Marcio F. Chedid (*)
A colelitíase (cole = bile, lithos = pedra, em grego) é o nome científico da doença popularmente conhecida como "pedra na vesícula". É uma das doenças mais prevalentes no Brasil e no mundo (até 20% dos adultos brasileiros sofrem ou sofrerão dela). Pode causar diversos sintomas: dor abdominal, distensão (inchaço) abdominal, náuseas e vômitos. Porém, em muitos casos essa doença é silenciosa.
Causas e prevenção
A vesícula biliar é um pequeno órgão em forma de saco, com sete a 15 centímetros, localizada próximo ao fígado que armazena a bile. Logo após as refeições, ela expulsa a bile para os canais biliares, e, desses, ao duodeno (início do intestino delgado). A bile dissolve as gorduras dos alimentos na digestão.
O surgimento dos cálculos biliares está relacionado ao desequilíbrio dos componentes da bile, principalmente colesterol e sais biliares. Há diversos fatores de risco para o surgimento dos cálculos. Alguns desses fatores (por exemplo, obesidade e colesterol alto) podem ser prevenidos através de dieta saudável. Outros fatores são a idade avançada, o sexo feminino e o fato de a mulher já ter gestado.
Riscos da colelitíase
Os cálculos da vesícula biliar apresentam tamanhos variáveis (de 2mm até 10cm). Quando a bile é expelida pela vesícula em direção ao intestino delgado, os cálculos pequenos podem ficar trancados no interior dos canais biliares maiores, obstruindo a passagem da bile para o intestino. Isso pode gerar icterícia (amarelão de pele e olhos).
Em alguns casos, também pode ocorrer infecção grave no interior dos canais biliares (colangite), a qual apresenta perigo de morte. Como se não bastasse, também pode ocorrer represamento do suco pancreático no interior do pâncreas e ocasionar inflamação do pâncreas (pancreatite aguda), também potencialmente letal.
Os cálculos biliares maiores também podem desencadear graves consequências. A inflamação aguda da vesícula biliar (colecistite aguda) é uma dessas complicações da colelitíase e demanda cirurgia de remoção da vesícula (colecistectomia) em regime de urgência.
Outra grave complicação da colelitíase com cálculos grandes (maiores que 2cm de diâmetro) é risco de surgimento de câncer na vesícula biliar, um dos cânceres mais agressivos que existe.
Tratamento
A remoção cirúrgica da vesícula biliar (colecistectomia) é o único tratamento que pode curar as pedras da vesícula. Há muitos anos, a colecistectomia é realizada por método laparoscópico (colecistectomia videolaparoscópica). Os não médicos chamam de laser, mas não é por laser e sim por videolaparoscopia, sob anestesia geral, através de quatro pequenas incisões (pequenos furos, com inserção de uma câmera). São duas incisões de 1cm de diâmetro e mais duas incisões de 0,5cm. Esse procedimento tem cerca de uma hora de duração e apresenta baixo risco quando realizado por cirurgião geral habilitado. Na maioria dos casos, o paciente tem alta em seis a 12 horas após o procedimento. Buscar tratamento cirúrgico precoce para a colelitíase previne complicações e salva vidas.
(*) Cirurgião geral e oncológico, professor de Pós-Graduação em Medicina da UFRGS
Parceria com a Academia
Este artigo faz parte da parceria firmada entre ZH, GZH e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM). A estreia foi em março de 2022, com a reportagem "Câncer: do diagnóstico ao tratamento", e já foi renovada para mais uma temporada. Uma vez por mês, o caderno Vida vai publicar conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos integrantes da entidade, que completou 30 anos em 2020 e atualmente conta com cerca de 90 membros e é presidida pela endocrinologista Miriam da Costa Oliveira, professora e ex-reitora da UFCSPA. De diversas especialidades (oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia, otorrinolaringologia etc), esses profissionais fazem parte do Programa Novos Talentos da ASRM, que tem coordenação de Rogério Sarmento Leite e no qual são acompanhados por um tutor com larga experiência na área.