos preocupa é que as pessoas estão sendo vítimas e não estão informando a Brigada Militar. A partir dessa constatação, vamos modificar nosso procedimento na área.
"Ele agradeceu estar vivo", diz pai de vítima
O pai do jovem esfaqueado, que mora no bairro Partenon, diz que o estudante relata com frequência assaltos nas proximidades da UFRGS. Há três semestres no curso, o rapaz foi alvo de ladrões três vezes.
— Todo dia ele relata que um colega foi assaltado na faculdade ou entorno — conta.
O projetista, de 42 anos, disse que filho conversou com ele momentos depois do procedimento cirúrgico.
— Quando entrei lá (no hospital), ele só agradeceu por estar vivo e disse que nos ama muito — diz.
Mãe viu filho ser ferido em assalto na mesma rua
Quando deparou com o jovem esfaqueado sendo amparado por outros estudantes, uma moradora da Rua Avaí sentiu outra vez o terror que passou na manhã de 25 de julho. A imagem fez com que ela recordasse do filho, esfaqueado no mesmo lugar. O jovem, que tem a mesma idade do estudante ferido, é aluno da UFRGS e precisou ficar seis dias hospitalizado após ser atingido no peito. A aposentada, de 53 anos, retornava da parada de ônibus, na Rua Sarmento Leite, onde tinha ido levar o filho, quando viu os estudantes correndo. Assustada, jogou-se para dentro da primeira loja que viu aberta.
— Tinha uma fila enorme de alunos. Começaram a correr, atravessavam a rua. Era cena de horror.
Quando saiu da loja, cerca de cinco minutos depois, viu o rapaz que havia sido esfaqueado.
— É como se eu visse o meu filho ali outra vez.
Na manhã em que o filho foi ferido, a moradora estava junto. Chegou a argumentar com o assaltante que o jovem não tinha celular. O aparelho havia sido roubado algumas semanas antes.
— Chamem a polícia então — teria respondido o criminoso. O filho dela já estava ferido com uma facada no peito.
Após o assalto, o rapaz passou a andar de táxi ou de carona com os pais. Nos últimos dias, voltou a circular de ônibus, somente durante o dia. A família acreditava que o horário ainda era seguro, por conta da circulação de estudantes nas proximidades.
— Imagina agora, com um rapaz esfaqueado ao meio-dia. Estou apavorada. Isso tem de parar, de alguma forma.