Assim como em muitas doenças, o diagnóstico precoce do câncer de pulmão é fundamental para um tratamento bem sucedido. No entanto, os sintomas não costumam aparecer em fases iniciais, o que dificulta a descoberta e é um dos motivos de 75% dos casos serem diagnosticados apenas em estágios avançados da doença. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), são diagnosticados cerca de 31 mil casos de câncer de pulmão e uma média de 27 mil mortes pela doença são registradas por ano no Brasil.
Conforme a doença avança, os sintomas mais comuns que surgem são tosse prolongada, perda de peso repentino, dor no tórax, presença de sangramento na expectoração (expulsão de catarro proveniente da traqueia, brônquios e pulmões por meio da tosse), falta de ar e cansaço fácil.
O câncer de pulmão é uma doença que se caracteriza pela multiplicação desordenada de células do órgão. Na maioria das vezes, são células que fazem parte do revestimento dos brônquios e dos alvéolos com crescimento anormal que passam a causar a formação de uma massa, como também a invasão de estruturas locais. Além disso, com o desprendimento dessas células através da corrente sanguínea, existe a possibilidade do avanço da doença para outros órgãos, quando acontece a chamada metástase.
O câncer de pulmão é dividido em dois grandes grupos, o de células pequenas e o de células não pequenas. O segundo tipo é o mais comum e corresponde a cerca de 80% dos casos. Dentro desta categoria mais recorrente existem outros subtipos, o adenocarcinoma e o carcinoma de células escamosas são mais frequentes, respectivamente.
Confira como diagnosticar, tratar e quais as causas do câncer de pulmão
Diagnóstico
De acordo com o pneumologista e coordenador da Comissão de Câncer de Pulmão da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Gustavo Prado, a principal medida para descobrir a doença nos primeiros estágios é manter a rotina de exames em dia, ainda mais se você se expõe a algum fator de risco como fumar, por exemplo. Se você ainda não faz um acompanhamento médico, o surgimento de queixas respiratórias prolongadas ou que impactam muito na qualidade de vida devem ser sinais de alerta para buscar um profissional.
— Existe uma certa estigmatização do câncer que faz com que alguns pacientes não procurem o diagnóstico por acreditar que não teria possibilidade de tratamento. E que de certa forma ele seria responsável por adoecer já que o tabagismo é um fator de risco. Então, alguns pacientes têm essas barreiras culturais relacionadas à estigmatização da doença e a sensação de culpa que acabam adiando a procura por um médico — explica o pneumologista.
Ainda segundo Prado, o diagnóstico também pode ser antecipado através do rastreamento da doença. Nessas estratégias são realizados exames em pessoas com fatores de risco ainda antes da manifestação dos sintomas. Pessoas com mais de 50 anos que fumam ou já fumaram em algum momento da vida são as mais indicadas para conferir a indicação de fazer o rastreamento do câncer de pulmão.
Os passos até a confirmação da existência da doença começam sempre com uma suspeita clínica ou com o rastreamento e segue com um exame de tomografia de tórax, onde é avaliada a presença de qualquer anormalidade. Se constatada qualquer tipo de massa irregular, o tecido precisa passar por uma biópsia para confirmar o câncer de pulmão e identificar seus tipos e subtipos. As etapas seguintes são fazer exames que avaliam o estadiamento para indicar o grau de avanço da doença.
Tratamento
As chances de cura e tempo de sobrevida variam muito de acordo com o tipo e subtipo do tumor e conforme o estágio que é diagnosticado. Doenças descobertas no início podem ter até 90% de sobrevida em cinco anos, segundo o pneumologista, que reforça que em qualquer momento de descoberta existem opções de tratamento.
Cirurgia, radioterapia, quimioterapia, uso de novas moléculas, imunoterapia ou a combinação de alguns desses tratamentos podem ser indicados para o paciente. A definição dos recursos terapêuticos que serão utilizados é feita após uma avaliação multidisciplinar de times formados por profissionais de diferentes especialidades.
— Hoje em dia, quando a gente faz o diagnóstico de câncer de pulmão, precisa saber nome, sobrenome e muito além disso, precisamos saber também da expressão de alguns marcadores do tumor e sobre algumas alterações genéticas que esse tumor pode carregar. É com base nesses painéis que a gente vai escolher o melhor tratamento porque não há um tratamento que sirva pra todos — detalha Prado.
Causas
Ainda de acordo com o pneumologista e coordenador da Comissão de Câncer de Pulmão da SBPT, a causa de 80% dos diagnósticos de câncer de pulmão é o tabagismo. No entanto, a exposição à poluição ambiental e o contato com substâncias carcinogênicas, como o amianto, também são fatores de risco que aumentam a chance de desenvolver a doença.
— E não só a exposição ativa, seja com o consumo de cigarro, charuto, cachimbo e todas as formas de consumo de tabaco, mas também a exposição passiva à fumaça do cigarro. Ou seja, quando a pessoa convive ou divide o local de trabalho com algum fumante — explica Prado.
Para tentar prevenir o surgimento do câncer de pulmão, o pneumologista orienta que não existe melhor forma do que parar de se expor a fatores de risco.
— Em qualquer época da vida que a pessoa parar de fumar ela reduz o risco de adoecimento e de óbito por doenças respiratórias, cardiovasculares e diversos tipos de câncer, não só o de pulmão — completa.
*Produção: Rochane Carvalho