Correção: o serviço sobre a vacinação contra o HPV no SUS, como público-alvo e faixa etária, foi informado equivocadamente entre 14h36min de 20 de março e 7h30min de 21 de março. O texto já foi corrigido.
Consultas e exames ginecológicos preventivos acompanham as mulheres por toda a vida. Uma das ameaças mais conhecidas, tema da campanha de conscientização Março Lilás, é o câncer de colo de útero. Trata-se do terceiro tipo de câncer mais comum entre a população feminina (excluindo-se o câncer de pele não melanoma), atrás dos tumores de mama e colorretal. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer, ligado ao Ministério da Saúde, é de que surjam 17 mil novos casos da doença no Brasil em 2023.
O colo do útero é a parte do útero que fica dentro da vagina (o restante se localiza na pelve). O câncer nessa região é provocado pela infecção persistente de alguns tipos de papilomavírus humano (HPV, a partir da sigla em inglês), capazes de infectar pele e mucosas. São mais de 200 tipos (cepas) de HPV, mas os oncogênicos, ou seja, aqueles que podem provocar câncer, restringem-se a 12. O HPV também pode causar tumores em outros locais, como vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.
A boa notícia é que se pode prevenir a doença. Um dos pilares do cuidado é a vacinação. Disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014, a vacina contra o HPV deve ser tomada por meninas e meninos de nove a 14 anos. Pacientes imunossuprimidos, que têm alguma deficiência no funcionamento do sistema de defesas do organismo, estão em uma faixa etária mais ampla para receber a imunização nos postos de saúde: de nove a 45 anos. Clínicas privadas também dispõem da vacina. Acaba de chegar à rede particular do Brasil a dose nonavalente contra o HPV, que previne contra nove tipos do vírus.
— O HPV de alto risco é o fator mais comum. Tem vários tipos de HPV, nem todos provocam câncer. E nem sempre a mulher que tem contato com o HPV terá câncer. Pode ter HPV e nunca ter câncer. Aí que vem a prevenção — explica Fernanda Niederauer Uratani, ginecologista e obstetra da Santa Casa de Porto Alegre e membro da diretoria da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul e da Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia — Capítulo RS.
Geraldine Eltz de Lima, oncologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e do Grupo Oncoclínicas, complementa:
— Cerca de 80% das mulheres já tiveram contato com o HPV. Todo mundo na vida vai ter algum contato. Em casos rápidos, você contrai o HPV, o organismo o combate e você fica livre do vírus, sem saber. O homem tem menos sintomas, geralmente nenhum, e a mulher desenvolve verrugas.
A ampla vacinação é fundamental — e responsável pela queda no número de ocorrências em países como a Austrália —, somada a outros dois pilares da prevenção, também muito necessários: realização de exames de rastreio e uso de camisinha. Nas consultas anuais ao ginecologista, as pacientes passam pela coleta do papanicolau, que localiza lesões pré-malignas.
— É possível tratar as lesões para que não virem câncer. Se houver alguma alteração, a paciente começa a fazer outros exames, como, por exemplo, a colposcopia, que coleta matéria para biópsia — acrescenta Fernanda.
O papanicolau, de acordo com orientações vigentes, deve ser feito a partir dos 25 anos e até os 65 anos, anualmente. Se a paciente chegar a três resultados negativos consecutivos, a coleta pode passar a ser feita a cada três anos. Mulheres imunocomprometidas devem manter o rastreio anual. A consulta de revisão ao ginecologista precisa ser mantida, mesmo com resultados negativos.
— A prevenção depende de vacinação em massa, rastreio e uso de camisinha. O problema é que o Brasil tem uma baixa cobertura vacinal. A aplicação da segunda dose já diminui bastante, as crianças não voltam para recebê-la. É importante conscientizar os pais sobre a vacinação dos filhos para que criem imunidade — observa Fernanda.
Sintomas e tratamento
Se a biópsia das lesões no colo de útero indicar câncer, o ginecologista pode solicitar um check-up completo da paciente ou encaminhá-la para um oncologista. O objetivo é verificar se a doença se disseminou para outras partes do corpo. No caso de a doença estar em fase bem inicial, o ginecologista, se habilitado para isso, pode fazer a retirada cirúrgica da porção comprometida.
Tudo dependerá de avaliação individual. Em geral, quando o câncer está um pouco maior, pode ser necessária a histerectomia, que é a retirada do útero. Se a paciente deseja ter filhos, tenta-se preservar o órgão, o que nem sempre é possível.
Os sintomas variam conforme o estágio da doença. Em geral, lesões muito pequenas não apresentam sinais. Se houver algum, já é indício de que a doença avançou. O principal, segundo Geraldine, é o sangramento vaginal, levando a paciente a acreditar que seu fluxo menstrual mudou. Também pode ocorrer secreção vaginal com muco e cheiro diferentes, além da presença de sangue. Outros possíveis sinais são sangramento ou dor durante a relação sexual, dor pélvica persistente ou recorrente.
Um caso de câncer de colo de útero pode apresentar mais ou menos sintomas. Em fases adiantadas, poderá invadir a bexiga e o intestino, causando sangramento na urina, dificuldade de evacuar e presença de gânglios na virilha.
Quando houver cirurgia, os passos a seguir dependem do resultado dessa intervenção.
— Pode-se acompanhar ou, às vezes, é preciso fazer algum tratamento local, como radioterapia ou radioterapia e quimioterapia. Tumores de quatro, cinco, seis centímetros já são muito grandes, não dá para fazer cirurgia, pois teria que tirar muita estrutura. Aí vai direto para rádio e quimioterapia — exemplifica Geraldine.
Os tratamentos podem afetar a fertilidade da paciente. Quando ela é muito jovem, ainda sem filhos, recomenda-se uma avaliação com profissionais da área, que podem sugerir o congelamento de óvulos.
Câncer de colo de útero
- É causado pela infecção persistente por alguns tipos do papilomavírus humano, chamados de tipos oncogênicos
- A infecção genital pelo HPV é muito frequente e, na maioria das vezes, não causa doença
- Em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para câncer
- Essas alterações são descobertas durante a realização do exame preventivo, conhecido também como papanicolau. São curáveis, na quase totalidade dos casos
- O papanicolau deve ser feito anualmente
- Excetuando-se o câncer de pele não melanoma, o câncer de colo de útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina, atrás dos cânceres de mama e colorretal
Fonte: Ministério da Saúde