O câncer de mama é uma das doenças que mais assombra mulheres ao redor do mundo. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de 66,2 mil novos registros da doença por ano, podendo afetar a população masculina também. Para falar em cura ou remissão desse tipo de câncer, diagnóstico e tratamento são palavras chave.
Uma das únicas formas de prevenir o câncer de mama é realizando a mamografia com frequência. Para as mulheres de 50 a 69 anos, o recomendado pelo Ministério da Saúde é que o exame seja feito a cada dois anos. Isso possibilita o diagnóstico precoce, essencial para identificar o tumor em estágios iniciais, quando ainda não há metástase. Já para os homens, não existe estratégia de rastreamento, e os tumores costumam ser diagnosticados em estágios mais avançados.
O tipo, estágio e tamanho do tumor são informações importantes para decidir qual tratamento é mais recomendado. A médica oncologista e professora do curso de Medicina da Universidade Feevale Daniela Lessa da Silva explica que as preferências e a condição de saúde da paciente também devem ser levadas em consideração.
— O planejamento do tratamento oncológico é fundamental. A paciente tem que compreender bem os riscos e benefícios das opções de tratamento para poder tomar uma decisão estando bem informada. É um momento difícil, então, às vezes, o paciente está tão angustiado que ele não entende o que está sendo explicado. Uma boa ideia é ter um familiar ou amigo próximo que possa acompanhar as consultas para ajudar. Mas é importante que o paciente entenda as perspectivas de cura, os efeitos adversos e saiba a quem recorrer — pontua.
Daniela enfatiza, ainda, que o desejo do paciente deve ser respeitado, dentro das possibilidades da situação. Se, para um caso específico, há duas opções de tratamento, o paciente deve estar bem informado para decidir qual realizar.
— O tratamento é individualizado e o paciente tem que ter sua autonomia respeitada. Se o paciente prefere um tipo de tratamento, porque, para ele, as perdas e ganhos fazem sentido, temos que respeitas. Já tive pacientes que não toleravam a ideia de queda de cabelo, então adequei o tratamento para essa situação — conclui a especialista.
Tipos de tratamentos para câncer de mama
Cirurgia
A cirurgia é uma das opções de tratamento mais comuns e o objetivo é a retirada do tumor. Em alguns casos, os pacientes podem optar por fazer a cirurgia e depois continuar a tratar a doença com terapias complementares, como a quimioterapia, por exemplo. Em outros, pode ser feito o caminho contrário, iniciando com tratamentos complementares e, depois, partindo para a cirurgia.
— Há duas formas de fazer. A cirurgia pode ser conservadora, também conhecida como quadrantectomia, tira só um pedaço da mama, apenas onde o tumor está localizado. Já a mastectomia, que é aquela que a Angelina Jolie fez de forma preventiva, tira a mama toda — diferencia a médica oncologista do Hospital Moinhos de Vento e professora do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Daniela Dornelles Rosa.
Até o estágio III, a intenção do tratamento é curar. No estágio IV, a intenção é controlar a doença
DANIELA DORNELLES ROSA
Médica oncologista
Ao contrário do imaginário popular, o tipo de cirurgia não está relacionado com a gravidade do câncer. Rosa conta que, primeiramente, é importante descobrir qual cirurgia é a mais adequada para o caso. Se as duas são opções válidas, os profissionais decidem o tipo de procedimento levando em consideração os tamanhos da mama e do tumor.
— Não abrimos mão do tratamento cirúrgico, exceto em situações avançadas. Quando a paciente tem uma doença metastática, muitas vezes, o tratamento local não vai agregar no resultado final de expectativa de vida — acrescenta Silva.
O câncer de mama tem cinco estágios, do 0 ao IV. Nos dois estágios iniciais, o tumor é pequeno e ainda não se disseminou no linfonodo sentinela, gânglio linfático que atua filtrando substâncias nocivas. Nos estágios II e III, o câncer já está maior e disseminando-se pelo linfonodo sentinela. O estágio IV é o da metástase, quando o tumor já se espalhou para outros órgãos.
— Até o estágio III, a intenção do tratamento é curar. No estágio IV, a intenção é controlar a doença e esse controle pode acontecer por muitos anos — pontua Rosa.
Quimioterapia
Esse é um dos tratamentos mais conhecidos – e temidos – para o câncer. Por meio de medicamentos, a quimioterapia mata células que se multiplicam com agilidade, impedindo que elas se espalhem pelo corpo e, consequentemente, que o câncer cresça. O tratamento costuma ser feito em ciclos de 7, 14 ou 21 dias, com medicação oral ou intravenosa.
— O problema é que a quimioterapia também mata as células benignas que se multiplicam rápido. É isso que causa alguns dos efeitos adversos conhecidos, como a queda de cabelo e as aftas na boca — afirma a médica do Moinhos de Vento.
A quimioterapia é indicada para tumores a partir de 1 cm. Antes da cirurgia, ela serve para reduzir o tamanho do tumor. Depois da cirurgia, pode ajudar a matar as células cancerígenas que sobraram. Além da queda de cabelo, outros efeitos colaterais conhecidos ~são baixa imunidade, fraqueza, dores, náuseas e vômito.
— Um dos maiores medos dos pacientes é a quimioterapia. Muitas pessoas associam o tratamento ao sofrimento, porque tem perdas importantes — relata Silva.
As especialistas salientam que a quimioterapia é um tratamento mais a longo prazo, podendo durar meses.
Radioterapia
Com ajuda de radiações ionizantes, a radioterapia busca destruir as células cancerígenas ou impedir que elas se multipliquem, impossibilitando o crescimento do tumor. O paciente fica em um equipamento como o de fazer raio x, por exemplo, que emite radiações direcionadas para a mama.
— É um tratamento mais local do que a quimioterapia, por exemplo. E é utilizado em determinadas situações. Quando o câncer está em algumas áreas ou o paciente já fez cirurgia para tirar, a radiação pode contribuir para destruir as células malignas — explica a professora da UFRGS.
Imunoterapia
Esse tratamento busca combater a doença por meio do sistema imunológico do paciente. Com o uso de medicamentos, o organismo do paciente pode auxiliar a destruir as células cancerígenas, possibilitando a eliminação da doença. Os anticorpos monoclonais, um tipo de medicamento utilizado, se ligam nos receptores das células malignas para atacá-las. A imunoterapia é recomendada para pacientes que tenham câncer de mama triplo negativo, ou seja, que não tem receptor de estrogênio, progesterona e her2.
— A imunoterapia é uma novidade para o tratamento de câncer de mama. Já é usado para outros tipos de câncer e, neste caso, teve bastante avanço e mudanças no último ano. Ainda não está prevista no Sistema Único de Saúde (SUS), já que são medicamentos com valor agregado alto. Mas o medicamento já está autorizado para uso em pacientes com convênios de saúde — acrescenta Silva.
Entre os efeitos adversos estão baixa imunidade, problemas na tireoide e no intestino.
Hormonioterapia
Bastante comum, a hormonioterapia funciona com ajuda de comprimidos que buscam bloquear os receptores hormonais do câncer de mama, impedindo o crescimento do tumor. Os efeitos colaterais vão desde a perda de massa óssea até sintomas semelhantes aos da menopausa, como ressecamento vaginal, por exemplo.
— Pode ser usado em dois cenários. Ou quando o paciente já curou e está prevenindo, ou quando o câncer já existe e pode ser bloqueado ou desaparecer por completo com o tratamento — explica Rosa.
*Produção: Yasmim Girardi