Especialistas estimam que pelo menos 80% da população sexualmente ativa no mundo tenham o Papilomavírus Humano (HPV, na sigla em inglês). Transmitida durante relações sexuais, doença apresenta poucos sinais, podendo levar meses – ou até anos – para desenvolver lesões na pele e desencadear diferentes tipos de câncer, sendo o mais comum o de colo de útero.
O Ministério da Saúde aponta que existem mais de 150 variantes do vírus, dos quais os tipos seis, 11, 16 e 18 são os mais comuns na população e apresentam maior potencial de desenvolvimento cancerígeno. Chefe do serviço de Coloproctologia da Santa Casa de Porto Alegre, o médico Daniel Azambuja explica a maior incidência destas cepas do vírus.
— O não tratamento do HPV e a falta de uma avaliação adequada podem fazer com que ele se desenvolva para um câncer. Os mais comuns são do colo do útero, especialmente em mulheres, e outros nas regiões genitais, como de vagina, vulva, pênis e ânus. Existem alguns tipos do vírus mais relacionados com o câncer, o 16 e o 18. Eles são diferenciados por alterações genéticos do DNA do vírus.
Infectologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a médica Rafaela Rocha destaca que, embora os casos predominantes de cânceres causados pelo vírus sejam de colo de útero, mais comum em mulheres, a doença também pode desencadear câncer de pênis e em canal anal em homens. Para Azambuja, os altos números de infectados pelo vírus se explicam pela ausência de sinais da doença. As verrugas e lesões genitais, sintomas mais característicos do HPV, podem levar meses e até anos para ser perceptíveis.
— Surgem verrugas, próximas da região genital, que podem dar um pouco de coceira e até sangramento. Se não tratar, essas verrugas vão crescendo e aumentam os riscos de desenvolvimento de algum câncer. São lesões que podem levar meses e até anos para se desenvolver, geralmente ocorre em um momento específico, como baixa da imunidade. Às vezes pode demorar para dar sinais e pessoa transmite sem ter algo (lesão) aparente ou saber que tem o vírus — explica.
O vírus é sexualmente transmissível e pode ser contraído mesmo que não ocorra penetração na relação. A contaminação acontece a partir do contato com secreções genitais de alguém já infectado pelo vírus.
— A disseminação é local, em locais com mucosa, como o pênis e a vagina. Existem casos de mucosa oral. A transmissão se dá por contato sexual ou pelas secreções, não é restrito à penetração — diz.
Por isso, Azambuja alerta que é importante ficar atento a lesões nas regiões íntimas do parceiro antes da relação e, caso identifique algo, “cuidar e evitar” o contato. Como prevenção prévia, é indicado o uso correto de preservativos – seja masculino ou feminino – e a realização regular de exames, como papanicolau e avaliação médica de possíveis lesões.
Rafaela Rocha alerta que o uso da camisinha é importante na prevenção à doença, mesmo que não seja 100% eficaz:
— Embora não proteja 100%, a camisinha é uma forma importante de prevenção não só para o HPV, mas para outras Infecções Sexual Transmissíveis. Estas outras ISTs danificam e propiciam o risco de outras infecções, como o HPV.
Diagnóstico e tratamento
Há tratamentos eficazes para evitar o desenvolvimento da doença para casos mais sérios, como em cânceres. Quando diagnosticado com HPV e com o surgimento das verrugas, o paciente pode ser submetido a uma série de procedimentos. Eles variam conforme o caso e ajudam a frear a progressão da infecção no organismo.
Entre os métodos, Azambuja revela que a verruga pode ser “cauterizada com laser” ou passar por crioterapia – processo que congela a ferida. Outras opções que antecedem estes procedimentos fazem uso de pomadas e aplicação constante de ácido tricloroacético, durante semanas e até meses. Apesar do tratamento frear o desenvolvimento das lesões, elas podem voltar a surgir futuramente.
— É importante ficar atento e fazer os cuidados de prevenção ao câncer, tratar as verrugas quando surgem — frisa
Vacinação
Não obrigatória e disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos postos de saúde do Brasil, a vacina contra o HPV tem como foco as duas variantes do vírus que mais resultam no desenvolvimento de algum câncer: os tipos 16 e 18. A aplicação dos imunizantes concentra-se em crianças e adolescentes.
— O uso é indicado em crianças a partir dos nove anos, seja menina ou menino. É uma fase antes da idade sexual, um período que se consegue ter mais certeza que não existe relação sexual. A vacina pode ser o grande divisor de águas no futuro para diminuir essa incidência tão alta — explica Azambuja.
O imunizante estimula o desenvolvimento de anticorpos e, caso ocorra infecção, os casos tendem a ser mais leves e menos perigosos.
Rafaela destaca a vacina como a principal forma de prevenção para crianças e adolescentes que ainda não tiveram contato com o vírus, mas ressalta que o uso também é indicado para outras faixas etárias.
A aplicação é indicada pelo Ministério da Saúde para estes grupos:
- Vítimas de abuso sexual de nove a 14 anos (homens e mulheres) que não tenham recebido a vacina HPV ou estejam com esquema incompleto. Administrar conforme a indicação da situação vacinal uma ou duas doses
- Vítimas de abuso sexual de 15 a 45 anos (homens e mulheres) que não tenham tomado a vacina HPV ou estejam com esquema incompleto. Administrar conforme a indicação da situação vacinal, completando três doses da vacina HPV (0, dois, seis meses)
- Meninas e meninos de nove a 14 anos, com esquema de duas doses. Adolescentes que receberem a primeira dose dessa vacina nessas idades poderão tomar a segunda dose mesmo se ultrapassado os seis meses do intervalo preconizado, para não perderem a chance de completar o seu esquema
- Mulheres e homens que vivem com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos na faixa etária de nove a 45 anos, com esquema de três doses (0, dois, seis meses) , independentemente da idade
- A vacina não previne infecções por todos os tipos de HPV, mas é dirigida para os tipos mais frequentes: seis, 11, 16 e 18
* Produção: Lucas de Oliveira